'O guerreiro tem direito ao seu descanso': a decisão de Mujica de não tratar câncer após metástase

Aos 89 anos, ex-presidente uruguaio havia sido diagnosticado com câncer no esôfago, que se espalhou por seu corpo.

9 jan 2025 - 15h10
José 'Pepe' Mujica anunciou no último mês de abril que tinha um câncer no esôfago
José 'Pepe' Mujica anunciou no último mês de abril que tinha um câncer no esôfago
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Meu ciclo acabou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso."

Estas foram as palavras do ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica ao veículo local Búsqueda, em entrevista publicada na quinta-feira (9/1).

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Mujica, de 89 anos, anunciou em abril que havia sido diagnosticado com um tumor no esôfago. Desde então, passou por inúmeras intervenções médicas.

Ao Búsqueda, ele contou que o câncer está se espalhando por todo o corpo e que decidiu não se submeter a mais tratamentos.

"O câncer no meu esôfago está colonizando meu fígado. Não consigo pará-lo com nada. Por quê? Porque sou um homem velho e porque tenho duas doenças crônicas", disse Mujica.

"Não posso fazer nem um tratamento bioquímico nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta."

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O político aposentado, que continua sendo uma das figuras mais carismáticas do país e um dos líderes mais reconhecidos internacionalmente na região, afirmou: "O que eu peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas ou qualquer outra coisa".

Isso encerra o extraordinário ciclo político pelo qual Mujica passou por mais de meio século, em várias etapas: de guerrilheiro Tupamaro a prisioneiro torturado, de legislador e ministro a presidente, de 2010 a 2015.

Foi durante esses anos que ele surpreendeu o mundo com seus discursos anticonsumistas e sua vida austera, que ele quis manter até seus últimos dias.

Na entrevista ao Búsqueda, ele disse que comprou um trator, no qual anda "um pouquinho" todos os dias, e que quer dedicar o tempo restante ao trabalho em sua fazenda, localizada nos arredores de Montevidéu.

No final de novembro, Mujica falou à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, quando refletiu sobre sua trajetória: "Apesar de tudo, fiquei anos preso, tudo aconteceu comigo, depois virei presidente. Então tenho que agradecer à vida".

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Poucos dias antes da entrevista, ele havia fechado mais um capítulo ao conseguir levar seu projeto de esquerda para além de sua figura com a eleição de seu sucessor, Yamandú Orsi, como novo presidente do Uruguai, que tomará posse em março.

Em entrevista coletiva na quinta-feira, a médica pessoal de Mujica, Raquel Pannone, explicou que, apesar das metástases, ele "não tem alterações em sua vida diária e nem dores".

Ele também reiterou o pedido de privacidade, dizendo: "Vamos nos afastar do Pepe Mujica político e nos concentrar em um homem de (quase) 90 anos que está doente e que tem o direito de usar seu tempo como achar melhor".

Na entrevista ao Búsqueda, Mujica agradeceu à esposa, a ex-vice-presidente do país, Lucía Topolansky, e reiterou seu desejo de ser enterrado em sua fazenda, ao lado de sua cadela, Manuela.

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"Vou morrer aqui. Tem uma sequoia grande lá fora. Manuela está enterrada lá. Estou preenchendo a papelada para que eles possam me enterrar lá também. E é isso."

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