O que esperar de Hezbollah, Israel e Irã após morte de Hassan Nasrallah?

Israel matou o líder do Hezbollah, aproximando ainda mais o Oriente Médio de um conflito muito mais amplo.

29 set 2024 - 07h23
(atualizado às 08h35)
Apoiadores do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, carregam suas fotografias enquanto se reúnem em Sidon, no Líbano, após sua morte.
Apoiadores do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, carregam suas fotografias enquanto se reúnem em Sidon, no Líbano, após sua morte.
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O assassinato de Hassan Nasrallah por Israel, o líder de longa data do Hezbollah, representa uma grande escalada na guerra entre o país e o grupo militante libanês.

Os acontecimentos dos últimos dias aproximaram ainda mais o Oriente Médio de um conflito muito mais amplo e ainda mais prejudicial, que envolve tanto o Irã quanto os Estados Unidos.

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Os ataques israelenses contra alvos do Hezbollah continuaram ao longo deste sábado (28/9), com as Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmando terem matado mais uma figura da liderança do grupo libanês.

Mas o que pode acontecer daqui para frente?

A resposta para essa pergunta depende, em grande parte, de outras três questões básicas.

O que esperar do Hezbollah?

O Hezbollah está se recuperando após sofrer um golpe atrás do outro.

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Sua estrutura de comando foi decapitada, com mais de uma dúzia de comandantes de alto escalão assassinados. Suas comunicações foram sabotadas com as detonações chocantes de seus pagers e walkie-talkies, e muitas de suas armas foram destruídas em ataques aéreos.

"A perda de Hassan Nasrallah terá implicações significativas, potencialmente desestabilizando o grupo e alterando suas estratégias políticas e militares no curto prazo", diz o analista de segurança do Oriente Médio baseado nos EUA Mohammed Al-Basha.

Mas qualquer expectativa de que esta organização veementemente anti-Israel desista de repente e busque a paz nos termos de Israel está provavelmente equivocada.

Na manhã deste domingo (29/9), as forças de Israel afirmaram ter identificado mísseis cruzando do Líbano para Israel, que dizem ter caído em áreas abertas.

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O Hezbollah já prometeu continuar em sua luta. O grupo ainda tem milhares de combatentes, muitos deles veteranos recentes de combate na Síria - e todos eles parecem estar exigindo vingança.

A organização libanesa ainda tem um arsenal substancial de mísseis, com muitas armas de longo alcance e guiadas com precisão que podem atingir Tel Aviv e outras cidades israelenses.

Certamente haverá pressão dentro das fileiras do Hezbollah para usá-las em breve, antes que também sejam destruídas.

Mas se o grupo de fato decidir usar essas armas, em um ataque em massa que sobrecarregue as defesas aéreas de Israel e mate civis, a resposta de Israel provavelmente será devastadora, causando estragos na infraestrutura do Líbano ou até mesmo se estendendo ao Irã.

O que esperar do Irã?

O assassinato de Hassan Nasrallah é um golpe tanto para o Irã quanto para o Hezbollah. Teerã anunciou cinco dias de luto após a morte do líder do grupo libanês.

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O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, disse que o ataque "não ficará sem vingança".

Segundo Khamenei, a ofensiva contrária a Israel se tornará "ainda mais poderosa".

Ele disse ainda que, embora a frente de resistência tenha perdido um "porta-estandarte notável" e o Líbano tenha perdido um "líder incomparável", o Hezbollah se tornará mais forte.

O país, porém, tomou uma série de precauções de emergência, como esconder Ali Khamanei caso ele também seja alvo de tentativas de assassinato.

O Irã ainda não retaliou pelo assassinato em julho do líder político do Hamas Ismail Haniyeh em Teerã, um golpe que foi considerado uma grande humilhação para o país, segundo especialistas.

Mas os últimos acontecimentos devem fazer com que os membros linha-dura do regime iraniano contemplem algum tipo de resposta.

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Homem contempla danos causados por um ataque aéreo israelense em Beirute
Foto: EPA / BBC News Brasil

O Irã tem uma galáxia inteira de milícias aliadas fortemente armadas ao redor do Oriente Médio, que compõem o chamado "Eixo da Resistência".

Além do Hezbollah e do Hamas, o eixo é formado pelos houthis no Iêmen e vários grupos na Síria e no Iraque. O Irã poderia muito bem pedir a esses grupos que intensificassem seus ataques às bases israelenses e americanas na região.

Mas qualquer que seja a resposta escolhida pelo Irã, o país provavelmente calibrará seus cálculos para que suas consequências parem pouco antes de desencadear uma guerra que não pode esperar vencer.

Nenhum dos lados quer uma guerra regional em grande escala, mas ao mesmo tempo ninguém quer parecer fraco.

O que esperar de Israel?

Se ainda restavam dúvidas antes da morte de Hassan Nasrallah, elas provavelmente desapareceram agora.

Israel claramente não tem intenção de pausar sua campanha militar para o cessar-fogo de 21 dias proposto por 12 nações, incluindo seu aliado mais próximo, os Estados Unidos.

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Os ataque aéreos israelenses continuam neste domingo, com mais alvos do Hezbollah na mira.

As IDF afirmaram ter matado outra figura de liderança do Hezbollah no sábado. Segundo os militares israelenses, Nabil Qaouk, chefe do conselho de segurança preventiva do Hezbollah e membro-chave do seu conselho central, foi morto por caças.

Neste domingo, Israel afirmou ainda que atingiu "dezenas" de alvos do Hezbollah durante a noite. Segundo a imprensa libanesa, pelo menos 15 pessoas foram mortas

Edifícios destruídos no bairro de Haret Hreik, nos subúrbios ao sul de Beirute, após ataques militares israelenses
Foto: WAEL HAMZEH/EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

Israel acredita ter o Hezbollah na defensiva agora, o que provavelmente significa que vai querer continuar com sua ofensiva até que a ameaça que os mísseis do grupo libanês representam seja removida.

Mas a menos que o Hezbollah ceda - o que é improvável - é difícil imaginar como Benjamin Netanyahu pode atingir seus objetivos em relação ao grupo sem uma operação por terra.

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As IDF divulgaram imagens de um treinamento da sua infantaria perto da fronteira para esse propósito.

Mas o Hezbollah também passou os últimos 18 anos, desde o fim da última guerra, treinando para lutar na próxima.

Em seu último discurso público antes de sua morte, Nasrallah disse a seus seguidores que uma incursão israelense no sul do Líbano seria, em suas palavras, "uma oportunidade histórica".

Para as IDF, entrar no Líbano seria relativamente fácil. Mas sair poderia - como acontece em Gaza - levar meses.

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