Israel se cala diante da onda de violência contra palestinos

O governo israelense reluta em condenar ataques perpetrados por colonos israelenses, temendo que isso afete o apoio nas eleições

9 fev 2019 - 12h26
(atualizado às 12h26)

AL MUGHAYIR, CISJORDÂNIA - Uma gangue de colonos judeus armados desceu de um posto avançado nas colinas até a aldeia palestina logo abaixo e abriu fogo, segundo testemunhas. Soldados israelenses chegaram ao local, mas as testemunhas contam que em vez de obrigarem os colonos a parar, ficaram assistindo ou entraram em confronto com os aldeões. Na confusão, Hamdy Naasan, 38, palestino e pai de quatro filhos, foi baleado e morreu.

Corpo do adolescente palestino Hassan Shalabi, 14, morto durante protesto na fronteira entre Israel e Gaza, é carregado durante funeral na região central de Gaza.
Corpo do adolescente palestino Hassan Shalabi, 14, morto durante protesto na fronteira entre Israel e Gaza, é carregado durante funeral na região central de Gaza.
Foto: Ibraheem Abu Mustafa / Reuters

Sua morte, no final de janeiro, foi a mais recente em uma onda de violência dos colonos. Os ataques a palestinos, às suas propriedades e às forças de segurança israelenses aumentaram 50% no ano passado e ameaçam deflagrar um conflito mais amplo na Cisjordânia, de acordo com representantes das forças de segurança israelenses.

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Dias antes, as autoridades israelenses acusaram um estudante Yeshiva (isto é, de escola religiosa) de 16 anos, que vivia em outro assentamento israelense, de assassinato, atos de terrorismo e de atirar a pedra de dois quilos que a palestina e mãe de oito filhos Aisha al-Rabi, em outubro, qualndo ela dirigia o carro da família em uma rodovia.

Embora autoridades palestinas e representantes das Nações Unidas tenham condenado a violência - o enviado da ONU ao Oriente Médio, Nickolay E. Mladenov, descreveu o conflito de Al Mughayir como "chocante e inaceitável" -, o governo de direita de Israel permaneceu em silêncio, temendo desagradar aos colonos e a outros possíveis partidários em um ano eleitoral.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que quer eleger-se para um quinto mandato, concorre com outros rivais de direita pelo apoio dos colonos. Ele enfrenta um inquérito por suborno, seu mais difícil desafio político dos últimos anos.

"Não matarás?", escreveu em uma mensagem no Facebook Tamar Zandberg, líder do partido de esquerda Meretz, destacando a clamorosa falta de uma condenação por parte das autoridades. "Silêncio. Todos veem as eleições no horizonte, e o lobby dos colonos é mais forte do que qualquer padrão moral".

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Por outro lado, depois que uma casa palestina da aldeia de Duma foi incendiada por uma bomba em 2015, matando um bebê e seus pais, Netanyahu e os líderes da direita emitiram violentas condenações e disseram que o terrorismo judeu não seria tolerado.

Desta vez, as vozes mais altas levantaram-se em defesa dos suspeitos judeus. A agência de segurança nacional de Israel, a Shin Bet, foi acusada por organizações de direita de atropelar os direitos dos suspeitos pelo apedrejamento. Um legislador do partido governista Likud comparou a Shin Bet à KGB. Quatro dos jovens acabaram liberados.

Há mais de dez anos jovens colonos radicais conhecidos como Juventude da Colina praticam a doutrina conhecida como "Price Tag", que exige cobrar um preço pela violência ou pelo vandalismo vingando ataques palestinos a judeus ou medidas da polícia ou do exército contra a atividade rebelde nos assentamentos.

Uma semana antes do ataque com pedra, um atirador palestino acertou dois trabalhadores israelenses em uma fábrica israelense na Cisjordânia. Em dezembro, dois ataques palestinos em uma estrada da Cisjordânia mataram dois soldados israelenses e feriram um terceiro e uma mulher grávida. A criança nasceu prematuramente e morreu três dias mais tarde. A polícia atribuiu em parte o aumento da violência dos colonos à recente abolição das restrições de alguns dos principais ativistas.

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As autoridades impuseram medidas contra o terrorismo depois de um ataque em Duma em 2015, e a revelação de uma rede militar nebulosa conhecida como A Revolta. O grupo quer o colapso do Estado de Israel e sua substituição por um reino israelense baseado na lei religiosa.

A Shin Bet mostrou os vínculos entre a yashivá frequentada pelo suspeito de ter atirado a pedra e a ideologia messiânica antissionista por trás da Revolta. Em um dormitório yeshivá, foram encontradas uma bandeira israelense com as palavras "morte aos sionistas" e uma suástica.

Os vínculos tornaram-se evidentes no dia depois da morte de Alisha, quando um carro partiu do assentamento de Yitzhar para treinar os estudantes a lidar com os interrogatórios da Shin Bet. Entre os ocupantes estavam Meir Ettinger, o suposto líder da Revolta, e Akiva HaCohen, considerado um arquiteto da política do Price Tag. O suspeito, cujo DNA foi encontrado na pedra negou qualquer envolvimento, segundo seus advogados.

O exército e a polícia israelenses estão investigando a morte de Naasan. Alguns colonos afirmaram que o confronto começou com um ataque contra um adolescente judeu que se encontrava no posto avançado dos colonos de Adei Ad no Sabbath.

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Durante o confronto, Farraj Naasan, 53, disse que Naasan, seu sobrinho, estava ajudando a evacuar os feridos. "Ele carregou o primeiro e o segundo. Quando subiu para pegar mais feridos, foi baleado", contou.

Naasan caiu a cerca de 45 metros da última casa da aldeia. Outra testemunha, Samir Abu Alia, 53, disse que os habitantes da aldeia tiveram de esperar 20 minutos, até que os tiros parassem, para recuperar o seu corpo.

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