O que Orbán quer com suas viagens internacionais

9 jul 2024 - 12h08

A caminho de Washington após visitar Kiev, Moscou e Pequim, primeiro-ministro húngaro parece preparar terreno para aliança com Donald Trump em caso de vitória do candidato republicano à Casa Branca, dizem especialistas.Poucos dias após o início de seu mandato de seis meses na presidência rotativa do Conselho da União Europeia, o primeiro-ministro da Hungria, o ultranacionalista Viktor Orbán, já acumula passagens por Kiev, Moscou e Pequim como autodesignado "interlocutor" e autointitulado "pacificador".

O primeiro-ministro Viktor Orbán, aqui em evento de conservadores nos Estados Unidos em 2022, apoia abertamente a candidatura de Donald Trump à Casa Branca
O primeiro-ministro Viktor Orbán, aqui em evento de conservadores nos Estados Unidos em 2022, apoia abertamente a candidatura de Donald Trump à Casa Branca
Foto: DW / Deutsche Welle

Em um vídeo divulgado na segunda-feira (08/07), Orbán exaltou a China como a única potência mundial "claramente comprometida com a paz" entre a Rússia e a Ucrânia, retratando a si próprio como um homem em missão de paz ao encerrar um encontro com o presidente chinês Xi Jinping.

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"Isso é importante para a Hungria e toda a União Europeia", declarou Orbán no vídeo, falando diretamente da pista de pouso em Pequim. "Continuaremos nosso trabalho."

Apesar de ele não ter dito explicitamente que viajava como representante da União Europeia (UE), para algumas pessoas essa era justamente a impressão que ele queria causar.

Kaja Kallas, próxima chefe da diplomacia da UE, acusou Orbán de "explorar" a presidência húngara do Conselho e de tentar confundir as pessoas sobre a política do bloco em relação à Ucrânia.

Em um comunicado postado no X na sexta-feira anterior, antes da visita à China, Orbán admitia não ter sido encarregado de fazer negociações em nome da UE. Mas foi ambíguo ao acrescentar que "nós não podemos esperar que a guerra chegue miraculosamente ao fim". "Serviremos de importante ferramenta ao dar os primeiros passos em direção à paz."

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O encontro com o presidente russo Vladimir Putin naquele mesmo dia rendeu a Orbán uma dura reprimenda da UE, que afirmou que o húngaro não representava o bloco "de nenhuma forma".

O vice-chanceler federal alemão Robert Habeck também reagiu, dizendo que os encontros de Orbán deveriam ser vistos como assuntos bilaterais, e não ações oficiais da UE.

O que Orbán quer?

Mais uma vez, Orbán prova que é uma dor de cabeça para o bloco de 27 países.

Para observadores, o giro diplomático do húngaro é parte de um plano de longo prazo para se projetar como líder da ultradireita na Europa, e um sinal de que ele aposta na volta do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.

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Não há nada de novo no apoio do primeiro-ministro húngaro à Rússia ou em seus flertes com a China.

Nos últimos dois anos, ele tem se oposto firmemente a sanções da UE contra Moscou e tentou impedir o bloco de ajudar a Ucrânia. Quanto à China, Budapeste aumentou o comércio com Pequim, inaugurando uma parceria estratégica blindada em maio deste ano - isso numa época em que a UE tenta justamente diversificar seus parceiros comerciais para se afastar da China e tornar mais estáveis cadeias essenciais de suprimentos.

Para o conselheiro político e especialista em assuntos da UE Julien Hoez, as últimas travessuras de Orbán são uma tentativa de aumentar sua popularidade em casa depois que o partido dele, o Fidesz, teve o pior desempenho nas eleições europeias, em junho.

Apesar de o Fidesz ter obtido 44% dos votos, a sigla perdeu espaço para Peter Magyar, um ex-aliado visto por analistas como uma ameaça a Orbán.

Mas a estratégia de Orbán também tem outros objetivos, segundo Hoez: posicioná-lo como líder de uma ultradireita em expansão na UE e forjar um "eixo iliberal" da Europa até os Estados Unidos.

"Ele está tentando se posicionar como líder daqueles na Europa que são eurocéticos, que estão mais interessados em relações com a China ou a Rússia, ou que não querem se envolver, em uma demonstração de tendências isolacionistas do tipo que se vê nos EUA", avalia Hoez.

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Na segunda-feira, o Fidesz de Orbán aderiu junto com a líder francesa da ultradireita Marine Le Pen a uma nova bancada no Parlamento Europeu, intitulada "Os Patriotas".

Para especialistas, a formação do grupo e a viagem de Orbán a Pequim foi uma demonstração de força para a base trumpista nos EUA - além de se projetar como liderança no ecossistema da ultradireita europeia, Orbán também quer ser visto como alguém parecido com Trump.

Um aliado de Trump na Europa

Professor de política europeia e internacional na Universidade Católica de Lille e pesquisador associado do Instituto Jacques Delors, Pierre Haroche vê Orbán "preparando o terreno" para um acordo com Trump quando (e se) ele voltar à Casa Branca.

"Orbán trabalha em um acordo que ele acha que Trump vai aceitar", afirma Haroche. "Trump disse que quer acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas. Orbán quer poder dizer 'olha só, eu já falei com as partes envolvidas' e se tornar um facilitador indispensável."

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"Ter influência na UE através de um grupo poderia torná-lo mais útil para Trump", explica.

A reação da UE

As artimanhas de Orbán irritaram Bruxelas. Quando os representantes dos países-membros da UE se encontrarem nesta semana, eles devem discutir o papel da presidência rotativa do Conselho do bloco, e se a Hungria pode de fato ser um mediador honesto.

Especialistas afirmam que a UE não pode fazer muita coisa para puni-lo.

Enquanto a opção de limitar os direitos da Hungria invocando o Artigo 7 do Tratado da União Europeia - que visa assegurar o respeito aos valores comuns do bloco, incluindo o Estado de Direito - tem sido aventada aos sussurros, é improvável que isso ocorra.

Enquanto isso, Donald Trump Jr., filho do ex-presidente que Orbán tenta impressionar, exaltava o líder húngaro nas redes sociais referindo-se a ele como um pacificador "igual ao meu pai".

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A próxima parada do tour internacional de Orbán é Washington, e chovem especulações sobre se ele encontrará o candidato republicano ou se vai se limitar a participar da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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