Assange testa paciência do Equador em busca por vaga de senador

5 set 2013 - 10h43
(atualizado às 10h48)

Estaria Julian Assange prestes a mudar seu domicílio, da embaixada do Equador em Londres para uma vaga no Senado australiano? A resposta curta é: provavelmente não. A pergunta que fica é: como alguém faz campanha para o Congresso da Austrália enquanto mora em solo equatoriano na Inglaterra?

O fundador do WikiLeaks lançou sua campanha no dia 25 de julho em uma ligação de Skype - cheia de interrupções - para partidários seus no Estado de Victoria, que se reuniram em uma biblioteca. Antes de a imagem do Skype falhar, Assange explicou que seu partido, o Partido WikiLeaks, "trará o jornalismo investigativo para o coração do Senado australiano e cobrará as obrigações do governo".

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O professor de lei constitucional da Universidade de New South Wales, George Williams, disse que a campanha de Assange é inédita. "Normalmente, os políticos põem ênfase nos seus laços com a comunidade. Por isso, concorrer estando enfurnado em uma embaixada fora do país é bastante audacioso", diz Williams.

Assange está morando na embaixada equatoriana há mais de um ano, para evitar extradição para a Suécia, onde a polícia quer interrogá-lo por acusações em um caso de assédio sexual. Ele teme que, caso deixe a embaixada, esteja vulnerável a uma eventual extradição para os Estados Unidos, onde poderia ser processado por espionagem, depois que o WikiLeaks revelou documentos americanos secretos.

Apesar de não ter sido condenado ou sequer indiciado por qualquer crime, a frágil situação de Assange o expõe a diversos problemas, mesmo caso consiga ser eleito. "A questão legal que surge está na seção 20 da Constituição. Ela afirma que a vaga do senador se torna nula caso ele não apareça em sessões no Senado por dois meses consecutivos sem permissão do Senado. E ele precisaria aparecer para tomar posse", diz Williams.

Abertura radical

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Estas complicações não desanimaram Assange. No último mês, ele tem tentado se conectar com eleitores de dentro da sala de imprensa da embaixada equatoriana através do Skype, Google Hangouts e YouTube - alguns deles testando a hospitalidade do Equador.

Em uma paródia recente, Assange ironiza os políticos australianos. Vestindo uma peruca loira, ele dubla a canção You're the Voice (Você é a voz), de John Farnham. O vídeo não foi bem recebido pelo presidente do Equador, Rafael Correa, que soltou uma nota oficial.

"As regras do asilo em princípio proíbem intromissão na política do país que concede asilo. Mas como cortesia não vamos impedir Julian Assange de exercer seu direito de ser candidato. Mas só enquanto ele não zombar de políticos ou pessoas australianas."

O Partido WikiLeaks tem seis candidatos concorrendo a vagas no Senado australiano. Assange lidera as iniciativas políticas de mudanças climáticas, tributárias, de concessão de asilos, de liberdade de expressão e de "abertura radical".

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No entanto, a sigla já sofreu um golpe em seu começo. Uma briga interna levou à renúncia de Leslie Cannold, um dos mais conhecidos nomes do Partido WikiLeaks, que concorria à vaga também no Estado de Victoria. Muitos voluntários do partido deixaram a sigla junto com Cannold.

Mas Assange segue otimista. "Vai ser uma briga dura, mas nossas chances são boas", disse Assange à agência de notícias Associated Press.

"Sem apoio"

A mensagem de Assange tem ressonância em alguns setores do eleitorado. A famosa jornalista e ativista de direitos humanos australiana Mary Kostakidis aderiu à campanha. Ela se diz uma "otimista cautelosa" em relação às chances de Assange. "Com seu trabalho junto ao WikiLeaks, ele cativou a imaginação do público."

Mas o consenso geral é que as chances do fundador do WikiLeaks são remotas. Antony Green, analista político da ABC (principal TV australiana), disse que Assange é muito famoso, mas apesar disso não tem muitas chances. "Ele simplesmente não tem apoio popular. Ele não conseguirá votos suficientes para se eleger", diz Green.

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A tarefa não é fácil. Assange concorre com outros 96 candidatos de 40 partidos diferentes por apenas seis vagas em Victoria. Para Rodney Smith, especialista em política da Universidade de Sydney, partidos pequenos têm muitas dificuldades em pleitos australianos. "Como muitas siglas, o Partido WikiLeaks subestimou o tempo e o esforço necessários para construir um partido pequeno", diz ele.

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