Esta reportagem foi atualizada às 10h20 (horário de Brasília) desta quinta-feira (8/8).
Fernando Villavicencio, candidato nas eleições presidenciais do Equador que fez campanha contra corrupção e gangues, foi morto a tiros em um comício de campanha.
Membro da Assembleia Nacional do país, ele foi atacado ao deixar um evento na capital, Quito, na noite de quarta-feira (9/8).
Ele é um dos poucos candidatos a falar claramente sobre as ligações entre o crime organizado e funcionários do governo no Equador.
A gangue Los Lobos (Os Lobos) reivindicou a responsabilidade pelo assassinato.
Los Lobos é a segunda maior gangue do Equador, com cerca de 8 mil membros, muitos deles atualmente atrás das grades.
A quadrilha esteve envolvida em uma série de confrontos mortais recentes em prisões, nas quais dezenas de detentos foram brutalmente mortos.
Acredita-se que Los Lobos, uma facção dissidente da gangue Los Choneros, tenha ligações com o Cartel de Nova Geração de Jalisco (CJNG), com sede no México, para o qual trafica cocaína.
A suspeita do assassinato recaiu primeiro sobre Los Choneros, que ameaçaram Villavicencio na semana passada — mas a facção Los Lobos assumiu a responsabilidade em um vídeo no qual membros usam balaclavas, exibem símbolos do grupo e brandem armas.
Historicamente, o Equador é um país relativamente seguro e estável na América Latina, mas a criminalidade disparou nos últimos anos, alimentado pela presença crescente de cartéis de drogas colombianos e mexicanos, que se infiltraram em gangues criminosas locais.
O assassinato de Villavicencio ocorre a menos de quinze dias das eleições presidenciais, nas quais a questão da insegurança aparece como a principal preocupação.
Os cartéis usam o Equador, que tem uma boa infraestrutura e grandes portos, para contrabandear a cocaína produzida nos vizinhos Colômbia e Peru para os Estados Unidos e a Europa.
Esses grupos ameaçam e visam qualquer indivíduo que entre no caminho deles.
Villavicencio, deputado em exercício e ex-jornalista, condenou durante a campanha o que disse ser uma abordagem branda a respeito das gangues. Ele declarou que, se chegasse ao poder, aumentaria a repressão.
Villavicencio, casado e com cinco filhos, era um dos oito candidatos no primeiro turno das eleições — mas ele não era um dos favoritos e estava no meio do pelotão nas pesquisas.
Ele não é o primeiro político a ser assassinado no país. No mês passado, o prefeito da cidade de Manta foi morto a tiros, enquanto em fevereiro um candidato a prefeito da cidade de Puerto López foi alvo de um ataque mortal.
Mas o assassinato de um candidato presidencial em um evento público na capital é o ataque mais descarado até agora e um testemunho chocante da força das gangues.
Testemunhas dizem que Villavicencio foi alvejado quando saía de um evento de campanha por volta das 18h20 no horário local (20h20 de Brasília).
O evento foi realizado no distrito financeiro de Quito, em um prédio que já abrigou uma escola.
Uma rajada de tiros foi disparada quando o homem de 59 anos entrava em um carro do lado de fora do prédio onde, momentos antes, havia se reunido com os eleitores.
O tio de Villavicencio, Galo Valencia, descreveu o momento em que seu sobrinho foi morto: "Estávamos a poucos metros da escola quando fomos atingidos por uma saraivada de cerca de 40 balas."
Valencia disse que seu sobrinho foi atingido por três tiros na cabeça.
Carlos Figueroa, outra testemunha, disse que "30 segundos depois que ele [Fernando Villavicencio] saiu pela porta principal, começaram os tiros".
Um vídeo de dentro do prédio mostra apoiadores do candidato em pânico se escondendo. No caos, outras nove pessoas ficaram feridas, incluindo um candidato à assembléia do país e dois policiais, segundo os promotores que investigam o caso.
Um suspeito do crime também foi baleado em uma troca de tiros com seguranças e depois morreu por causa dos ferimentos, disse o procurador-geral do país nas redes sociais.
Seis pessoas foram detidas pela polícia na investigação sobre o assassinato, acrescentou ele.
Um estado de emergência foi declarado e o atual presidente Guillermo Lasso prometeu que "o crime não ficará impune".
Lasso, que não concorre na eleição, disse estar "indignado e chocado" com o assassinato.
"O crime organizado percorreu um longo caminho, mas todo o peso da lei cairá sobre ele", acrescentou o presidente equatoriano.
Líder nas pesquisas, Luisa González compartilhou uma mensagem de solidariedade com a família de Villavicencio. "Este ato vil não ficará impune", escreveu ela.
O ex-vice-presidente e também candidato Otto Sonnenholzner enviou suas "mais profundas condolências e profunda solidariedade" à família de Villavicencio.
"Que Deus o guarde em sua glória", escreveu. "Nosso país saiu do controle."