O famoso cientista britânico condenado por abusar sexualmente de dezenas de cães

Adam Britton se declarou culpado de 60 acusações, incluindo quatro de acesso a conteúdo de abuso infantil.

8 ago 2024 - 07h58
(atualizado em 9/8/2024 às 04h55)
Adam Britton era um dos mais conceituados pesquisadores de crocodilos do mundo
Adam Britton era um dos mais conceituados pesquisadores de crocodilos do mundo
Foto: ABC News / BBC News Brasil

Atenção: esta reportagem contém detalhes perturbadores de crueldade com animais.

Um renomado zoólogo britânico especializado em crocodilos foi condenado a 10 anos e cinco meses de prisão na Austrália, depois de admitir ter abusado sexualmente de dezenas de cães, num caso que chocou o país.

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Adam Britton, um conceituado zoólogo que trabalhou em produções da BBC e da National Geographic, se declarou culpado de 56 acusações relacionadas à zoofilia e crueldade com animais.

Ele também admitiu quatro acusações de acesso a conteúdo de abuso infantil.

O Supremo Tribunal do Território do Norte, na Austrália, julgou o caso de Britton, de 53 anos, acusado de filmar a si mesmo torturando os animais até quase todos morrerem, e depois compartilhar os vídeos na internet sob pseudônimos.

Os abusos passaram despercebidos durante anos, até que uma pista foi encontrada em um dos vídeos. Britton foi preso em abril de 2022 após uma busca realizada em sua propriedade rural, em Darwin, que também encontrou material de abuso infantil em seu laptop.

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Muitos dos detalhes dos crimes cometidos por Britton são fortes demais para serem publicados, e tão "grotescos" que o juiz advertiu os presentes que poderiam causar "choque nervoso".

Enquanto os fatos do caso eram apresentados em voz alta, alguns membros do público deixaram o recinto. Outros que assistiam da galeria choraram e insultaram Britton em voz baixa. Às vezes, ele abaixava a cabeça e pegava lenços de papel.

Chamando o réu de "ardiloso", o juiz que presidia o tribunal, Michael Grant, disse que o "puro prazer" que Britton sentia em torturar os animais era "doentiamente evidente".

"Sua depravação não se insere em nenhuma concepção humana ordinária", ele acrescentou.

Incluindo o tempo já cumprido na prisão, Britton pode ter direito à liberdade condicional em abril de 2028. Ele também está proibido de manter sob sua tutela qualquer mamífero pelo resto da vida.

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O advogado de Britton argumentou que os crimes que ele cometeu foram motivados por um distúrbio raro que gera comportamentos sexuais intensos e atípicos.

No tribunal, eles leram uma carta de Britton, que se desculpou por seus "crimes degradantes".

"Lamento profundamente a dor e o trauma que causei a animais inocentes e, consequentemente, à minha família, amigos e membros da comunidade", dizia um trecho da carta.

Ele acrescentou que sua família não estava ciente ou envolvida de forma alguma, escrevendo: "Vou buscar um tratamento de longo prazo e... vou encontrar um caminho para a redenção."

Abusos duraram décadas

Nascido em West Yorkshire, na Inglaterra, Britton cresceu no Reino Unido antes de se mudar para a Austrália, há mais de 20 anos, para trabalhar com crocodilos.

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Com doutorado em Zoologia, ele construiu uma reputação a nível mundial. Chegou, inclusive, a hospedar o ambientalista David Attenborough, enquanto o veterano apresentador filmava parte da série de documentários Vida a Sangue Frio em sua propriedade.

Adam Britton fotografado com o ambientalista David Attenborough
Foto: Crocodilian Blogspot / BBC News Brasil

Moradores locais disseram à imprensa que ele parecia um defensor pacato, mas apaixonado, dos animais.

Só que ele estava nutrindo um "interesse sexual sádico" por eles, de acordo com os documentos judiciais. Conversas com pessoas "com a mesma mentalidade" em salas de bate-papo secretas online detalham como Britton começou a molestar cavalos aos 13 anos.

"Eu era sádico quando criança com os animais, mas havia reprimido isso. Nos últimos anos, liberei novamente, e agora não consigo parar. Não quero (parar). :)", ele escreveu em uma mensagem apresentada ao tribunal.

Durante pelo menos a última década, Britton explorou seus próprios animais de estimação, e manipulou outros donos de cães para que dessem os animais para ele.

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"Meus próprios cães são família, e eu tenho limites", ele explicou em um chat no Telegram que foi apresentado como evidência.

"Eu só maltrato seriamente outros cães... Não tenho vínculo emocional com eles, são pura e simplesmente brinquedos. E [há] muito mais de onde eles vieram."

Ele torturou pelo menos 42 cachorros, matando 39 deles, de acordo com documentos judiciais aos quais a BBC teve acesso. Os processos detalham apenas os crimes cometidos por ele nos 18 meses que antecederam sua prisão. Mas, ainda assim, são mais de 90 páginas.

Por meio da plataforma de anúncios classificados online Gumtree, Britton encontraria pessoas que estavam muitas vezes relutantemente dando seus animais de estimação devido a viagens ou compromissos de trabalho.

Ele construiria um "relacionamento" com elas para negociar a custódia dos animais. E, se elas entrassem em contato para saber como seus antigos animais de estimação estavam, ele contaria "narrativas falsas" e enviaria fotos antigas, conforme foi dito no tribunal.

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Na realidade, ele estava abusando dos animais dentro de um contêiner em sua propriedade, que havia sido equipado com dispositivos de gravação — ele chamava o recinto de "sala de tortura" —, antes de compartilhar os vídeos de seus crimes online usando pseudônimos.

Britton também orientava os outros sobre como copiar seu procedimento e se livrar das evidências.

Questionado sobre como descartar os restos mortais dos cães, Britton — que dividia sua propriedade nos arredores de Darwin com oito crocodilos — disse: "Eu alimento outros animais com alguns".

Ele só foi descoberto depois de compartilhar um vídeo no qual torturava pelo menos oito cães — todos, exceto um, eram filhotes —, que foi repassado à polícia do Território do Norte por meio de uma denúncia anônima.

Britton geralmente fazia um grande esforço para evitar se identificar ou mostrar sua localização nos vídeos, mas neste, uma coleira laranja da cidade de Darwin podia ser vista ao fundo.

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Em poucas semanas, em abril de 2022, a polícia invadiu sua propriedade e prendeu Britton, que está sob custódia desde então.

Eles apreenderam dispositivos de gravação, restos mortais de animais e um laptop no qual também localizaram 15 arquivos contendo material de abuso infantil.

Defensores dos animais dizem que o caso mostra a necessidade de penalidades mais severas para crueldade com animais.

Do lado de fora do tribunal, muitas pessoas de todo o país que participaram da audiência manifestaram decepção com a sentença, mas disseram que oferecia algum consolo aos donos dos animais de estimação abusados por Britton.

Dirigindo-se diretamente ao zoólogo, uma ativista disse que Britton estava "exatamente onde deveria estar — preso".

"Antes respeitado e estimado, você agora é uma desgraça para a comunidade científica", afirmou Natalie Carey.

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"Ninguém nunca mais vai olhar para você com admiração."

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