A prefeita de Bangui, Catherine Samba-Panza, 60 anos, foi eleita presidente interina da República Centro-Africana pelo Parlamento, nesta segunda-feira, e tem como missão restaurar a paz nesse país mergulhado em conflitos inter-religiosos.
Em suas primeiras declarações, a presidente recém-eleita fez um vibrante apelo às partes envolvidas para que baixem as armas.
"Manifestem sua adesão à minha nomeação com um sinal forte, depondo as armas", para que "acabe o sofrimento da população", declarou.
De acordo com a contagem dos votos lida na sala, Samba-Panza obteve 75 votos, contra 53 para Désiré Kolongba, filho de um ex-presidente. O resultado foi recebido com aplausos dos presentes, que cantaram o hino nacional logo depois.
"Lanço um vibrante apelo aos meus filhos anti-Balaka (milicianos cristãos) que me escutam e aos meus filhos ex-Seleka (combatentes muçulmanos) que também me escutam: deponham as armas", insistiu.
"A partir de hoje, sou a presidente de todos os centro-africanos, sem exclusividade (...) a prioridade é acabar com o sofrimento da população, restaurar a segurança e a autoridade do Estado em todo o território", afirmou.
Além da pacificação, a nova presidente deverá ainda colocar em funcionamento uma administração totalmente paralisada e permitir que milhares de deslocados voltem para suas casas. A crise humanitária afeta mais da metade dos 4,6 milhões de centro-africanos.
O presidente francês, François Hollande, parabenizou-a e lhe garantiu, um mês e meio depois do início da intervenção militar "Sangaris", que "a França permanece ao seu lado nessa tarefa difícil".
A França desempenha um papel-chave na mobilização da comunidade internacional sobre a crise nesse país africano, uma antiga colônia francesa.
Pouco antes, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, havia pedido "uma ação imediata e de cooperação" na República Centro-Africana. O pedido foi feito durante uma sessão especial no Conselho de Direitos Humanos em Genebra dedicada à criação do cargo de especialista independente sobre o país.
A República Centro-Africana está mergulhada no caos desde que, em março de 2013, uma coalizão rebelde de maioria muçulmana - Seleka - derrubou o presidente François Bozizé. A violência acabou ganhando um perfil confessional entre cristãos (80% da população) e muçulmanos.
Há um mês, mais de 1.600 soldados franceses foram enviados para o país, no âmbito de um mandato da ONU, junto com quatro mil militares da Força Africana de Manutenção da Paz (Misca).
Nesta segunda, a União Europeia (UE) aprovou em Bruxelas uma operação militar sob a bandeira do bloco, em apoio a essas tropas. A comunidade internacional prometeu quase US$ 500 milhões em ajuda para 2014, para pôr "fim à grave crise" humanitária.
Um mês e meio depois do início da Operação francesa "Sangaris", em 5 de dezembro, apesar de insistentes surtos de violência, a segurança melhora aos poucos na capital, onde boa parte dos soldados franceses está estacionada.
Nesse país de mais de 600.000 km2, muito pobre apesar de seu potencial minerador e agrícola, o envio de forças continua sendo bastante complicado para as zonas remotas. Depoimentos de moradores e funcionários de ONGs descrevem uma situação caótica e fora de controle nessas áreas.
No domingo, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Cruz Vermelha centro-africana anunciaram a descoberta de pelo menos 50 corpos desde a última sexta-feira, no noroeste do país.