Estamos com medo, mas a vida segue". Assim resume a dona de casa Ivana Zubal, de 46 anos, o sentimento de estar em Kiev em meio à tensão com a Rússia.
Nas ruas da capital da Ucrânia, que os EUA apontam como possível alvo de ataque, não há sinais iminentes de confronto. A população tenta levar uma vida normal enquanto do outro lado da fronteira vêm ameaças de invasão. E por parte de uma das maiores potências bélicas do mundo.
Ivana passeava com o cachorro no Mariinskyi Park, em frente ao palácio do governo ucraniano, perto das 22h pelo horário local (17h em Brasília), no frio de 4ºC do inverno europeu.
Ela evita apostar se a Rússia, de fato, vai invadir seu país. "É uma situação complicada, de muitos anos", limita-se a dizer. Não havia segurança reforçada ao redor da sede do poder ucraniano, onde despacha o presidente Volodmir Zelenski.
O Senado russo já aprovou o envio de tropas às regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, na Ucrânia, após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconhecê-las como Estados independentes. Segundo Putin, a intervenção não será imediata.
Apesar de os militares russos estarem a cerca de 700 quilômetros de distância, restaurantes seguem movimentados em Kiev e o trânsito, considerável.
Mesmo com o cancelamento de voos com origem e destino à capital ucraniana, os protocolos para entrar no país seguem os mesmos: comprovante de vacinação ou teste negativo para covid-19.
Em Kiev, os sinais da relação secular entre Rússia e Ucrânia são evidentes. Nos relógios do Express Hotel, próximo da região central da cidade, os horários exatos de Kiev e Moscou são exibidos lado a lado - há uma hora de diferença.
Ainda no Mariinskyi Park, outro símbolo da história dos países vizinhos em tensão. É a estátua de general Nikolai Vatutin, erguida sobre a sepultura do militar que lutou pelo Exército Vermelho contra os nazistas na 2.ª Guerra, quando a Ucrânia fazia parte da União Soviética.
O risco de um confronto armado é uma pergunta incômoda. "Prefiro não pensar sobre isso", diz a recepcionista, que prefere não se identificar.
Para o analista William Alberque, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, se Putin enviar tropas para as repúblicas separatistas há grande risco de ele avançar até Kiev.
O russo é falado por grande parte dos ucranianos, mesmo com a Ucrânia oficialmente independente da Rússia desde a dissolução da União Soviética. Uma prática que vem desde os tempos de união e ainda se mantém.