O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) saqueou sistematicamente sítios arqueológicos e museus localizados nas áreas sob seu controle no Iraque para vender essas relíquias com a única intenção de financiar sua guerra para seguir ampliando o tão ansiado "califado".
Estes saques de peças, acompanhado pela destruição de outros tesouros arqueológicos em nome de um islã que asseguram defender, foi denunciado por várias instituições nacionais e internacionais.
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A ONU, que considera o saque um de seus três principais meios de financiamento, junto com a venda de petróleo e os sequestros, reiterou em várias ocasiões sua determinação de preservar essas relíquias.
Vários especialistas iraquianos confirmaram à Agência Efe que contabilizaram o roubo de uma grande quantidade de peças, que posteriormente foram postas à venda em mercados de outros países a um alto preço, algumas inclusive através da internet.
Ibrahim al Jabouri, professor de Antiguidades da Universidade de Samarra, ao norte de Bagdá, lembrou que assim que o EI tomou, em junho do ano passado, o controle de Mossul, a segunda maior cidade do país, os extremistas depredaram "os objetos de pouco peso e muito valor" e os levaram fora do Iraque.
Depois, acrescentou o especialista, os jihadistas destruíram os sítios arqueológicos e os museus "para ocultar seu roubo por trás de outro crime, que não é menos importante que os crimes contra a humanidade cometidos pelo grupo".
A destruição dos lugares onde estavam guardadas essas antigas relíquias é uma tarefa que dificulta a identificação, a localização e o acompanhamento dos objetos roubados.
Al Jabouri lembrou que algo similar ocorreu após a intervenção americana no Iraque em março de 2003.
Aproveitando a guerra que estava ocorrendo, ladrões e traficantes assaltaram museus e sítios arqueológicos, especialmente o Museu Nacional Iraquiano, e roubaram os registros que continham a descrição completa, assim como o número e o tipo do conteúdo das peças.
Embora naquele momento o roubo não tenha sido feito em nome de nenhuma religião, ele complicou a recuperação das antiguidades roubadas.
Para este professor, os terroristas do EI utilizam, sem dúvida, especialistas no campo de antiguidades e com amplas relações no mercado de compra e venda deste tipo de objetos em outros países.
"Isso facilita a tarefa do contrabando e da venda através de intermediários interessados nessas valiosas relíquias", ressaltou.
Al Jabouri advertiu que, com a perda das instalações petrolíferas que controlavam no Iraque e na Síria e após o bombardeio pela aviação da coalizão internacional, a importância do tráfico de antiguidades ganhou mais força como fonte de financiamento.
Instituições e organizações de proteção de patrimônio internacional advertiram sobre a existência de operações de contrabando realizadas através de mediadores na Turquia, Síria e Israel.
Por sua vez, o especialista em História Antiga da Universidade de Tikrit, Ali Hazem, cifrou em "milhares de objetos" a quantidade de relíquias tiradas pelos extremistas nos últimos meses, de Mossul rumo às cidades sob seu controle na Síria.
As antiguidades, do século XII a.C., são vendidas em troca de elevadas quantias de dinheiro que os jihadistas utilizam "para financiar suas operações terroristas", assegurou Hazem.
Estes tesouros arqueológicos incluem selos, estátuas, moedas, documentos históricos, obras de arte, livros, manuscritos, entre outras peças que estavam expostas em museus, mesquitas e igrejas do norte do Iraque.
O governo iraquiano, através de seu primeiro-ministro, Haidar al Abadi, soou o alarme sobre estes roubos e o contrabando de peças arqueológicas, e pediu à comunidade internacional que enfrente o que seu ministro de Turismo, Fahd al Hurcab, qualificou de "um dos maiores crimes de todos os tempos".
Os saques perpetrados pela organização jihadista foram revelados após a divulgação de vários vídeos nos quais extremistas destroem, com enxadas e machados, estátuas e outras peças de diferentes museus e sítios arqueológicos na província de Ninawa.
Desde o final de fevereiro, os radicais destruíram as ruínas assírias de Nimrud do século XIII a.C. e da cidade de Hatra, Patrimônio da Humanidade da Unesco; o Museu da Civilização da cidade de Mossul, capital de Ninawa; e a jazida de Dur Sharrukin, capital assíria durante parte do reinado de Sargón II (722 - 705 a.C.).
Todas foram destruídas e saqueadas em nome da religião, com o objetivo de apagar os rastros do financiamento de seu "califado", no qual impõem a ferro e fogo sua visão retrógada do islã.