Entenda o que é um califado

Rebeldes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) pediram a todos os muçulmanos que jurem lealdade a seu chefe, proclamado califa, o que representa uma ameaça para o papel da Al-Qaeda na causa jihadista mundial

30 jun 2014 - 11h44
<p>Tanques das forças iraquianas se dirigem às suas posições em uma intensa mobilização de segurança, a oeste de Bagdá, no Iraque, em 24 de junho</p>
Tanques das forças iraquianas se dirigem às suas posições em uma intensa mobilização de segurança, a oeste de Bagdá, no Iraque, em 24 de junho
Foto: Ahmed Saad / Reuters

Os jihadistas sunitas que proclamaram a criação de um califado nas zonas conquistadas do Iraque e Síria se apresentam como herdeiros de um regime que existiu da época do profeta Maomé até um século atrás.

O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que a partir de agora se chama Estado Islâmico (EI), pediu a todos os muçulmanos que jurem lealdade a seu chefe, proclamado califa, o que representa uma ameaça para o papel da Al-Qaeda na causa jihadista mundial.

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Depois da morte do profeta Maomé, em 632, seus seguidores concordaram com a criação do califado, que significa sucessão em árabe, como um novo sistema de governo.

O califa é literalmente o sucessor do profeta como chefe da nação e líder da "umma", comunidade de muçulmanos, e tem o poder de aplicar a lei islâmica (sharia) na terra do Islã.

Uma eleição em duas etapas escolheu o primeiro califa: os representantes das comunidades muçulmanas o designaram antes que seu nome fosse proposto ao povo para que lhe jurasse lealdade.

No entanto, desde o primeiro dia, existe uma disputa entre os muçulmanos sobre o conceito de califado, que se mantém principalmente como um sistema sunita. Os xiitas acham que o primo e genro de Maomé, Ali Ibn Abi Talib, e seus descendentes têm o direito divino de dirigir os muçulmanos depois da morte do profeta.

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Os sucessivos califas expandiram o império islâmico do oeste até a atual Arábia Saudita.

A expansão do território do Islã sempre representou uma parte do papel do califado. Por exemplo, em seu apogeu, o Império Otomano abarcava o Oriente Médio e o norte da África, o Cáucaso e partes do leste da Europa.

Para os muçulmanos mais fervorosos, o califado durou até sua abolição na Turquia como consequência do desaparecimento do Império Otomano depois da Primeira Guerra Mundial.

No entanto, acredita-se que o califado tenha durado apenas três décadas, durante o governo dos primeiros quatro sucessores de Maomé, conhecido como os Quatro Califas Bem Guiados ou os Quatro Califas Ortodoxos.

Posteriormente, várias dinastias lutaram pelo poder e governaram os territórios do vasto império, como os Omíadas em Damasco (661-750), os Abássida em Bagdá (750-1258), os Omíadas em Córdoba (929-1031) e os Otomanos na Turquia (1453-1924).

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Apesar de os dirigentes destas dinastias adotarem o título de califa, os processos de sucessão foram essencialmente hereditários.

Em março de 1924, o presidente turco, Mustafa Kemal Atatürk, aboliu constitucionalmente a instituição do califado.

O Islã político defende a sharia como um sistema de vida, incluindo a política.

O fundador da Irmandade Muçulmana, Hassan al Bana, considerava o califado um símbolo da unidade islâmica e seu restabelecimento era o objetivo da organização, apesar de afirmar que o califado deveria ser precedido por um acordo de cooperação entre os estados muçulmanos.

O Hizb ut Tahrir (Partido da Libertação) é um grupo pan-islâmico criado em 1953, que defende a unificação dos países muçulmanos sob um califado.

"O grande sonho da Al-Qaeda era a criação de um Estado Islâmico desde os atentados de 11 de setembro", segundo Mustafá al Ani, do Gulf Research Centre.

Para os jihadistas, o anúncio do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) é apenas "o núcleo do califado, que se expandirá com a queda de outros estados", explicou.

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Os talibãs instalaram em 1996, no Afeganistão, um emirado islâmico, que dirigiu o país até sua queda, depois da intervenção dos Estados Unidos em 2001.

Um estado islâmico poderá subsistir na atual conjuntura "caracterizado pela fragilidade do poder em Bagdá e na ausência de uma intervenção estrangeira", afirma Ani.

Para manter-se, o califa deve "acabar com outros grupos islamitas que não sejam leais, castigar qualquer tentativa de insurreição popular, reforçar capacidades defensivas e generalizar os tribunais islâmicos", concluiu.

Foto: Arte Terra

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