Com a desaceleração da pandemia do novo coronavírus, a Itália começou a testar nesta terça-feira (14) as primeiras concessões nas medidas de isolamento impostas pelo governo, com a autorização para livrarias, papelarias e lojas de produtos para crianças reabrirem suas portas.
A permissão é válida para todo o país e está condicionada à implantação de medidas de higiene e distanciamento físico para evitar a disseminação do vírus, mas o que se vê, em uma nação com administração descentralizada, é que muitas regiões ainda estão relutantes em aderir à liberalização.
A Lombardia, epicentro da pandemia na Itália, manteve o veto a livrarias e papelarias, mas autorizou lojas de roupas para crianças, assim como a Campânia, no sul, que ainda limitou a abertura de negócios de vestuário infantil a duas vezes por semana, das 8h às 14h.
Já o Piemonte, no noroeste, e a ilha da Sardenha não fizeram nenhuma concessão, enquanto o Lazio, onde fica a capital Roma, adiou a reabertura de livrarias para 20 de abril. Na Emilia-Romagna, outro importante foco de contágio na Itália, o veto a essas atividades segue de pé apenas nas áreas com mais casos: as províncias de Piacenza e Rimini e a cidade de Medicina.
Livrarias
Em Campobasso, na região de Molise, sul da Itália, a livraria Molise Scuola decidiu reabrir por "espírito de serviço, e não olhando os lucros". "Queremos voltar a oferecer um serviço às famílias, à cultura em geral, cientes dos custos que devemos enfrentar", disse à ANSA o proprietário Paolo Spina.
A livraria de bairro prevê uma queda de 80% nas vendas, mesmo com a reabertura, e quer se equipar para o comércio eletrônico. "Queremos entregar o produto diretamente às famílias, mesmo em compras mínimas. Desse jeito, poderemos ser competitivos contra os colossos da distribuição", acrescentou o livreiro.
Em Florença, a concorrida capital da Toscana, a Booktique di Farollo e Falpalà, livraria infantil bastante conhecida na cidade, só receberá clientes com hora marcada. "Assim conseguiremos higienizar o local adequadamente entre um cliente e outro, evitar filas e aglomerações, inclusive fora da livraria, e experimentar um modelo que permita um recomeço seguro", diz a empresa.
Já a livraria Marabuk entregará os produtos para os clientes na porta, sem deixá-los entrar. "Precisamos entender como fazer a sanitização para não prejudicar os livros", disse um dos proprietários da loja.
Em Palermo, na ilha da Sicília, Piero Onorato, dono da livraria La Stanza di Carta, contou que uma ciclista parou em frente à vitrine, tirou uma foto e disse que a visita era uma desculpa para ela sair de casa sem desrespeitar as normas de isolamento. "Ela não comprou nenhum livro, não entrou na loja e foi embora", relatou.
Divisão
O Trentino Alto-Ádige, no extremo-norte da Itália, vive uma situação curiosa: apesar de ser uma das 20 regiões do país (o equivalente aos estados brasileiros), ele é formado por duas províncias que contam com alto grau de autonomia, Bolzano e Trento, e cada uma adotou um caminho diverso.
Em Trento, livrarias e lojas de vestuário infantil continuam fechadas, mas canteiros de obras foram reabertos. Já em Bolzano, única divisão administrativa do país onde os que têm o italiano como língua materna são minoria (o alemão é majoritário), os cidadãos podem sair para comprar livros e andar livremente pelo território de sua cidade.
Para isso, o uso de máscaras de proteção é obrigatório, bem como manter uma distância de pelo menos três metros para as outras pessoas.
Dados
O número de contágios pelo novo coronavírus na Itália chegou a 162.488, segundo balanço divulgado nesta terça-feira (14) pela Defesa Civil.
Isso representa um aumento de 1,9% em relação ao dia anterior, índice mais baixo desde o registro dos primeiros casos de transmissão interna no país, em fevereiro. Em termos absolutos, o crescimento foi de 2.972 contágios, menor cifra desde 13 de março, quando houve 2.547 infecções.
Já o número de mortes chegou a 21.067, após um acréscimo de 602 óbitos, alta de 2,9%. Na última segunda (13), o crescimento havia sido de 566 falecimentos (+2,8%).