O que pode explicar naufrágio de iate na Itália

Enquanto a operação de resgate continua na costa italiana, ainda restam dúvidas sobre o motivo do naufrágio do superiate

21 ago 2024 - 10h49
(atualizado em 22/8/2024 às 17h47)
Uma imagem de arquivo do iate Bayesian
Uma imagem de arquivo do iate Bayesian
Foto: Divulgação/Perini Navi / BBC News Brasil

As autoridades trabalham para identificar 4 dos 5 corpos encontrados na quarta (21/08) após o naufrágio de um super iate de luxo que virou na costa da Sicília, na Itália, na manhã de segunda-feira (19/8).

Autoridades e especialistas procuram entender o que levou ao naufrágio.

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De acordo com o aplicativo de rastreamento Vesselfinder, o iate Bayesian deixou o porto de Milazzo em 14 de agosto e foi localizado pela última vez a leste de Palermo na noite de domingo, com um status de navegação de "ancorado".

Acredita-se que o barco tenha sido atingido por um tornado sobre a água, o que teria feito que ele virasse.

Há outras hipóteses de que o mastro tenha quebrado durante uma tempestade atípica e de que água tenha entrado por escotilhas e portas deixadas abertas por conta do calor.

O diretor-executivo da empresa que fabrica o barco, Giovanni Costantino, disse ao jornal italiano Corriere della Sera que a ideia de que o navio desapareceu em alguns segundos é "um absurdo".

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Em vez disso, Costantino alega que seis minutos se passaram do momento em que a água entrou no navio até o momento em que ele afundou.

Nesse tempo, o iate entrou na água com os hóspedes ainda em suas cabines. Eles deveriam ter sido levados ao ponto de encontro do navio "conforme procedimento de emergência", diz ele.

"Bastou uma inclinação de 40 graus e as porta da cabine ficou alta demais para os que estavam dentro", deixando-os presos, afirma.

Para evitar o naufrágio, diz o executivo, o casco do navio e seu convés deveriam ter sido cobertos fechando todas as portas e escotilhas a bordo.

"Então ligue os motores e levante a âncora", ele acrescenta, antes de colocar a proa "ao vento" e baixar a quilha — a parte mais baixa do barco.

Costantino acredita que se isso tivesse acontecido, "na manhã seguinte, eles teriam partido novamente sem danos".

Gráfico mostrando como o iate pode ter afundado na costa da Itália — ventos fortes podem ter virado o iate para o lado enquanto alguns hóspedes estavam nas cabines do deck inferior
Foto: BBC News Brasil

Tornados no mar — mais comuns na Itália do que se imagina

Testemunhas descreveram ter visto um tipo de tornado se formar antes do Bayesian afundar.

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Os tornados são colunas giratórias de ventos destrutivos, projetando-se da base das nuvens até o chão.

As trombas marinhas ou trombas d'água também são isso — mas estão sobre a água, e não sobre a terra.

Em vez de poeira e detritos girando em torno do núcleo, é a névoa de água que é levantada da superfície.

Assim como os tornados, a maioria das trombas marinhas são apenas colunas estreitas e de curta duração e não são facilmente detectadas por radares meteorológicos — portanto, muitas não chegam a ser registradas.

Um gráfico mostrando como trombas d'água semelhantes a tornados se formam em tempo bom ou em tempestades
Foto: BBC News Brasil

No entanto, elas não são tão raras quanto se pode pensar.

De acordo com o Centro Internacional de Pesquisa de Trombas D'Água, houve 18 delas na costa da Itália somente em 19 de agosto.

No hemisfério norte, as trombas d'água são mais comuns no final do verão e durante o outono, quando as temperaturas do mar estão mais altas, o que alimenta as nuvens de tempestade.

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No entanto, com o aumento das temperaturas do mar devido às mudanças climáticas, há uma preocupação de que elas possam se tornar mais comuns.

Na última semana, o Mediterrâneo teve a maior temperatura na superfície do mar já registrada, o que ajudou a energizar esta recente tempestade.

O mastro quebrou?

