O órgão que representa os jornalistas da emissora nacional austríaca ORF disse nesta sexta-feira que o Partido da Liberdade (FPO), de extrema-direita, está tentando destruir a rede, aumentando a pressão sobre os conservadores para que recuem nas negociações de coalizão com o FPO.
Eurocético e favorável à Rússia, o FPO ficou em primeiro lugar nas eleições parlamentares de setembro, com 29% dos votos, e foi encarregado de formar um governo neste mês, após a tentativa centrista de montar uma coalizão governamental sem ele fracassar. Seu único parceiro em potencial é o conservador Partido do Povo (OVP).
A ORF, organização amplamente respeitada que produz programas de notícias que definem a agenda, é um dos alvos mais frequentes da FPO, que a acusa de ser de esquerda e de tentar "doutrinar" os telespectadores. A FPO se insurge contra a taxa que financia a ORF e diz querer cortes no financiamento.
"A destruição da ORF está começando", diz o título de uma declaração emitida pelo Conselho Editorial da ORF, que representa seus jornalistas.
Segundo o comunicado, a FPO quer que a ORF produza "propaganda partidária em vez de reportagens independentes", da mesma forma que seu aliado na vizinha Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán, tem feito.
"Na Hungria, as reportagens críticas são punidas com a retirada da publicidade financiada pelo Estado, a mídia privada foi comprada pelos seguidores de Orbán e a emissora pública foi forçada a seguir a linha do governo", acrescentou.
O governo de Orbán tem negado repetidamente que esteja minando a liberdade de imprensa.
DÚVIDAS DOS CONSERVADORES
No início das conversas sobre a coalizão, o novo líder do OVP, Christian Stocker, exigiu garantias da FPO, dizendo que questões fundamentais como a mídia independente eram essenciais para seu partido.
"Se o OVP leva a sério seu compromisso com a democracia e a liberdade de imprensa, não pode concordar com os planos de seu possível novo parceiro de governo", disse o conselho.
O cosecretário geral do FPO, Christian Hafenecker, que também é o porta-voz do partido, emitiu declaração acusando os jornalistas da ORF de entrarem em pânico.
"Felizmente, vivemos em uma democracia parlamentar em que os eleitores e os votos são soberanos, e não em uma república soviética em que um Conselho Editorial da ORF (...) ou outro órgão sem legitimidade democrática define o rumo", disse.