O Reino Unido deseja aproximar-se do Brasil num momento em que se prepara para deixar a União Europeia e para redesenhar seu relacionamento com o mundo, afirmou o ministro para o Comércio Exterior britânico, Conor Burns.
"Nossa decisão de deixar a União Europeia não é apenas de sair de instituições políticas. É uma tentativa determinada e deliberada de nos engajar novamente com o resto do mundo", disse o ministro, que participou nesta terça, 20, de cerimônia de assinatura de um programa de cooperação entre o Reino Unido e o Brasil, em Brasília. "Minha presença aqui é uma declaração de intenções de que a relação bilateral é extremamente importante", afirmou.
Trata-de da primeira visita ao exterior de Burns, nomeado para o cargo em julho pelo novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. A escolha do Brasil como destino, disse Burns, reforça a mensagem de que o País está entre as prioridades para o Reino Unido. Além de Brasília, o britânico visitou o Rio de Janeiro, onde se reuniu com empresários e com o governador Wilson Witzel.
Segundo Burns, há interesse por parte do Reino Unido e do Brasil de que as relações comerciais se aprofundem. Mas não é possível falar no momento, por exemplo, de tratativas para um acordo de comércio amplo.
O britânico lembrou que, antes de tratar desse tema, o Reino Unido precisa finalizar sua saída da União Europeia, processo conhecido como Brexit. Johnson já indicou que isso deve ocorrer até 31 de outubro. "É algo que queremos fazer: aprofundar nossas relações comerciais, aumentar o volume de comércio", disse Burns. "O mecanismo exato de como isso vai acontecer temos de esperar um pouco para ver", afirmou.
Logo após a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, incluiu o Reino Unido na lista de países que o Brasil buscaria tratativas comerciais.
Conors não quis comentar se as recentes notícias de que o desmatamento na Amazônia está aumentando podem ser um empecilho para que a agenda bilateral avance. Segundo ele, o Brasil tem "ambições legítimas de levar prosperidade ao seu povo" e isso pode ser feito sem prejudicar compromissos de preservação.
Presente no evento em Brasília, o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, afirmou que o governo brasileiro não só irá cumprir os compromissos já assumidos como recentemente firmou outros na área ambiental ao assinar o tratado de livre-comércio com a União Europeia.
"O presidente Donald Trump disse que gostaria de iniciar negociações comerciais com o Brasil e Conor Burns está aqui. Acho que não pode haver prova mais concreta de que não apenas o Brasil está aberto para negócios como a comunidade internacional está disposta a fazer negócios com o Brasil", afirmou Troyjo, argumentando que, se houvesse dúvidas quanto à disposição do Brasil de manter seus compromissos de preservação, esses países estariam temerosos de se aproximar neste momento.
Burns e Troyjo se reuniram para lançar um programa de cooperação para facilitação do comércio, que prevê investimento no Brasil por parte do governo britânico de 20 bilhões de libras esterlinas - cerca de R$ 100 milhões pelo câmbio atual. Os recursos virão do Prosperity Fund, do governo britânico, que financia iniciativas em países em desenvolvimento.
Pelo programa, que vinha sendo negociado desde 2016, o Reino Unido oferecerá assistência técnica e promoverá atividades que estimulem micro, pequenas e médias empresas a exportarem seus produtos ao exterior. Segundo o governo britânico, um dos focos da iniciativa serão as "barreiras não tarifárias". O objetivo é reduzir essas barreiras ao comércio, facilitando que empresas estrangeiras aumentem sua participação no mercado brasileiro.
Uma das linhas de atuação será ainda apoiar o alinhamento do Brasil com normas técnicas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em junho, Brasil e o Reino Unido já haviam anunciado cooperação técnica bilateral na área de saúde num programa também associado ao Prosperity Fund.
Há também iniciativas em curso em educação, energia e "finanças verdes". No total, o Reino Unido diz que irá investir no Brasil 80 milhões de libras esterlinas nos próximos quatro anos por meio desse fundo.