'Operação Esperança': como foi o resgate de crianças desaparecidas na selva colombiana por 40 dias

Quase 200 pessoas viajaram quilômetros pela densa selva amazônica para encontrá-las

10 jun 2023 - 07h39
(atualizado às 08h21)
As crianças são sobreviventes da queda de um avião Cessna 206 em 1º de maio
As crianças são sobreviventes da queda de um avião Cessna 206 em 1º de maio
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Os irmãos Soleiny, Tien, Lesly e Cristin passaram mais de 40 dias sozinhos e perdidos na selva, depois que o avião em que viajavam com sua mãe caiu em uma área de floresta na Colômbia - ela e outros dois adultos (incluindo o piloto) morreram.

As forças militares colombianas encontraram as quatro crianças - de 9, 4, 13 e 1 anos, respectivamente - bem, mas com sinais de desidratação e picadas de insetos na sexta-feira (9/6). Elas foram levadas de helicóptero para receber atendimento médico em um hospital.

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A operação de buscas que terminou com sucesso começou em meados de maio, quando tropas do Exército chegaram ao local do incidente, ocorrido no dia 1 do mesmo mês, e encontraram apenas os corpos dos 3 adultos que os acompanhavam. As crianças tinham desaparecido.

Desde então, cerca de 120 policiais uniformizados e 70 indígenas integravam a "Operação Esperança" de resgate.

Eles percorreram cerca de 1.250 quilômetros de selva densa entre os departamentos colombianos de Caquetá e Guaviare com a ajuda de helicópteros e cães de resgate.

Os militares compartilharam algumas fotos das crianças após o resgate
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"Colocamos todos os recursos possíveis para encontrá-los", disse o capitão Carlos Vargas, membro da equipe de comunicações do Exército, à BBC Mundo em maio.

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As condições climáticas da busca foram tão adversas que 14 indígenas tiveram que abandonar a missão devido a problemas de saúde.

A voz da avó

Parte da estratégia usada pela operação consistia em reproduzir repetidamente a voz de Fátima, a avó das crianças, por meio de alto-falantes. Ela lhes dizia, em espanhol e em sua língua indígena nativa, que as estavam procurando. "Vocês têm que ficar parados", dizia a mensagem.

O comandante do Conjunto de Operações Especiais da Colômbia, Pedro Sánchez, explicou que a operação trabalhava com três hipóteses: a de que os menores haviam morrido, que estavam sob o poder de dissidentes da ex-guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a que acabou sendo verdadeira, de que eles estavam vivos, sozinhos e perdidos.

"Eles estavam sozinhos. Eles deram um exemplo de sobrevivência que ficará para a história", declarou o presidente colombiano, Gustavo Petro, na sexta-feira.

A busca pelas crianças contou com a colaboração do governo, das comunidades indígenas e do Exército nacional, algo que a vice-presidente Francia Márquez destacou como importante para que os menores fossem encontrados.

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"Quando colocamos o conhecimento e as instituições para trabalhar persistentemente a serviço do povo, podemos resolver, salvar vidas e construir coletivamente a esperança", escreveu no Twitter.

Durante a busca pelos menores, foi encontrada uma pegada
Foto: FORÇAS ARMADAS DA COLÔMNBIA / BBC News Brasil

As pistas

A atenção da mídia voltou-se para a operação depois que as equipes de resgate encontraram evidências de que as crianças estavam vivas: uma fralda, restos de frutas mordidas, uma mamadeira rosa e um "abrigo improvisado feito de gravetos e galhos".

"Presumimos que as crianças que estavam dentro da aeronave estejam vivas. Encontramos alguns vestígios em uma posição diferente e distante de onde a aeronave foi deixada (...) Também encontramos um possível local onde as crianças poderiam ter se refugiado e continuamos a busca", disse um porta-voz do exército em 18 de maio.

A pista que acabou sendo fundamental na busca foram as pegadas de uma das crianças ao lado das de um cachorro. Segundo um dos comandantes da missão, elas pertenciam a Wilson, um dos três cães que fazia parte do grupo de buscas e que havia se perdido alguns dias antes.

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"Onde encontramos os últimos rastros, encontramos os rastros de um cão. Acreditamos que o cachorro os encontrou e os acompanhou", disse Lucho Acosta, coordenador nacional da guarda indígena.

Após o resgate das crianças, foi confirmado que o cachorro continua desaparecido.

O avião foi encontrado em meados de maio
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O acidente

No dia do acidente, a família viajava para se encontrar com o pai, Manuel Ranoque, líder indígena que havia fugido de Araraucara em decorrência de ameaças de grupos armados ilegais.

O avião fazia o trajeto de Araracuara a San José del Guaviare com sete pessoas a bordo, incluindo o piloto.

Ele relatou problemas com o motor do avião Cessna 206 minutos antes de a aeronave desaparecer do radar, segundo a agência de resposta a desastres da Colômbia.

A região da selva onde o avião caiu tem poucas estradas e é de difícil acesso por água, por isso o transporte aéreo é comum.

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