A blogueira cubana Yoani Sánchez, mais conhecida ativista de oposição do país, foi recebida com protestos ao desembarcar nesta segunda-feira no Brasil, a primeira parada de uma viagem por diversos países após ter sido finalmente autorizada a deixar a ilha.
Uma dezena de manifestantes a favor do regime comunista cubano usou cartazes acusando Yoani de agir sob influência dos Estados Unidos, em um protesto no desembarque da ativista no aeroporto de Salvador, nesta manhã. A cubana já havia sido alvo de manifestantes ao desembarcar na madrugada em Recife, onde fez uma escala antes de seguir para a Bahia.
"Viva a democracia, em meu país também quero essa democracia", disse Yoani a repórteres no aeroporto do Recife. Em Salvador, ela foi retirada do aeroporto por uma saída lateral da Infraero para evitar os manifestantes.
A blogueira cubana deve participar de uma série de debates e eventos com temáticas sociais no município baiano de Feira de Santana e assistirá a uma exibição do documentário "Conexão Cuba x Honduras", do cineasta Dado Galvão, no qual ela é uma das entrevistadas.
"Yoani Sánchez não é uma cidadã que livremente expressa sua opinião com relação ao seu governo, é uma pessoa financiada por um país estrangeiro para falar, e inclusive para falar mentiras e inverdades sobre Cuba", disse Caio Ferreira, de 25 anos, integrante da União da Juventude Socialista.
A visita da dissidente também levou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) a apresentar requerimentos à mesa do Senado solicitando a presença dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e do embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, para esclarecer denúncia feita pela revista Veja, no fim de semana, sobre um possível plano para espionar Yoani no Brasil.
Segundo a reportagem, o esquema teria sido montado pelo governo cubano, mas seria executado com o conhecimento e o apoio de militantes do PT e até de um funcionário da Presidência da República.
"Diferentemente de Cuba, o Brasil goza de uma plenitude democrática que se estende à liberdade de imprensa e, principalmente, de manifestação pública de todos os seus cidadãos", disse o senador no texto dos requerimentos.
O chanceler Patriota disse que desconhecia o requerimento apresentado no Senado, mas afirmou que o país sempre deixou claro que daria condições para a visita da cubana.
"O Brasil sempre deixou claro que forneceria condições para a blogueira Yoani Sánchez entrar no território nacional e foi concedido um visto para ela", disse Patriota a jornalistas.
A Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou na noite desta segunda-feira em nota que o funcionário do Planalto esteve na Embaixada de Cuba para obter um visto de entrada na ilha e participou de uma reunião sobre política migratória cubana e a vinda de Yoani ao país.
"Na reunião, em que não permaneceu até o final, o servidor recebeu um CD com informações sobre Yoani Sánchez, do qual não fez qualquer uso", afirmou a secretaria-geral.
Yoani, de 37 anos, recebeu seu passaporte há duas semanas, graças à abrangente reforma de imigração cubana que entrou em vigor neste ano, depois de ter seu pedido para viajar negado mais de 20 vezes nos últimos cinco anos.
Ela ganhou uma série de prêmios internacionais por seu blog "Geração Y", mas não conseguiu permissão para viajar e recebê-los. A cubana disse que vai fazer isso agora e que pretende usar parte do dinheiro dos prêmios para "fundar uma imprensa livre em Cuba".
(Reportagem de Sérgio Queiroz, com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello e Anthony Boadle, em Brasília)