O Itamaraty publicou neste domingo, 26, uma nota sobre a situação dos brasileiros deportados vindos dos Estados Unidos que chegaram ao País na última sexta-feira, 24. No documento, a pasta afirma que o uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos do acordo com os EUA, "que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados".
O ministério das Relações Exteriores reiterou que o governo brasileiro reuniu informações detalhadas sobre o "tratamento degradante" dado aos brasileiros algemados, nos pés e mãos, no voo de repatriação do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE). O avião, cujo destino final seria Belo Horizonte (MG), fez um pouso inesperado em Manaus (AM) - foi quando o governo detectou que as pessoas estavam algemadas e acorrentadas por determinação dos americanos.
"O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso", diz a nota do Itamaraty.
O Ministério das Relações Exteriores informou ainda que vai encaminhar ao governo norte-americano um pedido de esclarecimento e disse seguir atento "às mudanças nas políticas migratórias naquele país, de modo a garantir a proteção, segurança e dignidade dos brasileiros ali residentes".
A deportação em massa de imigrantes ilegais foi uma das principais promessas de campanha de Donald Trump. O novo presidente dos Estados Unidos tomou posse na segunda-feira, 20. O voo de deportação para o Brasil com 158 pessoas, sendo 88 brasileiros, é parte de um processo que vinha correndo antes da posse do republicano, durante a administração de Joe Biden.
Brasileiros relatam maus-tratos
Os brasileiros deportados dos EUA com correntes e algemas durante o voo chegaram a Belo Horizonte às 21h05 deste sábado, 25. No aeroporto, eles relataram aos jornalistas maus-tratos de agentes americanos durante o voo entre os EUA e Manaus (AM), onde a aeronave fez um pouso inesperado por problemas técnicos. Entre os relatos estão denúncias de agressão física, calor e más condições do avião. Procurada durante a noite de sábado e na manhã deste domingo, a Embaixada dos EUA não respondeu.
"Eles maltrataram a gente. Eles bateram na gente algemado e não tínhamos cometido crime. Deixaram a gente algemado a viagem inteira. Tinha mulher e crianças. Estava muito calor", disse ao Estadão Vitor Gustavo da Silva, 21, ex-morador de Atlanta, no Estado da Geórgia. Ele afirmou que morou por 20 anos nos EUA.
"Algumas pessoas foram agredidos. Foram chutes. Um agente deu um mata-leão em um dos meninos até ele desmaiar", disse Luis Fernando Caetano Costa, outro deportado./com informações de Giordanna Neves