Papa e presidente turco falam sobre diálogo e islamofobia

Papa declarou que o mundo tem a obrigação moral de ajudar a Turquia com os refugiados

28 nov 2014 - 16h36
(atualizado às 16h48)
Em visita, papa elogiou os "esforços generosos" da Turquia para acolher os refugiados da Síria e do Iraque
Em visita, papa elogiou os "esforços generosos" da Turquia para acolher os refugiados da Síria e do Iraque
Foto: Yasin Bulbul / Reuters

O presidente conservador turco Recep Tayyip Erdogan recebeu nesta sexta-feira o Papa Francisco e falou com ele sobre sua preocupação em relação à rápida progressão da islamofobia, pedindo que cristãos e muçulmanos lutem juntos para frear este preconceito.

O Papa, por sua vez, defendeu o diálogo interreligioso como algo útil contra o fundamentalismo e o terrorismo e afirmou que muçulmanos, judeus e cristãos devem ter os mesmos direitos.

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"Os preconceitos se desenvolvem entre o mundo muçulmano e o cristão. A islamofobia cresce séria e rapidamente. Temos de atuar juntos contra as ameaças que pesam sobre nosso planeta: a intolerância, o racismo e as discriminações", declarou Erdogan depois de se reunir com o Papa em Ancara.

"O diálogo interreligioso e intercultural podem dar uma importante contribuição para que tenham um fim todas as formas de fundamentalismo e terrorismo", afirmou o Papa, por sua vez.

"A Tuquia tem a vocação de ser uma ponte natural entre dois continentes e expressões culturais diferentes", considerou ainda o Papa argentino, de 77 anos.

No poder desde 2003, o presidente Erdogan, que recebeu o Papa em seu novo e luxuoso palácio, tentou se aproximar de seu convidado, garantindo que "olhamos o mundo com os mesmos valores. Nossas visões são idênticas sobre a violência".

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Desde que assumiu o governo, Erdogan se apresenta como grande defensor das religiões, mas é regularmente acusado de querer "islamizar" a República laica turca.

O Papa Francisco, por sua vez, não ocultou as críticas e afirmou que muçulmanos, judeus e cristão devem ter os mesmos direitos e respeitar os mesmos deveres. "A liberdade religiosa e a liberdade de expressão, eficazmente garantidas a todos (...) devem ser um sinal eloquente de paz" para a região, ressaltou.

Como já havia feito no avião que o levou a Ancara, o Papa elogiou os "esforços generosos" da Turquia para acolher os refugiados da Síria e do Iraque.

Neste sentido, declarou que o mundo tem a obrigação moral de ajudar a Turquia com os refugiados.

Após um encontro com o principal religioso turco, Mehmet Gormez, Francisco lamentou os abusos desumanos dos grupos extremistas como o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. "A violência que procura uma justificativa religiosa merece a mais forte condenação", insistiu.

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Segundo a agência especializada I.Media, o pontífice deve aproveitar sua passagem por Istambul para encontrar refugiados sírios e iraquianos. Um gesto muito esperado desde que expressou seu apoio no Curdistão iraquiano os cristãos, ortodoxos e católicos que fogem dos jihadistas.

O Papa iniciou nesta sexta-feira uma viagem de três dias a Turquia para defender o diálogo entre as religiões e a paz no Oriente Médio, em um país que abriga dois milhões de refugiados, incluindo muitos cristãos do Iraque e da Síria.

O motivo oficial da visita de Francisco é um encontro com Bartolomeu I, o patriarca ortodoxo ecumênico de Constantinopla, com o qual mantém laços de amizade, apesar de ser uma igreja separada de Roma desde o século XI.

Francisco, que tem grande popularidade entre católicos, judeus e muçulmanos, pretende mostrar com fatos que o diálogo é possível entre as religiões e que é possível trabalhar juntos pela paz.

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A viagem pode ser considerada delicada, já que a Turquia, com 76 milhões de habitantes, tem 99% da população muçulmana e passa por um momento de tensão pelos conflitos no Iraque e na Síria, o que motivou confrontos internos entre curdos e turcos.

A visita estará marcada por grandes medidas de segurança e não foram programados passeios de papamóvel.

O pontífice também visitará o mausoléu de Kemal Ataturk, fundador em 1923 e primeiro presidente da moderna República da Turquia, após a queda do Império otomano ao fim da Primeira Guerra Mundial.

No sábado, dia 29, viajará a Istambul, onde percorrerá o Museu de Santa Sofia e a Mesquita Azul.

Depois celebrará uma missa na catedral católica do Espírito Santo e participará de uma oração com o patriarca ortodoxo de Constantinopla.

No domingo, Francisco participará da festa de Santo André na Igreja Patriarcal de São Jorge que terminará com a bênção ecumênica e a assinatura de uma declaração conjunta com o patriarca.

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Na ocasião provavelmente lembrará a histórica visita de Paulo VI à Turquia em 1967, a primeira de um Papa a este país.

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