O avanço do Vox, o partido de direita que promete 'tornar a Espanha grande de novo'

Crescimento da legenda é o mais recente em meio a uma onda nacionalista que se alastrou pela Europa.

3 dez 2018 - 13h03
(atualizado às 13h53)
Santiago Abascal, líder do partido, rejeita o rótulo de extrema-direita e diz preferir focar na unidade da Espanha
Santiago Abascal, líder do partido, rejeita o rótulo de extrema-direita e diz preferir focar na unidade da Espanha
Foto: SOPA Images/Getty / BBC News Brasil

Quando o sociólogo e político conservador Santiago Abascal, líder do partido espanhol Vox, foi questionado sobre o sucesso recente da legenda, ele disse que o apoio se deve à "sintonia com o que milhões de espanhóis pensam".

Neste domingo, o partido de direita radical conquistou assentos em uma eleição regional espanhola pela primeira vez em décadas. Conseguiu 12 assentos parlamentares na Andaluzia, superando expectativas de que ganharia cinco.

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O avanço é o mais recente em meio a uma onda nacionalista que se alastrou pela Europa.

Mas o que é esse partido, o que ele defende e o que sua escalada significa?

A BBC News mostra a seguir:

O Vox

O Vox foi fundado em 2014 e tem lutado para causar impacto no cenário político espanhol.

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O partido foi rotulado como extrema-direita, populista, anti-imigrante e anti-Islã.

Ele "defende", segundo Abascal, "a ordem constitucional, a reforma constitucional em algumas áreas, a unidade da Espanha e a centralização do Estado". Além disso, quer que a imigração seja "controlada".

O partido propõe "tornar a Espanha grande de novo" - slogan que faz alusão ao adotado por Donald Trump em relação à América, na campanha presidencial dos Estados Unidos em 2016. Críticos têm descrito sua ideologia como um retrocesso nacionalista à ditadura fascista de Francisco Franco, general que governou a Espanha de 1939 a 1975.

Apoiadores do Vox protestaram contra defensores da independência da Catalunha, na capital espanhola, Madri, no sábado
Foto: AFP/Getty / BBC News Brasil

Muitas de suas políticas, particularmente sobre imigração, e sua frequentemente expressa hostilidade ao Islã, levaram a comparações com partidos populistas e de extrema-direita em outras partes da Europa. Seus líderes, porém, rejeitam esse rótulo.

Eles ressaltam que o que existe é um partido de "extrema necessidade" - e não de extremismo.

Abascal também ressalta que o apoio geral do Vox à adesão da Espanha à União Europeia o diferencia de muitos movimentos populistas e de extrema-direita na Europa.

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Apoio

José Fernandez-Albertos, do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha (CSIC), observa que a mensagem do Vox é de direita - "eles apoiam a lei e a ordem e são contra a imigração" - mas que "é a questão catalã o que mais tem motivado o apoio ao partido até agora".

A questão a que se refere envolve o desejo da Catalunha de ser uma República independente, o que desencadeou uma das piores crises políticas da história espanhola.

Nos últimos anos, o governo nacionalista da Catalunha tem feito campanha para romper com a Espanha e em outubro de 2017 o parlamento local catalão emitiu uma declaração de independência, antes de Madri intervir e impor um governo direto por vários meses sobre a região.

Os dois principais partidos à direita, o Partido Popular (PP), do qual Abascal era membro, e o Ciudadanos (Cidadãos), adotaram uma linha firmemente pró-união, contra o movimento de independência.

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Para muitos espanhóis, eles não foram duros o suficiente e o Vox deu um passo adiante, apresentando ações judiciais contra os líderes da fracassada proposta separatista do ano passado.

Ascensão

O Vox atraiu grande número de apoiadores para suas manifestações, com o reforço de eleitores descontentes com outros partidos
Foto: BBC News Brasil

O partido tem sido levado mais a sério desde que encheu um centro esportivo de Madri com 9 mil apoiadores no mês passado, em um comício.

Outros "termômetros" já sinalizavam sua escalada na preferência dos eleitores.

Uma pesquisa recente do instituto Celeste-Tel, por exemplo, dava ao Vox uma adesão de 1% do eleitorado - cinco vezes mais do que tinha em janeiro - e outro instituto de pesquisas, o Metroscopia, mostrava o partido com pouco mais de 5% das intenções de voto, o equivalente a um milhão de votos.

Alguns dos apoiadores que compareceram ao comício disseram que há um estigma social associado a expressar apoio ao Vox.

"As pessoas me chamam de fascista, xenófobo, de muitas coisas", disse Ana Ferrer, funcionária de um hotel e uma dessas apoiadoras.

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"Mas aqueles que realmente me conhecem sabem que eu não sou assim. Minha parceira é uma mulher, por exemplo, e eu não sou católica. Para mim, [o Vox] não está na extrema-direita."

Uma escola jesuíta que havia concordado em sediar o comício do partido em Valência mudou de ideia, aparentemente preocupada com a reputação do partido, fazendo com que o evento fosse transferido para outro lugar.

Fernández-Albertos acredita que o apelo específico do Vox para os espanhóis de classe média e de direita significa que o partido vai lutar em um campo semelhante aos do partido Nacional Rally da França e, em menor medida, o AfD da Alemanha.

O partido, segundo ele, ainda pode influenciar o debate nacional, mesmo que não consiga garantir muitos assentos nas próximas eleições gerais.

Migrantes

A recente ascensão do Vox coincidiu com a transformação recente da Espanha no principal ponto de chegada dos migrantes que cruzam o Mediterrâneo para a Europa - e com uma postura mais tolerante em relação à imigração por parte do novo governo socialista.

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"Se eles (Vox) enfatizam a imigração, o anti-islamismo, a centralidade da questão catalã e quão duros deveríamos ser em relação aos separatistas catalães, isso pode afetar indiretamente como o PP e também como os Ciudadanos se comportam nessas questões", disse o analista.

A região sul da Andaluzia - a mais populosa da Espanha e onde o partido conseguiu 12 assentos - tem alta taxa de desemprego e é o principal ponto de chegada de migrantes que atravessam o Mediterrâneo.

O líder do Vox, Santiago Abascal (à direita), e o candidato regional do partido Francisco Serrano comemorando a vitória no domingo
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Eleição

O resultado regional da eleição é um grande revés para o novo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).

Este é o seu primeiro teste de opinião pública desde que chegou ao poder, após o governo do PP ter sido destituído pelos deputados em junho devido a um escândalo de corrupção.

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Correspondentes dizem que há meses tem se especulado a possibilidade de Sánchez convocar eleições nacionais antecipadas para coincidir com as eleições regionais e europeias em maio, mas o resultado da Andaluzia parece lhe dar pouco incentivo para fazer isso agora.

Diante do resultado conquistado pelo Vox, a líder de extrema-direita da França, Marine Le Pen, tuitou: "Fortes e calorosos parabéns aos meus amigos do Vox, que esta noite na Espanha conseguiram um resultado significativo para um movimento tão jovem e dinâmico."

O PSOE tem governado a Andaluzia há 36 anos.

Ele ainda ganhou mais assentos que qualquer outro partido - foram 33 ao todo -, mas não o suficiente para obter uma maioria, mesmo com potenciais aliados de esquerda.

O conservador PP ficou em segundo lugar, embora também tenha perdido terreno.

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Seu líder nacional, Pablo Sasado, disse que espera montar uma coalizão na região com o Vox e o Ciudadanos, que também obteve grandes ganhos nas eleições.

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