Estado Islâmico desafia Al Qaeda por território no Iêmen

Enquanto Al Qaeda diz que não ataca mesquitas para evitar mortes de inocentes, Estado Islâmico reivindicou autoria de atentado que deixou 142 mortos

21 mar 2015 - 13h15
(atualizado às 14h27)

Com os sangrentos atentados cometidos no Iêmen na sexta-feira, o grupo Estado Islâmico (EI) desafia a Al Qaeda na luta por conquistar uma população sunita descontente e confrontada com os xiitas, que controlam o poder em Sanaa, avaliam especialistas.

<p>Uma menina ferida reage enquanto é carregada para fora de mesquita atacada pelo Estado Islâmico em Sanaa, no Iêmen</p>
Uma menina ferida reage enquanto é carregada para fora de mesquita atacada pelo Estado Islâmico em Sanaa, no Iêmen
Foto: Khaled Abdullah / Reuters

Pelo menos 142 pessoas morreram e outras 351 ficaram feridas em atentados suicidas de sexta-feira contra duas mesquitas de Sanaa, frequentadas por fiéis e milicianos xiitas hutis, que desde janeiro passado controlam a capital iemenita.

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O grupo Estado Islâmico informou que estes atentados, os mais mortais cometidos até hoje em Sanaa, foram apenas "a ponta do iceberg".

Ao contrário, a Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), também sunita, reafirmou que não ataca "mesquitas e mercados" para evitar a morte de "inocentes".

O massacre de sexta aconteceu 48 horas depois do ataque ao Museu do Bardo, na Tunísia, que deixou 20 turistas estrangeiros mortos, e foi reivindicado pelo Estado Islâmico, o que leva a crer que o grupo jihadista tenha lançado uma campanha de ataques coordenados, estimam os analistas.

Mergulhado na anarquia e em uma guerra civil, o Iêmen está dividido em dois.

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O nordeste é controlado desde setembro do ano passado pelos hutis, apoiados pelo Irã. O sudeste é dominado pelas forças aliadas ao presidente Abd Rabo Mansur Hadi, vinculado à Arábia Saudita, que fugiu de Sanaa e se refugiu em Áden.

No mundo jihadista, o Iêmen era, até poucos meses atrás, domínio da AQPA, com forte presença no sul do país.

O grupo Estado Islâmico, que suplantou a Al Qaeda na Síria e no Iraque, após combates fratricidas, não tinha qualquer visibilidade no Iêmen.

Apesar dos enfrentamentos entre jihadistas na Síria e no Iraque, a AQPA conclamou em outubro passado os muçulmanos a apoiar o EI contra os "cruzados", o que foi interpretado como um indício de divisões dentro da Al Qaeda.

Em fevereiro, combatentes da Al Qaeda nas províncias iemenitas de Dhaar e Sanaa juraram lealdade ao líder do EI, Abu Bakr al Bagdadi.

"Desde que as milícias hutis tomaram o controle da capital e conquistaram parte do país, a Al Qaeda perdeu credibilidade, ao se mostrar incapaz de defender as províncias sunitas", explicou Mathieu Guidère, professor da universidade de Toulouse (França) e especialista no Islã.

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Com o massacre em Sanaa, o grupo Estado Islâmico "quer demonstrar à base jihadista sua capacidade para atingir o inimigo, que considera 'herege' com mais violência que a AQPA", acrescentou o professor francês de Relações Internacionais Jean-Pierre Filiu.

"Atualmente, seções inteiras da AQPA se inclinam ao" Estado Islâmico, diz Filiu.

Para Bagdadi "se trata de obter, a qualquer preço, a lealdade da AQPA e absorver, assim, a primeira geração jihadista", acrescentou.

"O Iêmen evolui para uma situação similar à da Síria e do Iraque, com uma guerra confessional, que confronta sunitas e xiitas", diz Guidère.

Para o EI, se trata de "defender os sunitas das agressões xiitas e estrangeiras" em Síria, Iraque e "agora no Iêmen", avalia o especialista.

O Estado Islâmico nunca escondeu a intenção de estender o território do califado para a Arábia Saudita, e o Iêmen, considerado o berço dos árabes, é um objetivo de primeira ordem", explica Guidère.

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"A organização continua com a estratégia de cercar a Arábia Saudita. Após as posições tomadas no norte da península (Iraque), agora se aproxima pelo flanco sul a partir do Iêmen", acrescenta.

Jean-Pierre Filiu vai mais longe, ao dizer que o grupo EI demostrou "sua capacidade de coordenar um vasto movimento de expansão, primeiro na Líbia, depois na Tunísia e agora no Iêmen, sem esquecer a afiliação do Boko Haram" na Nigéria.

"Isto é o prelúdio ao reinício de uma campanha terrorista no continente europeu", conclui Filiu, ao analisar o desenvolvimento do EI nas últimas semanas.

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