A Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu nesta segunda-feira (27/01) um erro na divulgação do risco global do novo coronavírus descoberto na China em dezembro.
De acordo com a agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU), o risco global é "alto", e não "moderado" como havia informado anteriormente.
A correção foi feita em um relatório no qual a OMS informou que o risco é "muito alto na China, alto regionalmente e alto globalmente".
Em uma nota de rodapé do texto, a OMS explicou que havia declarado "incorretamente" em seus relatórios publicados nos três dias anteriores que o risco global era "moderado".
Esta correção não significa, no entanto, que uma emergência internacional de saúde tenha sido declarada. A porta-voz da OMS, Fadela Chaib, disse apenas que houve "um erro na redação" dos documentos.
Questionada sobre o significado da categorização de riscos, a OMS afirmou que "é uma avaliação global dos riscos, cobrindo a gravidade, a disseminação e a capacidade de lidar com eles".
OMS age com cautela após críticas
A OMS decidiu na quinta-feira não declarar o surto do novo coronavírus como uma emergência de saúde pública de interesse internacional — uma designação usada raramente, apenas para situações mais graves que podem demandar ações globais coordenadas para conter a transmissão de uma doença.
"É uma emergência na China. Ainda não se tornou uma emergência de saúde global, mas pode se tornar uma", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que está visitando a China nesta semana para discutir com especialistas e autoridades sobre a contenção do atual surto.
A abordagem cautelosa da OMS desta vez ocorre após a agência ter sido criticada no passado por ter sido lenta ou rápida demais ao empregar o termo em situações semelhantes — ele foi usado pela primeira vez na pandemia do vírus H1N1, em 2009.
Naquele surto, a agência da ONU foi criticada por provocar pânico na compra de vacinas ao anunciar que o surto atingira proporções de pandemia (termo usado para descrever uma epidemia que atinge escala global) e, depois, ter sido descoberto que aquele vírus não era tão perigoso quanto se pensava.
Mas, em 2014, a OMS recebeu duras críticas por demorar em decretar uma emergência e subestimar a gravidade da epidemia de ebola que devastou três países da África Ocidental, matando mais de 11,3 mil pessoas até o final de 2016.
O que é o novo coronavírus?
Nomeado oficialmente de 2019-nCoV, o novo coronavírus causa infecção respiratória aguda. Os sintomas começam com uma febre, seguida de tosse seca e, depois de uma semana, falta de ar. Ainda não há cura, nem vacina.
Em humanos, o período de incubação — no qual a pessoa tem a doença, mas nenhum sintoma — varia entre um e 14 dias, segundo as autoridades. Sem os sintomas, a pessoa pode não saber que tem a infecção, mas já espalhar a doença.
Este novo coronavírus é similar a outros dois identificados nas últimas décadas. Um deles foi responsável por causar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês), e matou 774 das 8.098 infectadas em uma epidemia que começou na China em 2002.
Outro esteve por trás da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que matou 858 dos 2.494 pacientes identificados com a infecção desde 2012 nesta região do mundo.
De acordo com a OMS, até a manhã desta segunda-feira, havia 2.780 casos confirmados por exames de laboratório em todo o mundo, dos quais 2.744 pacientes foram diagnosticados na China — 461 foram considerados graves e 80 morreram.
"Fora da China, estamos cientes de 37 casos relatados em 12 países", disse Maria Van Kerkhove, da unidade de doenças emergentes e zoonoses da OMS.
Governo chinês restringe viagens
Diversas cidades chinesas adotaram restrições significativas de viagens. A cidade de Wuhan, onde o surto começou, está em total quarentena.
O ministro da Saúde chinês, Ma Xiaowei, disse que a capacidade do vírus de se espalhar parece estar aumentando.
Autoridades anunciaram que a venda de animais selvagens está proibida no país todo. Acredita-se que o vírus surgiu em animais, mas nenhuma causa foi oficialmente identificada.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado emitiu um comunicado pedindo aos americanos que tenham uma viagem programada para a China que reavaliem a necessidade de fazer isso.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), órgão americano de saúde pública, há 110 pacientes em 26 Estados do país sendo avaliados quanto à possibilidade de estarem infectados , dos quais 5 tiveram resultados positivos e 32 tiveram resultados negativos em exames para a detecção do novo coronavírus.
"Esse é um número cumulativo e só aumentará", disse Nancy Messonnier, diretora do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias.