Um tribunal no Afeganistão emitiu um parecer histórico ao usar amostras de DNA para condenar um homem pelo estupro repetido de sua filha.
A vítima, que não pode ser identificada para que sua segurança seja preservada, foi violentada durante mais de 10 anos e teve dois filhos com o pai.
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A violência contra mulheres no Afeganistão é endêmica e vítimas de crimes sexuais são frequentemente presas por "crimes morais".
Incesto
No ano passado, quando o julgamento de seu pai foi suspenso por conta do pedido da corte por amostras de DNA, encontrei a vítima pela primeira vez.
Ela estava grávida e tinha no colo uma menina de quatro anos.
"Essa é minha filha e também filha do meu pai", contou a mulher.
"Minha filha é o resultado de ter sido estuprada por meu pai. Ela é minha filha e minha irmã ao mesmo tempo".
De acordo com a vítima, os abusos começaram quando ela tinha apenas 12 anos. O pai tinha vivido oito anos no exterior, no Irã.
"Esperava que meu pai fosse me tratar como meus tios tratavam meus primos. Por anos fui privada de contato com ele".
Ela conta que o pai a tocava nas partes íntimas.
"Reclamei com a minha avó, mas ela me disse que todos os pais acariciam suas filhas".
Até que, numa noite, ela foi violentada pela primeira vez.
Abortos
Quando ficou grávida a primeira vez, o pai mudou a família para uma outra Província afegã. O bebê nasceu, mas foi levado embora pelo pai.
Nos anos seguintes ela sofreu vários estupros, passando por múltiplos episódios de gravidez e abortos. Mas uma das crianças sobreviveu.
"Fiquei com o bebê e não o abortei", contou ela.
"Era a chance que tinha de provar as acusações contra meu pai. Era minha única prova".
Com ajuda de sua mãe, a mulher finalmente conseguiu colocar fim aos abusos. O último ataque, ela conta, aconteceu em julho do ano passado.
"Minha mãe e eu contamos toda a história para líderes religiosos e comunitários e para a polícia. Fomos aconselhados a informá-los se isso acontecesse mais uma vez".
Na mesma noite, o pai mandou a mulher sair de casa e tentou violentar a filha mais uma vez. Foi preso quando a mulher voltou com a polícia e líderes tribais.
Teste
A prisão ainda não foi o fim do drama da filha. No julgamento, o pai negou as acusações e ainda disse que filha tinha relacionamentos com uma série de outros homens.
O juiz suspendeu os procedimentos e pediu exames de DNA. O problema é que no Afeganistão não há laboratórios que realizam testes genéticos. Grupos de defesa dos direitos das mulheres, porém, conseguiram, depois de um ano de lobby, que uma empresa americana fizesse os testes. De graça.
"Se não fizéssemos o teste, minha cliente teria sido punida de acordo com as leis afegãs", explica Ruhulla, advogada da mulher.
Quando os resultados voltaram, ficou provado o ataque sexual do pai. Ele foi condenado à morte - entrou com um um recurso.
O uso de DNA como prova é extremamente incomum em casos judiciais no Afeganistão.
Mesmo que o pai seja executado, a vítima permanece com medo.
"Estou preocupado com o futuro dos meus filhos. O que direi para eles quando forem mais velhos e me perguntarem sobre o pai deles?"