A cúpula dos Brics, grupo integrado pelo Brasil e outras economias emergentes, irá se abster de criticar a Rússia pelas suas ações recentes na Ucrânia, informaram autoridades brasileiras, uma vitória diplomática para o presidente russo, Vladimir Putin.
A declaração só mencionará a Ucrânia de passagem e repetirá a postura neutra já adotada pelos outros integrantes dos Brics -- Brasil, China, Índia e África do Sul -- na Organização das Nações Unidas (ONU), de acordo com diplomatas brasileiros que organizam a reunião de terça-feira em Fortaleza.
Diante da tentativa das grandes potências ocidentais de isolar a Rússia, a cúpula dos Brics oferece a Putin uma bem-vinda plataforma geopolítica para mostrar que tem amigos em outras partes do mundo vistos como potências econômicas que irão moldar o futuro.
"A Rússia ganha tendo Putin em uma reunião internacional na qual a Ucrânia não é um tema. Fica implícito que os Brics rejeitam as iniciativas ocidentais para fazer da Rússia um pária”, disse o especialista em Brics da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel.
A recusa dos Brics de criticar os russos por anexarem a Crimeia e insuflarem a rebelião no leste ucraniano mostra que os Estados Unidos e a Europa não podem mais cooptar potências emergentes para que adotem suas posições, afirmou Stuenkel.
Mas nenhum dos membros dos Brics apoia a Rússia na Ucrânia, e todos se abstiveram quando a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução criticando a anexação da Crimeia em março.
“A abstenção sempre é uma grande vitória para a Rússia quando se trata de críticas às relações com seus vizinhos, e é isso que veremos na cúpula de Fortaleza", afirmou o diretor do centro BRICLab na Universidade Columbia, de Nova York, Marcos Troyjo.
A plataforma geopolítica fornecida pelos Brics se tornou mais importante para Putin desde que algumas portas começaram a se fechar para Moscou, como a presença no G8.
Em Fortaleza, os líderes dos Brics irão lançar um banco de desenvolvimento cujo objetivo é proporcionar aos países emergentes uma fonte de financiamento alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O banco, que terá capital inicial de 50 bilhões de dólares, deve ser sediado em Xangai, na China. A Rússia almeja ocupar os primeiros cinco anos na presidência da instituição.