Manifestantes desafiam toques de recolher nos EUA

Protestos pela morte de homem negro por um policial branco se espalham por 75 cidades do país

1 jun 2020 - 07h36

O barulho de helicópteros sobre a região da Casa Branca não deu trégua durante toda a madrugada de sábado e recomeçou no meio da tarde deste domingo, 31. A capital dos Estados Unidos é uma das 75 cidades que acordaram com marcas da convulsão social na qual o país mergulhou neste fim de semana, quando os protestos antirracismo que pedem justiça pela morte de George Floyd se espalharam, com episódios de violência.

As manifestações, que chegaram neste domingo ao sexto dia consecutivo, fizeram ao menos 24 autoridades municipais decretarem toque de recolher para tentar conter os tumultos. Foi a primeira vez, desde as mobilizações de 1968, após o assassinato de Martin Luther King Jr., que tantas cidades adotaram a medida ao mesmo tempo como resposta à agitação civil. A Guarda Nacional foi acionada em 11 dos 50 Estados, mas manifestantes desafiaram a polícia e o toque de recolher e continuaram nas ruas.

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Os protestos contra o racismo na abordagem policial começaram em Minneapolis, no Estado de Minnesota, onde Floyd, um homem negro de 46 anos, foi morto asfixiado por um policial branco. A morte de Floyd reacendeu o movimento contra racismo na polícia, já visto em 2013 e 2014. Mas, desta vez, a revolta chega em meio a uma grave pandemia e a uma crise econômica comparável apenas à Grande Depressão de 1929. Com o maior número de mortos pela covid-19 no mundo - mais de 104 mil até agora -, 40 milhões de desempregados e uma ebulição social, os EUA entraram neste final de semana em uma crise histórica.

Imagem capturada pelo celular mostra momento em que o policial de Minneapolis Derek Chauvin mantém seu joelho sobre o pescoço de George Floyd, que morreu momentos depois  
Imagem capturada pelo celular mostra momento em que o policial de Minneapolis Derek Chauvin mantém seu joelho sobre o pescoço de George Floyd, que morreu momentos depois
Foto: Darnella Frazier / Facebook/Darnella Frazier / AFP / Estadão Conteúdo

Os EUA iniciaram um processo de reabertura gradual da economia nas últimas semanas, após indicativos que o pico da contaminação por coronavírus já passou. Mas os protestos podem fazer com que a prevista segunda onda de contágio chegue antes do esperado.

Em Londres, Berlim e no Rio de Janeiro, manifestantes saíram às ruas em apoio à pauta americana. Nos EUA, a maioria das manifestações foi pacífica, mas houve conflito entre policiais e manifestantes em cidades como Minneapolis, Los Angeles, Chicago, Filadélfia, Atlanta, Nova York e Washington, com carros de polícia incendiados, lojas depredadas e saqueadas.

O crescimento e a escalada no tom das manifestações indica que os manifestantes terão dificuldade em manter a coesão em torno da pauta inicial. Vídeos compartilhados na internet e transmissões ao vivo na TV mostraram conflito entre os manifestantes. Há cenas de grupo de manifestantes negros no Brooklyn, em Nova York, tentando evitar que uma loja da rede Target fosse depredada. Outros registros semelhantes começaram a aparecer nas redes sociais, indicando o desacordo interno.

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Reação presidencial

À frente da Casa Branca, Donald Trump é uma figura que provoca divisão. O país é rachado entre os que amam e os que odeiam o americano. O presidente é reiteradamente criticado por fomentar divisões por meio da retórica de "nós contra eles", que trouxe da campanha eleitoral de 2016 e mantém rumo à disputa presidencial deste ano. No sábado, ele chegou a sugerir que seus apoiadores fizessem manifestação na Casa Branca, o que poderia piorar a tensão caso houvesse choque entre grupos.

A opção do americano diante dos protestos tem sido a de cobrar reação enérgica das autoridades - prefeitos, policiais e Guarda Nacional. Ontem, o presidente anunciou que vai designar o grupo antifascista Antifa, em quem coloca a culpa pelos episódios de violência das manifestações, como uma organização terrorista.

Atualmente, mais de 60 grupos são designados como organizações de terrorismo estrangeiras, como Al-Qaeda e Estado Islâmico (EI). A designação é considerada uma ação política e diplomática, mas especialistas apontam que Trump terá dificuldade em executar a medida. No sábado, em discurso na Flórida, Trump afirmou que a memória de Floyd estava sendo "desonrada por vândalos, saqueadores e anarquistas".

Em entrevista à CNN, Susan Rice, ex-assessora de Segurança Nacional do governo Obama, disse que se Trump quer prosseguir na luta contra a Antifa, precisa também olhar para os grupos de extrema direita com a mesma atenção. Em 2017, quando houve ataque a manifestantes que protestavam contra supremacistas brancos e simpatizantes do neonazismo em Charlottesville, Trump foi cobrando a se posicionar contra os extremistas, mas disse apenas que havia muito ódio "em ambos os lados".

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Do lado democrata, as atenções se concentram agora na escolha de Joe Biden, futuro adversário de Trump nas eleições deste ano, para vice da chapa. Ele já afirmou que escolherá uma mulher como vice-presidente e agora há parte do partido que passa a defender que ele se lance candidato com uma mulher negra como vice para capitalizar o movimento civil. Por outro lado, conseguiu a coesão do partido em torno do seu nome no início das primárias ao provar que tinha o apoio dos negros nos EUA e precisa conseguir votos nas áreas onde Trump ainda é forte: o eleitorado do meio-oeste americano.

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