As divergências entre o povo palestino foram evidenciadas nesta terça-feira por ocasião do 10º aniversário da morte de Yasser Arafat, com o Fatah e o Hamas trocando acusações e insultos após uma série de ataques contra membros do Fatah em Gaza.
O presidente Mahmud Abbas lançou a primeira salva, acusando os líderes do Hamas de serem responsáveis pelos ataques e tentarem destruir o delicado processo de reconciliação assinado recentemente pelos dois rivais históricos.
O Hamas respondeu imediatamente, chamando as acusações de "mentiras", "insultos" e "desinformação", enquanto "o povo palestino precisa de um presidente corajoso".
As celebrações em memória de Arafat, que todos chamam por seu nome de guerra, Abu Ammar, deveriam ser a oportunidade de selar a reconciliação que deu origem a um governo de unidade. Invés disso, têm sido um detonador de crise, fazendo os palestinos entrarem em novas disputas.
Em Gaza, nenhuma bandeira ou retrato do falecido líder era visível e o palco montado para a cerimônia de comemoração ainda carrega as cicatrizes da explosão sofrida na sexta-feira.
"Abu Ammar encarna a unidade nacional", lembra Hajaj Refaat, um morador de Gaza de 30 anos. "Privaram-nos de viver este aniversário. Mas a história não perdoará aqueles que impedem o plano de Abu Ammar para a libertação da Palestina".
Ao invés de unidade sagrada, a Faixa de Gaza, onde o Hamas não está disposto a entregar as chaves do poder para a Autoridade Palestina de Mahmud Abbas, sucessor de Arafat e líder do seu partido Fatah, acordou nesta terça-feira mais dividida do que nunca.
Depois de uma série de explosões que tiveram como alvo casas e veículos de membros do Fatah, o Hamas anunciou que sua polícia não poderia garantir a segurança das celebrações que foram canceladas.
Os líderes do Fatah acusam o Hamas, que condenou os ataques e denunciou uma campanha contra ele. E a divisão, que levou em 2007 a uma quase guerra civil, se agravou.
Privado de sua vitória nas eleições legislativas de 2006, o Hamas expulsou um ano depois o Fatah de Gaza. Este ano, os palestinos reconciliados, formaram um governo de união e o Fatah foi autorizado pela primeira vez desde 2007 a celebrar o aniversário da morte de seu líder histórico em Gaza.
Mas a união não durou muito, e o contraste é marcante entre Gaza e Ramallah, capital da Autoridade Palestina. Nesta cidade da Cisjordânia ocupada, milhares de pessoas agitavam bandeiras amarelas do Fatah na Mukata'ah, onde Arafat foi sepultado depois de sua morte em um hospital de Paris, em 11 de novembro de 2004.
A multidão assistiu a chegada de dirigentes do partido, enquanto bandas de música, coros, bandeiras palestinas e as delegações se agitavam.
"A hora da liberdade e da independência chegou", proclamava um cartaz gigante no palco onde Mahmud Abbas fez seu discurso. Em novembro, a Palestina, que obteve em 2012 o estatuto de Estado observador na ONU, deve apresentar ao Conselho de Segurança um calendário para o fim da ocupação israelense.
Este texto deve ser rejeitado por meio do veto americano. Mas os palestinos já planejam novas etapas: a adesão ao Tribunal Penal Internacional, que lhes permitiria processar os líderes israelenses de "crimes de guerra", e a ruptura de acordos de cooperação de segurança com Israel.
"Por que esperar?", lançou de sua prisão israelense Marwan Barghuti, membro do Fatah e líder da segunda Intifada (2000-2005).
"Temos de pôr um fim imediato à cooperação de segurança", que faz dos policiais palestinos "fantoches do ocupante", declarou ele que já foi considerado a principal ameaça para Abbas, se pudesse concorrer em uma eleição presidencial.
"Devemos prosseguir com a escolha da resistência global e militar, que é ser fiel ao legado de Arafat", diz ele em uma carta publicada pela imprensa.
O espectro de uma nova revolta ganha contornos cada vez mais claros na Palestina: a violência, agora diária em Jerusalém, ganhou as cidades árabes israelenses e da Cisjordânia ocupada. Nesta terça-feira, o exército israelense matou um jovem palestino novamente.