A polícia apontou nesta segunda-feira (09/12) um suspeito pelo assassinato de Brian Thompson, CEO (diretor-executivo) da seguradora de saúde UnitedHealthCare, na semana passada em Nova York.
Luigi Mangione, de 26 anos, foi preso por porte ilegal de arma de fogo e por apresentar documentos falsos, depois de ser reconhecido por um funcionário de um McDonald's em Altoona, Pensilvânia, como possível suspeito pela morte de Thompson. A prisão ocorreu após dias de intensas buscas.
Ele estava carregando uma arma e "várias identidades falsas" — incluindo um documento de Nova Jersey que correspondia à identidade que o suspeito pelo assassinato usou para fazer check-in em um albergue em Nova York antes do crime.
Ele também carregava um manifesto manuscrito de três páginas que incluía queixas sobre o sistema de saúde dos EUA e que demonstrava as "motivações e a mentalidade" do suspeito, segundo a polícia.
Mangione foi considerado uma "pessoa de grande interesse" — termo usado nos EUA para designar um suspeito ou uma pessoa que possa ter relação com algum caso em investigação.
Nesta terça-feira (10/12), ele foi levado a um tribunal, onde contestou sua extradição da Pensilvânia para o Estado de Nova York, onde ocorreu o assassinato pelo qual é acusado.
A caminho do tribunal, Mangione gritou em direção a repórteres, dizendo palavras as palavras "completamente injusto" e "insulto à inteligência do povo americano". Ele também teve um rápido atrito com os guardas que o escoltavam. Entretanto, na saída, ele ficou em silêncio.
A polícia revelou que encontrar o jovem de 26 anos foi uma surpresa completa e que não tinha seu nome em uma lista de suspeitos antes desta segunda-feira.
Na noite de segunda, Mangione foi levado ao tribunal, onde teve a possibilidade de fiança negada.
O governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, chamou de "herói" o funcionário do Mc Donald's que acionou a polícia de Altoona.
O suspeito foi encontrado no McDonald's usando uma máscara e um gorro, sentado diante de um laptop com uma mochila ao seu lado. Ao ser abordado por policiais, teria apresentado uma carteira de motorista de Nova Jersey com o nome de Mark Rosario.
A polícia fez buscas pela identidade, mas não encontrou resultados — e constatou que o documento era falso.
Mangione foi então algemado no local por fornecer identificação falsa à polícia. Os agentes então revistaram sua mochila, onde teriam encontrado "uma pistola preta impressa em 3D e um silenciador".
De acordo com a polícia, a prisão foi pacífica. Ao ser perguntado se havia estado em Nova York recentemente, Mangione teria "ficado quieto e começado a tremer", segundo o relato de um policial.
Depois do assassinato, ele teria passado vários dias na Pensilvânia.
Mangione nasceu e foi criado no Estado de Maryland e tem laços em São Francisco, Califórnia, de acordo com Joseph Kenny, chefe de detetives de Nova York.
O suspeito não tem prisões anteriores em Nova York e seu último endereço foi em Honolulu, Havaí, segundo a polícia.
Ele frequentou uma escola particular só para meninos em Baltimore, Maryland, chamada Gilman School. Mangione já foi orador da sua turma.
"Esta é uma notícia profundamente angustiante em cima de uma situação já terrível. Nossos corações estão com todos os afetados", escreveu a escola em um e-mail.
Mangione é graduado pela Universidade da Pensilvânia, onde recebeu diplomas de bacharel e mestre em ciência da computação, e fundou um clube de desenvolvimento de videogames.
Um amigo que frequentou a universidade na mesma época descreveu Mangione como uma "pessoa supernormal" e "inteligente".
"Eu nunca esperaria isso", disse o amigo.
Mangione trabalhou como engenheiro de dados para a TrueCar, um site de varejo digital para carros novos e usados, de acordo com seus perfis nas redes sociais.
Um porta-voz da empresa disse à BBC que ele não trabalha lá desde 2023.
De acordo com seu perfil no LinkedIn, Mangione também já trabalhou como estagiário de programação para a Fixarixis, uma desenvolvedora de videogames.
Ele vem de uma família proeminente na área de Baltimore, cujos negócios incluem um clube de campo e casas de repouso, de acordo com a mídia local.
Ele é primo do parlamentar estadual republicano Nino Mangione, ainda segundo veículos de imprensa da região.
Perfis nas redes sociais aparentemente pertencentes a Mangione dão pistas sobre sua possível linha de pensamento.
Uma pessoa com seu nome e foto tinha uma conta no Goodreads, um site de resenhas de livros. Lá, ele deu quatro estrelas a um texto chamado Industrial Society and Its Future ("A Sociedade Industrial e o seu Futuro"), de Theodore Kaczynski — mais conhecido como "manifesto Unabomber".
A partir de 1978, Kaczynski provocou bombardeios que mataram três pessoas e feriram dezenas, até ser preso em 1996.
Em sua resenha, Mangione escreveu: "Quando todas as outras formas de comunicação falham, a violência é necessária para sobreviver. Você pode não gostar de seus métodos, mas para ver as coisas da perspectiva dele, não é terrorismo, é guerra e revolução."
"'A violência nunca resolveu nada' é uma declaração proferida por covardes e predadores."
Segundo a polícia, um documento escrito por Luigi Mangione traz ameaças específicas a outras pessoas, "mas parece que ele tem alguma indisposição em relação à América corporativa".