Obama, o Nobel da Paz que se tornou o 1º presidente dos EUA a estar em guerra durante todos os dias de seu governo

19 jan 2017 - 07h47
(atualizado às 09h23)
Obama esteve em guerra durante todo o tempo que esteve no poder
Obama esteve em guerra durante todo o tempo que esteve no poder
Foto: Getty Images

Muitos chegaram a perceber a ironia. Barack Obama, que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2009 quase que como "presente de boas-vindas" à Casa Branca, passou os seus dois mandatos em guerra.

Na verdade, o presidente que deixará o cargo nesta sexta-feira é o primeiro a completar oito anos completos de gestão com tropas de seu país em combate ativo.

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Nem mesmo Franklin Roosevelt, o presidente que encabeçou o esforço militar americano na Segunda Guerra Mundial, passou tanto tempo em guerra.

"Obama será lembrado como um presidente de tempos de guerra, o que é irônico, porque isso é a última coisa que ele planejava ou desejava", disse à BBC Eliot Cohen, professor de história militar na Universidade Johns Hopkins.

"Mas ele lançou nossa terceira guerra no Iraque (contra o Estado Islâmico), permaneceu no Afeganistão, expandiu a campanha alvejando terroristas e apoiou a empreitada europeia para derrubar Khadafi na Líbia", afirmou.

Nem um dia de paz

Seu antecessor, George W. Bush, teve ao menos os primeiros meses de seu mandato - antes dos ataques de 11 de setembro de 2001 às torres gêmeas de Nova York - para aproveitar um governo sem guerras.

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E Bill Clinton, o último presidente do Partido Democrata antes de Obama pode se orgulhar de ter conseguido oito anos à frente do governo americano "em paz".

A realidade para Barack Obama, porém, foi diferente. Ele assumiu o cargo em 20 de janeiro de 2009 já "herdando" dois conflitos - os Estados Unidos tinham tropas de combate no Iraque e no Afeganistão.

Ele acabou conseguindo cumprir parcialmente sua promessa de reduzir drasticamente a presença militar americana no Iraque.

E no Afeganistão a situação é diferente hoje em comparação com o começo do seu mandato. Mas no dia 20 de janeiro de 2017, quando passar o posto a Donald Trump, Obama não poderá dizer que conseguiu terminar as guerras que herdou.

Obama não conseguiu cumprir sua promessa de campanha de tirar todas as tropas dos EUA do Iraque
Foto: Getty Images

Combate ativo

Estima-se que cerca de 8,4 mil soldados americanos ainda estejam servindo o Exército em missões no Afeganistão nesse final de mandato de Obama.

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E ainda há combates. Em 3 de novembro, por exemplo, na cidade afegã de Kunduz, dois soldados americanos morreram e dois outros ficaram feridos em uma batalha contra o Talebã.

Os Estados Unidos lançaram bombardeios aéreos na zona de conflito contra tropas do Talebã que ameaçavam tomar a cidade.

E em 8 de janeiro, Obama enviou 300 fuzileiros à província de Helmand, uma das mais problemáticas do Afeganistão.

É a primeira missão de tropas americanas na região desde 2014.

E não é só no Afeganistão que as tropas americanas estão engajadas em conflitos. A guerra contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria custou sete vidas americanas em situações de combate desde 2016.

Ao final do seu mandato, Barack Obama deixará cerca de 4 mil militares americanos no Iraque.

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Militares americanos também participaram de ações na Líbia, no Paquistão, na Somália, e no Iêmen.

Presidente das guerras?

Mas apesar de ser o primeiro mandatário a completar dois mandatos com o país envolvido em guerras, ele dificilmente entrará na história dos EUA como o "presidente das guerras".

Afinal, ele recebeu um governo com 200 mil soldados em guerra no Iraque e no Afeganistão. Agora, após oitos anos, ele termina seu mandato com uma presença militar de menos de 10% desse número em outros países.

E se tivesse forçado a retirada de todos os soldados da região, com certeza teria enfrentado resistência e ouvido reclamações de muitos americanos que consideram indispensável a presença militar dos Estados Unidos para garantir a segurança do país no exterior e dentro de suas próprias fronteiras.

Obama também ouviu muitas críticas quando, durante seu mandato, resistiu a ordenar intervenções militares em lugares como Síria e Líbia.

No fim, Obama contrariou tanto pacifistas como os que queriam uma presença militar americana mais ativa em áreas de conflito.

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Em dezembro de 2009, ao receber o prêmio Nobel da Paz, Obama disse em seu discurso: "Não trago comigo hoje a solução definitiva para o problema da guerra."

E acrescentou: "Há de se aceitar a dura realidade. Não encerraremos nunca o conflito violento em nossas vidas."

Desde o início de seu primeiro mandato, ele parece ter tentado reduzir as expectativas sobre possíveis mudanças que poderia trazer.

Mas isso não atenua a decepção para os que esperevam um "presidente da paz".

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