Em meio à escalada de tensões no Oriente Médio, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) confirmaram na noite desta segunda-feira (30/9) o início de uma incursão terrestre no Líbano.
As forças israelenses afirmaram que a incursão tem caráter "limitado, localizado e direcionado". A ação mira o Hezbollah, um partido político xiita e grupo armado com forte influência no Líbano.
"De acordo com a decisão do escalão político, algumas horas atrás, as IDF começaram ataques terrestres limitados, localizados e direcionados com base em inteligência calculada contra alvos terroristas do Hezbollah e sua infraestrutura no sul do Líbano", disse a força israelense em postagem na rede social X.
A postagem afirma que os alvos estão em vilarejos israelenses próximos à fronteira com Israel e representariam "uma ameaça imediata às comunidades israelenses no norte de Israel".
As IDF disseram que suas tropas foram treinadas e preparadas "nos últimos meses" para esse tipo de incursão, e que a Força Aérea está dando apoio à ação.
O vice-líder do Hezbollah, Naim Qassem, disse mais cedo, antes da incursão, que o grupo estava pronto para uma ofensiva terrestre, algo que Israel vem insinuando há dias.
Foi o primeiro discurso de uma autoridade de alto escalão desde que Israel matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na sexta-feira (27/9), acirrando ainda mais o conflito.
Anna Foster, repórter da BBC que está em Beirute, afirmou que os efeitos da incursão no Oriente Médio ainda são imprevisíveis — uma das incógnitas é sobre a própria possibilidade de reação do Hezbollah, já que o grupo foi fortemente atingido por ataques de Israel nas últimas semanas.
Mas Foster apontou alguns cenários possíveis.
"Se [o Hezbollah] tiver poder de fogo suficiente, pode eventualmente atacar cidades no interior de Israel", escreveu a repórter.
"Outros representantes do Irã na região, como os Houthis no Iêmen ou milícias na Síria e no Iraque, podem tentar atingir alvos israelenses ou locais mais próximos de casa, como bases militares dos EUA próximas."
Outra possibilidade seria o Irã tentar um ataque a Israel, como fez em abril com ataques aéreos que foram interceptados.
"Todas essas respostas podem acontecer, ou nenhuma delas", diz a jornalista.
O ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, disse anteriormente às tropas perto da fronteira libanesa que elas estavam preparadas para usar forças "do ar, mar e terra".
Mais cedo nesta segunda-feira, Israel emitiu um aviso ordenando a evacuação de moradores de Dahieh, o reduto do Hezbollah nos subúrbios ao sul de Beirute.
O aviso foi seguido por uma série de ataques à capital do Líbano — o primeiro ocorrendo menos de 30 minutos após o alerta israelense.
Muitos moradores de Dahieh já estão desalojados e alguns deles estão dormindo na rua, por não ter abrigo.
Nafiseh Kohnavard, repórter da BBC que está em Beirute, relatou que a capital está vivendo mais uma noite (de segunda para terça-feira) em claro, por conta dos ataques.
"A cada poucos minutos, escuto explosões barulhentas — algumas mais que as outras. Da minha sacada, posso ver colunas de fumaça", contou a repórter.
"Meus vizinhos estão todos acordados e, a cada explosão, correm para a sacada para ver que lugar o ataque aéreo atingiu."
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, disse mais cedo na segunda-feira que os esforços diplomáticos são por um cessar-fogo de 21 dias entre Israel e o Hezbollah, algo defendido pelo presidente Joe Biden.
Em uma entrevista coletiva em Washington, o presidente foi questionado se ele estava ciente e confortável com o plano de Israel de lançar uma "operação limitada no Líbano".
Biden respondeu: "Estou mais ciente do que você pode imaginar e estou certo de que vão parar."
Ele acrescentou: "Deveria haver um cessar-fogo agora."
Autoridades libanesas dizem que mais de 1.000 pessoas foram mortas nas últimas duas semanas em meio aos ataques e bombardeios de Israel, e até um milhão de pessoas precisaram ser deslocadas.
A escalada da tensão teve início em 17 e 18 de setembro, quando ocorreram explosões de pagers e walkie-talkies no Líbano, matando mais de 30 pessoas e deixando mais de 2 mil feridos.
O Líbano e o Hezbollah responsabilizaram Israel pela explosão dos aparelhos.
Os dias que se seguiram representaram uma série de reveses catastróficos para o Hezbollah, incluindo uma série de bombardeios.
Na sexta-feira (27), o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morreu após ataques israelenses em Beirute.
No sábado (28), Israel anunciou ter matado outras 20 lideranças em novos ataques.