Morre Jean-Marie Le Pen: quem foi o polêmico político da direita radical francesa e pai de atual líder opositora

Le Pen, que estava internado em uma unidade de saúde há várias semanas, morreu aos 96 anos.

7 jan 2025 - 10h44
(atualizado às 11h49)
Jean-Marie Le Pen morreu aos 96 anos
Jean-Marie Le Pen morreu aos 96 anos
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Jean-Marie Le Pen, político francês de direita radical e fundador do partido Frente Nacional (atual Reunião Nacional), morreu aos 96 anos nesta terça-feira (7/1), afirmou a família à agência AFP.

Le Pen, que estava internado em uma unidade de saúde há várias semanas, morreu "cercado por seus entes queridos", segundo a declaração de seus familiares.

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Le Pen — negacionista do Holocausto e responsável por declarações extremistas sobre questões de raça, gênero e imigração — fundou seu partido francês de direita radical em 1972, mas foi expulso da legenda em 2015.

Jean-Marie Le Pen disputou todas as eleições presidenciais entre 1974 e 2007, com exceção do pleito de 1981, que elegeu François Mitterrand.

Ele chegou ao segundo turno da eleição presidencial contra Jacques Chirac em 2002.

A filha de Le Pen, Marine, assumiu como chefe do Frente Nacional em 2011. Desde então, ela rebatizou o partido, transformando-o em uma das principais forças políticas da França.

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Jordan Bardella, que sucedeu Marine Le Pen como presidente do partido em 2022, disse que Jean-Marie "sempre serviu a França" e "defendeu sua identidade e soberania".

O primeiro-ministro francês François Bayrou disse que disputou contra Le Pen "sabia que lutador ele era", enquanto o ministro do Interior Bruno Retailleau ofereceu suas condolências à família de Le Pen e disse que "uma página da história francesa foi virada".

O nacionalista de direita radical Eric Zemmour disse no X que "além das controvérsias e dos escândalos" Le Pen seria lembrado por estar "entre os primeiros a alertar a França sobre as ameaças existenciais à espreita".

No outro extremo do espectro político, Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical França Insubmissa, disse que respeitar a dignidade dos mortos e a dor de sua família "não anula o direito de julgar suas ações". "As de Jean-Marie Le Pen são insuportáveis", afirmou.

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"A luta contra o homem acabou. Aquela contra o ódio, racismo, islamofobia e antissemitismo que ele espalhou continua."

Quem foi Jean-Marie Le Pen?

Filho de um marinheiro, Le Pen nasceu em uma vila costeira na Bretanha. Na década de 1940, ele frequentou a faculdade de direito na Universidade de Paris, quando começou a militar para a Restauração Nacional, movimento político que reivindica a volta da monarquia na França.

Conhecido pela capacidade de eletrizar seus partidários em seus discursos, ele se juntou à Legião Estrangeira Francesa em 1954, servindo como paraquedista na Argélia e na Indochina, atual Vietnã.

Le Pen foi acusado de ter praticado tortura na Argélia e processou os jornais que fizeram essas alegações.

Jean-Marie Le Pen em 1964: opiniões e declarações polêmicas foram as marcas da carreira do político francês
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Após seu retorno à França, foi eleito em 1956 para a Assembleia Nacional como o deputado mais jovem a conquistar um assento no Parlamento.

Reeleito para a Assembleia Nacional em 1958, ele foi derrotado em 1962, após o que fundou uma sociedade que vendia gravações de discursos nazistas e canções militares alemãs.

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Após perder as eleições de 1962 para um terceiro mandato como deputado, Jean-Marie Le Pen fundou o partido Frente Nacional em 1972.

Desde o início, a legenda tinha como foco o combate à imigração na França — particularmente às ondas migratórias árabes vindas das antigas colônias francesas no Norte da África. O partido também se opunha à integração europeia, defendia a reintrodução da pena de morte e chegou a advogar pela proibição à construção de novas mesquitas no país.

Opiniões e declarações polêmicas foram as marcas da carreira do político francês, resultando em mais de 20 condenações na Justiça por apologia de crime de guerra, banalização de crimes contra a humanidade e incitação ao ódio e à violência racial.

Em 1987, ele descreveu o Holocausto como "um detalhe da história" e, depois, chegou à troca de socos com um adversário socialista — o que quase custou a Le Pen sua vaga no Parlamento Europeu.

Ele também sugeriu que o vírus Ebola poderia resolver o problema da superpopulação mundial.

Ainda assim, suas políticas atraíram eleitores. Na eleição presidencial de 1988, ele obteve 14% dos votos. Esse número subiu para 15% em 1995, e em 2002 Le Pen chegou ao turno final da eleição presidencial.

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No entanto, partidos de todo o espectro político pediram que seus apoiadores votassem contra ele, e seu oponente Chirac venceu com 82%.

Jean-Marie Le Pen participou da campanha de Marine Le Pen à Presidência em 2011
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Família e sucessão política

Em 1960, Jean-Marie se casou com Pierrette Lalanne e teve três filhas. Marine Le Pen, de 56 anos, é a mais nova.

Ela sucedeu o pai como líder do Frente Nacional em 2011, mas os dois romperam a relação quando ela o expulsou do partido, em 2015, após novas declarações antissemitas do pai.

"Tenho minha personalidade e minha própria percepção do exercício de responsabilidades. Durante quarenta anos, Jean-Marie Le Pen representou a Frente Nacional. Hoje, sou eu, e não ele, a encarregada de seu futuro e de suas ideias", afirmou, na época, Marine.

Apesar da briga, Jean-Marie Le Pen emprestou 6 milhões de euros para a campanha presidencial da filha em 2017. Marine perdeu a disputa no segundo turno para Emmanuel Macron.

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A presidente da Frente Nacional optou, após romper com o pai, por tentar limpar a imagem de racista, xenófobo e antissemita que o partido tem desde sua fundação.

O partido hoje mantém um duro discurso anti-imigração, dá destaque à criação de empregos e ao combate a ideologias islâmicas que classifica como "perigosas".

Nas eleições parlamentares de 2024, a legenda foi liderada por Jordan Bardella.

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