Onde está o exército libanês em meio ao conflito entre Israel e Hezbollah?

A ausência do exército libanês na crise atual levanta dúvidas sobre a capacidade da instituição para enfrentar um conflito de grandes proporções.

3 out 2024 - 07h24
(atualizado em 4/10/2024 às 15h13)
Após Israel atacar o Hezbollah com uma série de explosões de dispositivos eletrônicos pessoais, um soldado do exército libanês patrulha a área de uma suposta explosão de pager em 18 de setembro
Após Israel atacar o Hezbollah com uma série de explosões de dispositivos eletrônicos pessoais, um soldado do exército libanês patrulha a área de uma suposta explosão de pager em 18 de setembro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O conflito atual entre Israel e o grupo militante Hezbollah tem como base duas posições claramente definidas, estabelecidas há mais de quatro décadas.

Israel diz que está determinado a eliminar a ameaça que o Hezbollah representa no Líbano, enquanto o Hezbollah continua a ter como alvo posições israelenses num esforço para destruir o estado de Israel.

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Nos últimos 11 meses, hostilidades diárias entre os dois lados aumentaram ainda mais a tensão.

Com uma invasão israelense em curso no Líbano, a primeira desde 2006, muitos se perguntam onde está o exército libanês e o que fez para evitar que se chegasse a esse ponto - dadas as consequências dessa escalada para toda a região.

Forças do exército libanês preparam-se para explodir um dispositivo de comunicação encontrado no chão no sul do Líbano, dois dias após milhares de pagers explodirem e um dia após a explosão de walkie-talkies
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

É o exército libanês ou o Hezbollah que defende o Líbano?

À primeira vista, o exército libanês tem estado ausente das hostilidades, já que Israel e o Hezbollah — considerado uma organização terrorista pelos EUA, Reino Unido e outros países — assumiram o protagonismo.

Teoricamente, é função do exército lutar contra inimigos da nação e Israel é oficialmente um inimigo do Líbano.

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Mas o exército libanês não tem equipamento e arsenal necessário para isso.

O exército israelense é fortemente equipado e é o país que mais recebe apoio das potências ocidentais — tanto financeiramente quanto em termos do arsenal mais avançado.

Além disso, há uma crença generalizada respaldada por depoimentos de vários ex-oficiais de alta patente, de que os EUA exerceram ativamente pressão contra consecutivos governos libaneses para impedir que o estado adquirisse armas sofisticadas que pudessem representar uma ameaça a Israel.

Uma profunda crise econômica — agravada pela explosão devastadora do depósito de fertilizantes de Beirute em 2020 — piorou muito as coisas para o exército libanês. A falta de fundos afetou seu contingente e suas necessidades operacionais básicas, como combustível.

Soldados protegem a área em líderes do grupo Frente Popular para a Libertação da Palestina foram mortos por um ataque aéreo israelense em Beirute
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Doações dos EUA ao exército libanês

Para tornar a situação ainda mais complicada, os EUA, considerados o maior inimigo do Hezbollah, são os principais doadores do exército libanês. Por um período, Washington contribuiu para os baixos salários do efetivo do exército do Líbano.

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Mas hoje a ajuda é restrita a veículos, acessórios e armas individuais e não se compara à ajuda fornecida a Israel.

Enquanto isso, alguns observadores destacam que a ineficácia do exército libanês contra Israel é semelhante à de todos os outros exércitos nacionais na região.

"Nem o exército libanês nem nenhum exército árabe tem capacidade de enfrentar o inimigo israelense", diz o general Mounir Shehade, ex-coordenador do governo libanês para a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil).

"Com o exército israelense, nenhuma luta é adequada, exceto a guerra de guerrilha, semelhante ao que aconteceu em Gaza."

Soldados do exército libanês guardam a entrada de um hospital em Beirute no dia em que os pagers explodiram, matando dezenas de pessoas e ferindo milhares
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Khalil El Helou, um general aposentado do exército libanês, diz que "o papel do exército libanês é manter a estabilidade interna, porque hoje a situação interna é delicada. O deslocamento de meio milhão de apoiadores libaneses do Hezbollah para áreas que são contra o grupo gera atritos que podem se transformar em agitação de segurança e talvez uma guerra civil", diz ele.

Após o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por Israel, o exército libanês deslocou forças para muitas áreas consideradas "sensíveis", em que há grande possibilidade de tensão entre diferentes grupos do país.

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No último domingo, El Helou pediu aos "cidadãos que preservassem a unidade nacional", em um comunicado, enfatizando que continuava a tomar medidas para preservar a paz civil no país.

Soldados do exército libanês montam guarda perto de um hospital em Beirute
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O exército libanês está lutando contra Israel?

Mas o exército desempenha algum papel nas hostilidades atuais? Efetivamente não.

O exército está presente, no entanto, no sul e em números significativos. Recentemente um soldado libanês foi morto por um drone israelense que atingiu uma motocicleta enquanto ela passava por um posto de controle.

Além disso, qualquer cessar-fogo futuro provavelmente envolverá uma maior presença do exército no sul, algo que já vem sendo insinuado pelo primeiro-ministro libanês.

Tudo isso, no entanto, envolverá seu próprio conjunto de desafios. Mais pessoal é necessário e, para isso, mais dinheiro é necessário — fundos que o exército simplesmente não tem.

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