Ninguém, além da atual presidente da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, se candidatou para liderar o órgão regulador do comércio global com sede em Genebra, disseram à Reuters duas fontes próximas ao processo, cujas indicações se encerram à meia-noite.
A falta de concorrência não surpreende os observadores da OMC, que estão se preparando para um período complicado de tarifas "olho por olho" após a vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos.
Durante seu primeiro mandato na Casa Branca (2017 a 2021), Trump paralisou o principal tribunal de julgamentos da OMC ao bloquear as nomeações de juízes -- um status que continua até hoje -- e anunciou tarifas sobre importações de aço e alumínio dos EUA. Desta vez, ele avisou que aplicará uma tarifa de 10% sobre todas as importações.
"Aqueles que provavelmente farão parte do novo governo ou veem o valor da OMC em declínio ou são abertamente hostis a ela", disse Alan Yanovich, sócio da Akin Gump Strauss Hauer & Feld. "Se eles forem em frente e aumentarem as tarifas sobre todos, isso gerará muito atrito e tensão."
As frustrações já estão altas na OMC, com uma importante reunião ministerial em Abu Dhabi que obteve apenas resultados mínimos, sem avanços em agricultura, pesca e outros tópicos importantes. Todos os 166 membros da OMC devem concordar com novas regras de comércio por consenso -- o que tem prejudicado muitas negociações ao longo dos 30 anos de existência do órgão, e acordos globais são raros.
Okonjo-Iweala, ex-ministra das Finanças da Nigéria que fez história ao se tornar a primeira mulher diretora-geral do órgão, tem amplo apoio entre os membros da OMC. Ela anunciou sua candidatura em setembro com o objetivo de concluir "assuntos inacabados".
Questionada se tanto ela quanto a OMC poderiam ser bem-sucedidas se Trump fosse eleito, ela disse à Reuters na época: "Não me concentro nisso porque não tenho controle". Meses antes, ela havia dito que as propostas tarifárias de Trump seriam uma situação "ruim para todo mundo" que poderia derrubar o sistema comercial.
Um porta-voz da OMC não pôde ser contactado em um primeiro momento para comentar o assunto nesta sexta-feira.
Mesmo sem concorrentes, não é certo que Okonjo-Iweala seja reconduzida.
O ex-representante comercial de Trump Robert Lighthizer chamou-a de "aliada da China em Genebra", em um aparente ataque ao seu apoio a países em desenvolvimento -- status do qual Pequim atualmente desfruta na OMC.
Em 2020, o governo Trump tentou bloquear seu primeiro mandato. Ela garantiu o apoio dos EUA quando o presidente norte-americano, Joe Biden, sucedeu Trump na Casa Branca.
"Sua recondução não é um fato consumado, mesmo que não haja nenhum desafiante", disse um delegado baseado em Genebra.