Argentina denuncia operação mundial em morte de promotor

17 fev 2015 - 16h54
(atualizado às 17h07)

O chanceler argentino, Héctor Timerman, disse nesta terça-feira que a Argentina é alvo de operações de inteligência vinculadas ao conflito no Oriente Médio, às vésperas de uma marcha multitudinária da oposição em repúdio à morte do promotor Alberto Nisman, que investigava um atentando antissemita.

"O povo argentino não pode tolerar ser o teatro de operações de inteligência de fatos que são completamente alheios aos seus costumes e à sua condição de terra de redenção para milhões de perseguidos por sua etnia, religião ou política", disse Timerman, em mensagem transmitida pela televisão, ao ler cartas enviadas aos governos de Estados Unidos e Israel.

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A mobilização foi convocada para esta quarta-feira por setores judiciais que enfrentam o governo e os principais candidatos presidenciais da oposição às eleições de outubro. A marcha é celebrada um mês depois do aparecimento do corpo do promotor Alberto Nisman, com um tiro na cabeça, em seu apartamento.

Nisman acusou o Irã de ter cometido, em 1994, o atentado contra a mutual judaico-argentina AMIA, que deixou 85 mortos e 300 feridos, e quatro dias antes de sua morte misteriosa, ele tinha denunciado a presidente, Cristina Kirchner, por proteger os ex-governantes iranianos suspeitos, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani.

Timerman disse que a Argentina virou alvo "de outros Estados em seus interesses geopolíticos e de uma campanha de propaganda aberta ou encoberta. Meu país repudia tais atos".

Na carta enviada ao secretário de Estado americano, John Kerry, o chanceler disse que "a Argentina lamenta que seu governo não tenha aceitado nosso pedido de que o caso AMIA fosse incluído nas negociações com o Irã. Hoje, volto a solicitar que seja incluído".

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Os Estados Unidos, acompanhados de outras cinco potências ocidentais, mantêm conversações para evitar que o Irã desenvolva armas nucleares.

Em 2013, a Argentina assinou um acordo com o Irã para levar os ex-governantes suspeitos perante uma comissão investigadora internacional, diante da paralisia de duas décadas do caso AMIA, mas o promotor Nisman e os líderes da numerosa representação judaica se opuseram de forma enérgica.

Nisman e os líderes da comunidade judaica consideraram que Teerã não é confiável neste tipo de acordo.

Em 14 de janeiro passado, Nisman acusou Kirchner de acobertar os funcionários iraquianos em troca de petróleo, embora o óleo bruto iraniano seja inutilizável nas refinarias argentinas.

"A Argentina não tem nenhum interesse estratégico no Oriente Médio", disse Timerman.

Nisman afirmou, ainda, em sua acusação a Kirchner, que a Argentina pediu para suspender os pedidos de captura internacional dos iranianos, mas a Interpol o desmentiu, ao afirmar que só um juiz pode fazer um pedido semelhante.

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Também nesta terça-feira, o presidente boliviano, Evo Morales, saiu em defesa da colega argentina, ao afirmar que ela é alvo de um "golpe judicial".

"O que está acontecendo na Argentina? Depois de uma tentativa de agressão econômica, mediante os chamados 'fundos abutres' (fundos especulativos), agora vem um golpe judicial", disse Morales durante transmissão de um programa de rádio em que atuou como locutor na região cocalera de Chapare (centro), onde teve origem sua vida política.

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