O Bayesian foi construído pela empresa italiana Perini em 2008 e foi reformado pela última vez em 2020.

De acordo com o site da Perini, o Bayesian tem um mastro de 75 metros, o que o tornaria o mastro de alumínio mais alto do mundo.

Karsten Borner, capitão de outro iate ancorado nas proximidades no momento da tempestade, disse que houve uma "rajada de furacão muito forte" e que teve que lutar para manter sua embarcação estável.

Ele viu o mastro do Bayesian "dobrar e então quebrar", de acordo com o jornal italiano Corriere della Sera.

Mas, ao fornecer informações atualizadas sobre a missão de resgate, Marco Tilotta, da unidade de mergulhadores do corpo de bombeiros de Palermo, disse à agência AFP que o iate estava deitado de lado inteiro.

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Gráfico mostrando as dimensões do super iate bayesiano que tem 56 metros de comprimento e um mastro de 72,3 metros de altura
Foto: BBC News Brasil

Matthew Schanck, presidente da organização Maritime Search and Rescue Council, afirma que é difícil dizer se o mastro quebrou.

"Eu acho, e isso é pura suposição, mas a evidência que estamos obtendo dos mergulhadores é que o iate está basicamente intacto, deitado de lado, segundo relatos", ele disse à BBC.

"Se o mastro estivesse quebrado, isso seria algo significativo que seria relatado."

Schanck acrescenta que o Bayesian pode ter passado por "um evento bizarro".

"Os barcos não são projetados para navegar nesse clima — 100 km/h a 130 km/h é a velocidade máxima que um barco estaria, e isso com suas velas abaixadas", aponta. "Eles não são projetados para navegar por tornados ou trombas d'água."

Temperaturas recordes no Mediterrâneo

Desde meados de junho, o mar ao redor da Sicília — a bacia do Mediterrâneo Ocidental — vem sofrendo uma onda de calor severa.

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O serviço de monitoramento das mudanças climáticas da União Europeia, Copernicus, tem relatado que as temperaturas da superfície do mar na região ultrapassaram várias vezes os 30°C — quatro graus a mais do que a média de 20 anos para esta época do ano.

Pesquisadores espanhóis do Instituto de Ciências Marinhas em Barcelona confirmaram na última quinta-feira que o recorde máximo de temperatura da superfície do mar foi quebrado no Mar Mediterrâneo.

Em 2023 e 2024, recordes foram quebrados para a maior temperatura média registrada ao redor do mundo em um dia.

Cientistas atribuem o rápido aumento das temperaturas às mudanças climáticas, e os oceanos foram os que mais sofreram com o aumento das temperaturas, absorvendo cerca de 90% do excesso de calor.

Após as temperaturas recordes no ano passado, o professor Mike Meredith, do British Antarctic Survey, disse à BBC: "O fato de todo esse calor estar indo para o oceano e, de fato, ele estar esquentando em alguns aspectos ainda mais rápido do que pensávamos, é motivo de grande preocupação."

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Fatores humanos

Sam Jefferson, editor da revista Sailing Today, acredita que o calor pode ter levado os ocupantes do Bayesian a abrir portas e escotilhas para que o ar fluísse enquanto dormiam.

Registros mostram que as temperaturas atingiram cerca de 33°C no dia anterior ao naufrágio.

"Eu diria que o barco foi atingido com muita força pelo vento, ele ficou preso de lado", aponta Jefferson.

Os mergulhadores enfrentam dificuldades consideráveis ​​na profundidade do local onde ocorreu acidente; por isso, eles fazem buscas de dez minutos por mergulho
Foto: EPA / BBC News Brasil

"Imagino que todas as portas estavam abertas porque estava quente. Havia escotilhas e portas abertas o suficiente para que ele [o iate] se enchesse de água muito rapidamente e afundasse daquele jeito."

"A razão pela qual ele ficou preso com tanta força foi porque o mastro é enorme. Ele agiu quase como uma vela. [Ele] empurrou o barco com força para o lado."

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"[O barco] encheu de água antes que pudesse endireitar. Isso é tudo especulação, mas essa é a única explicação lógica."

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