O jovem israelense preso por se negar a lutar na guerra em Gaza: 'Mais violência e sangue não vão levar a nada'

Num país imerso em uma guerra e onde o serviço militar é obrigatório, o jovem de 18 anos Tal Mitnick acredita que o melhor que pode fazer é recusar-se a servir como soldado, apesar das consequências.

24 jan 2024 - 08h02
(atualizado às 08h39)
O jovem israelense Tal Mitnick acredita que a guerra em Gaza não trará qualquer solução
O jovem israelense Tal Mitnick acredita que a guerra em Gaza não trará qualquer solução
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Israel é hoje um país totalmente focado na guerra contra o Hamas em Gaza.

Os ataques realizados em 7 de outubro de 2023 pelo grupo armado palestino em território israelense geraram raiva e indignação em Israel e levaram o governo a lançar uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza com o objetivo declarado de destruir o Hamas.

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Apesar de todo o sangue derramado e dos apelos da comunidade internacional por um cessar-fogo e uma pausa no sofrimento da população de Gaza, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, insiste que a operação ainda durará "muitos meses mais".

Em Israel, onde o serviço militar é obrigatório e tem grande protagonismo na vida dos cidadãos, os assassinatos e sequestros realizados pelo Hamas provocaram uma onda de patriotismo e de apoio às Forças de Defesa de Israel (FDI), como o exército é conhecido.

Nesse contexto, o jovem de 18 anos Tal Mitnick decidiu ir contra a corrente e tornou-se o primeiro israelense preso por se recusar a participar da guerra.

Quando foi convocado pelo Exército, dirigiu-se ao centro de recrutamento e comunicou sua recusa.

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"Tomei a decisão quando percebi que minha consciência não me permitia participar das ações e ideias contra os palestinos", disse à jornalista da BBC Rebecca Kesby.

"Eu não podia participar da ocupação ou de uma organização que acredita que a violência é a maneira de resolver os problemas".

O serviço militar em Israel é obrigatório e é uma parte importante da vida dos jovens
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ele foi condenado a passar 30 dias em uma prisão militar, na qual teve que viver como um soldado, exatamente o que não pretende ser.

Ficou confinado, sujeito a uma disciplina militar e teve de passar longos momentos em posição de sentido.

Mas o castigo não o fez mudar de ideia.

Na próxima semana, ele deve se apresentar novamente e diz que se recusará mais uma vez a lutar por considerar a guerra absurda e acreditar que só causa dor desnecessária. Ele argumenta que a história do conflito entre israelenses e palestinos prova isso.

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"Toda a violência que vimos nos últimos 70 anos não resolveu nada. Precisamos mudar e a única mudança que vemos é em direção a mais violência. Mais violência e mais sangue não vão consertar nada".

Os ataques do Hamas fizeram muitos israelenses sentirem que seu país vive sob uma "ameaça existencial".

A interpretação é de que seguem muito presentes a tentativa de exterminar o povo judeu, representada pelo Holocausto, e as sucessivas guerras entre Israel e seus vizinhos ao longo da história, onde ainda há grupos como o Hamas ou o Irã, que não reconhecem direito de o país existir.

Mitnick esclarece que, apesar de sua postura crítica em relação à guerra, ele rejeita totalmente a violência do Hamas.

"Os ataques foram horríveis e totalmente injustificados. Todos em Israel perderam alguém mais ou menos próximo, mas não podemos permitir que essa dor resulte em um sentimento de vingança. Não podemos permitir que o exército faça o que o Hamas fez com a gente, não podemos deixar mais famílias em dor", defende.

Entre seus compatriotas, há quem não entenda sua decisão.

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"Tem sido difícil porque fui apresentado como um traidor, mas as minhas opiniões são legítimas", diz ele.

A guerra em Gaza custou milhares de vidas e o governo israelense afirma que ela ainda durará muitos meses
Foto: Jehad Alshrafi / Getty / BBC News Brasil

'Qual é o sentido disso?'

Para ele, a guerra de Gaza não é apenas um trágico uso de violência que já custou milhares de vidas, incluindo as de mais de 500 soldados israelenses, mas também é contraproducente para Israel.

"Quando começarmos a buscar a paz, quando o país realmente começar a ver os palestinos como seres humanos, será quando conseguiremos ter segurança".

A poucos dias de ter que se apresentar novamente, ele se mostra determinado a não dar o braço para torcer. Ele também não pretende recorrer a manobras administrativas que poderiam livrá-lo de uma mais do que provável segunda condenação, como alegar problemas mentais, porque se recusa a acreditar que suas convicções possam ser consideradas um problema mental.

"Com o tempo, as pessoas verão que a minha decisão é a certa e eu não vou mudá-la. Ninguém deve colocar sua vida em risco," acredita.

"O governo enviar todas essas pessoas para morrer por nada não vai nos trazer nenhuma segurança, e estamos vendo isso com mais soldados e civis morrendo todos os dias. O Hamas não está enfraquecendo. Qual é o sentido desta guerra para além de vingança?".

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