Mentiras e aglomeração marcam volta de Trump à campanha

Internação por covid-19 não muda postura do presidente americano sobre a pandemia que já matou mais de 200 mil nos EUA.

13 out 2020 - 13h29
(atualizado às 13h50)

Ainda mais desafiador do que antes em relação ao coronavírus, o presidente americano e candidato à reeleição, Donald Trump, fez nesta segunda-feira (12) seu primeiro comício desde que se declarou livre da covid-19.

Presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício em Winston-Salem, na Carolina do Norte
08/09/2020 REUTERS/Jonathan Ernst
Presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício em Winston-Salem, na Carolina do Norte 08/09/2020 REUTERS/Jonathan Ernst
Foto: Reuters

O discurso de cerca de uma hora em Sanford, na Flórida, foi acompanhado por milhares de apoiadores de Trump, que se aglomeram diante do palanque sem uso de máscara e o distanciamento social recomendado.

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Apenas uma semanas atrás, Trump estava internado devido à covid. Mas sua mensagem sobre a pandemia que já matou mais de 200 mil americanos e continua a tirar a vida de centenas de outros diariamente segue igual: uma avaliação questionável, baseada em exageros, distorções e mentiras, de que a pandemia é coisa do passado.

A DW checou algumas das principais declarações de Trump no discurso.

Sobre sua doença:

"Eu passei por isso. Agora - eles dizem - estou imune, e me sinto tão forte que poderia ir ao público e beijar qualquer um. Vou beijar os rapazes e as mulheres bonitas (...) Vou dar em todos vocês um beijo grande e gordo."

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A afirmação de Trump de que é imune não pode ser verificada neste momento. Sua equipe de médicos só forneceu informações de forma escassa sobre a doença e praticamente não respondeu a nenhuma pergunta dos jornalistas.

Entretanto, a afirmação de Trump não foi surpresa: já em 8 de outubro, o presidente havia dito em uma entrevista à estação de TV preferida, a Fox News, que ele estava imune. Ele também anunciou isso no Twitter, e a plataforma prontamente anexou o aviso "enganoso" e "possivelmente perigoso" ao seu post.

Pesquisas mostram que a maioria dos pacientes com covid-19 desenvolve anticorpos após uma cura bem-sucedida - mas não todos eles. O Instituto alemão Robert Koch, responsável pela prevenção e controle de doenças, cita dois estudos nos quais não foi possível detectar anticorpos neutralizantes em 41% das pessoas testadas.

Além disso, segundo o instituto, neste momento, ainda não está claro o quão regular, robusto e permanente é esse estado imunológico.

Gérard Krause, epidemiologista do Centro Helmholtz de Pesquisa de Infecções (HZI), disse à DW que a imunidade ainda não foi pesquisada a fundo e que declarações precisas só serão possíveis através de uma série mais longa de estudos.

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Há, além disso, casos de reinfecção pelo coronavírus, como o relatado nesta terça-feiraem artigo publicado na revista The Lancet.

Sobre uma possível vacina:

"Estamos muito à frente no tema vacina, e ela estará disponível em breve. Para ser honesto, há uma coisa política em curso. Eles não querem que seja liberada antes das eleições. Mas temos grandes vacinas que estão prontas: da Johnson & Johnson, Modena, Pfizer - grandes coisas vão acontecer com estas vacinas."

O fato é que não há nenhuma vacina contra o coronavírus disponível no mundo que comprovadamente funcione de acordo com as regras aceitas internacionalmente. As vacinas são geralmente testadas em procedimentos de múltiplos estágios com milhares de voluntários e examinadas quanto a efeitos colaterais.

Várias empresas farmacêuticas relataram recentemente progresso na pesquisa de possíveis drogas, incluindo a Johnson & Johnson, a fabricante americana de medicamentos mencionada por Trump. Entretanto, a empresa teve agora que interromper os testes da potencial vacina porque um paciente adoeceu, e médicos estão investigando o incidente.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 42 projetos de potenciais vacinas estão atualmente em fase de ensaio clínico e 151 candidatos estão em fase de testes pré-clínicos.

A Ministra alemã da Pesquisa, Anja Karliczek, por exemplo, admite que amplos setores da população não serão vacinados até "meados do próximo ano" e que não deveria haver "atalhos" nesse processo.

Trump, além disso, não fornece provas para a afirmação de que as forças políticas querem impedir que uma vacina seja liberada antes das eleições presidenciais de 3 de novembro.

Sobre Joe Biden:

"Sabe, nosso adversário, o 'Sleepy Joe' (Joe Dorminhoco), fez uma aparição em campanha hoje, e praticamente ninguém apareceu."

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Trump refere-se nesta declaração ao comício do candidato democrata Joe Biden em Toledo, Ohio, naquele mesmo dia. Foi em um estacionamento onde - a uma distância uns dos outros - cerca de 30 carros estacionados receberam o candidato democrata com buzinaço.

"Praticamente ninguém" é uma declaração exagerada de Trump. Mas diretamente em frente ao estacionamento pelo menos o mesmo número de apoiadores republicanos gritava "Trump, Trump" enquanto a comitiva de Biden passava apressada. O comício de Trump na Flórida teve a presença de milhares de pessoas.

Sobre as pesquisas:

"Estamos indo muito melhor do que em 2016. O entusiasmo é maior, o sentimento é melhor. Se isso for possível, celebraremos uma vitória ainda maior do que há quatro anos. (...) Ganharemos na Flórida de lavada. Vamos ganhar muitos estados. Vamos liderar no Arizona, Nevada, e acho que vamos liderar na Pensilvânia."

Trump está atualmente atrás de Biden nas pesquisas em todo o país. O site FiveThirtyEight calcula a vantagem de Biden, três semanas antes da eleição, com base em várias pesquisas de opinião pública, em dez pontos percentuais atualmente.

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Em comparação com o mesmo período de 2016, quando a eleição foi realizada em 8 de novembro, Trump não está melhor, mas pior. O instituto britânico de pesquisa de mercado e opinião Yougov mostrou na época uma vantagem de quatro pontos percentuais para Hillary Clinton sobre Trump.

Somente a noite eleitoral mostrará se a promessa de Trump aos seus apoiadores de ganhar o importante estado da Flórida pode realmente ser realizada. Na Flórida, as pesquisas atualmente apontam Biden à frente com vantagem média de quatro pontos. A situação é semelhante no Arizona (Biden lidera com cerca de três pontos), Nevada (sete pontos) e Pensilvânia (seis pontos). Biden está na liderança em todos os estados mencionados por Trump.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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