'Liberte ele ou enfrente as consequências': a resposta do governo Milei à prisão de policial argentino na Venezuela

Governo venezuelano acusa agente de fazer parte de um complô contra o governo de Nicolás Maduro; prisão é mais um episódio de deterioração das relações entre Argentina e Venezuela

18 dez 2024 - 18h09
(atualizado às 18h18)
O argentino Nahuel Agustín Gallo foi preso na Venezuela
O argentino Nahuel Agustín Gallo foi preso na Venezuela
Foto: Instagram / BBC News Brasil

As relações entre a Argentina e a Venezuela não param de se deteriorar.

A confirmação da detenção, em território venezuelano, do policial argentino Nahuel Agustín Gallo é o último episódio de uma saga que começou com a chegada de Javier Milei à Casa Rosada, há um ano.

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Mas as acusações do ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, de que o agente faria parte de um complô contra o governo de Nicolás Maduro parecem ter ultrapassado a paciência das autoridades argentinas, que qualificaram o ocorrido como "sequestro".

"Liberte Nahuel Gallo ou enfrente as consequências", advertiu a ministra argentina de Segurança Pública, Patricia Bullrich.

"Você é o lacaio de uma ditadura criminosa e covarde. Sequestrar um policial argentino não te faz forte, só demonstra desespero", acrescentou Bullrich, que Cabello havia chamado de "fascista".

Conspirador ou turista?

Gallo foi detido pela polícia venezuelana no dia 8 de dezembro, quando tentava ingressar na Venezuela por via terrestre, vindo da Colômbia.

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O agente viajou para se encontrar com sua esposa, Alejandra Gómez, que é venezuelana, e a filha do casal, que já residem no país caribenho há vários meses.

No entanto, essa versão foi colocada em dúvida pelo ministro venezuelano.

Diosdado Cabello afirmou que Gallo fazia parte de uma conspiração contra o governo Maduro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Uma pessoa foi detida. Você entra no Instagram dela, vê que ela viaja pelo mundo todo, mas seu salário é de 500 dólares. O que ele veio fazer na Venezuela? Qual era sua missão? Isso não dizem", afirmou Cabello.

"Todos criam uma fachada. 'Ele tinha uma namorada [na Venezuela]'. Todos usam essa desculpa. Quem vem conspirar, que assuma sua responsabilidade", insistiu durante uma coletiva de imprensa.

Nesta terça-feira (17/12), o chanceler venezuelano, Yván Gil, acusou o policial de fazer parte de "um plano terrorista".

"Cometeram um grave erro e deixaram inúmeras provas físicas comprometedoras sobre um plano terrorista", disse Gil no Telegram, sem oferecer detalhes.

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Além disso, afirmou que Milei e Bullrich "foram pegos com as mãos na massa tentando introduzir elementos violentos na Venezuela".

Os argentinos negaram as acusações. Bullrich publicou em sua conta no X (antigo Twitter) documentos que provariam que Gallo fez apenas oito viagens ao exterior.

O chanceler argentino, Gerardo Werthein, também adotou um tom duro.

"Toda a narrativa dele [Cabello] não corresponde à realidade. O policial tem uma filha argentina de dois anos e sua esposa foi ajudar a mãe na Venezuela. Ele foi visitá-las e foi detido arbitrariamente, sendo acusado de cumprir missões."

A ministra de Segurança Pública argentina, Patricia Bullrich, exigiu que a Venezuela liberte o policial
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Até o momento, as autoridades venezuelanas não informaram o paradeiro de Gallo.

No entanto, Bullrich afirmou ter informações de que o agente teria sido levado para uma base da inteligência venezuelana no Estado de Táchira.

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A esposa do policial fez um apelo por sua libertação. "Somos pessoas trabalhadoras. Quem conhece o Nahuel sabe o tipo de pessoa que ele é. Sabemos que ele é um ótimo cara, um homem de família, um bom filho, excelente pai e marido", disse. Ela também negou que ele fizesse parte de qualquer conspiração.

O caso de Gallo se soma ao impasse que a Argentina mantém com a Venezuela devido ao cerco à sua embaixada em Caracas, onde estão refugiados seis dirigentes opositores há nove meses.

Desde que o governo de Maduro rompeu relações com o de Milei, em julho, a sede diplomática está sob a responsabilidade do Brasil. O local ficou sem energia elétrica e água encanada, enquanto agentes policiais cercam e vigiavam a embaixada.

"Isso viola a Convenção de Viena e a convenção sobre asilo diplomático. Não podemos permitir que a inviolabilidade das missões diplomáticas seja subvertida. É terror psicológico", denunciou Werthein perante o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA).

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Além de Gallo, um motorista da missão diplomática também foi detido. "Eles o vigiavam, seguiam, assediavam, mas não o tocavam", contou a ministra argentina de Segurança Pública.

O governo Maduro teria sob custódia cerca de 20 estrangeiros acusados ​​de espionagem e conspiração
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Gallo se tornou o último estrangeiro detido pelas autoridades venezuelanas após a onda de protestos que eclodiu no país, depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro como vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho, sem apresentar as atas eleitorais.

A imprensa e organizações de direitos humanos contabilizaram cerca de 20 cidadãos de países como Bolívia, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, Peru e Uruguai presos nos últimos quatro meses, acusados de crimes como espionagem ou conspiração.

Entre os detidos está Renzo Yasir Huamanchumo Castillo, um equatoriano que trabalhava como segurança de celebridades nos EUA e foi capturado enquanto se dirigia para conhecer a família de sua namorada, que também foi detida com sua amiga pelas autoridades em um posto de controle na fronteira.

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O cerco policial à Embaixada da Argentina em Caracas é outra fonte de tensão entre os dois governos
Foto: EPA / BBC News Brasil

No entanto, um dos casos de maior repercussão internacional foi o dos espanhóis José María Basoa e Andrés Martínez, que foram capturados em agosto no estado do Amazonas.

Basoa e Martínez estavam de férias e foram definidos por Maduro como "turistas terroristas".

Por sua vez, Cabello acusou os espanhóis de serem membros do Centro Nacional de Inteligência da Espanha (CNI) e, posteriormente, os apontou diretamente como sicários que faziam parte de uma conspiração para derrubar e assassinar o presidente.

O chanceler argentino afirmou que essas detenções têm um objetivo político.

"Pode-se pensar que estão acumulando reféns para o dia 10 de janeiro (início do mandato de Maduro) e, de alguma forma, extorquindo os países para reconhecerem um governo ilegítimo", afirmou Werthein.

Patricia Bullrich reforçou a acusação: "Estão capturando pessoas, turistas, pessoas normais, e colocando-as como reféns do regime para 'garantir' a impunidade".

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