Situação entre Israel e Hamas é injustiça ou mal necessário?

Para ilustrar algumas posições em um conflito que dura mais de 60 anos, a BBC falou com moradores dos dois lados do conflito

21 jul 2014 - 07h33
(atualizado às 07h38)
Mulheres palestinas choram a morte de parente por forças israelenses nesta segunda-feira
Mulheres palestinas choram a morte de parente por forças israelenses nesta segunda-feira
Foto: Reuters

O conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza – que chegou a um novo patamar no domingo, o dia mais sangrento desde o início da ofensiva israelense sobre o território – não acontece apenas no campo militar. Judeus e palestinos também travam uma batalha retórica.

Para ilustrar algumas posições em um conflito que dura mais de 60 anos, a BBC entrevistou dois moradores de ambos os lados para saber suas opiniões sobre o mais recente capítulo, que já deixou centenas de mortos nas duas últimas semanas.

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Naijla, trabalhadora humanitária, Gaza

Moro no lado oeste de Gaza, próximo ao mar, e ouço barulho de bombas e de tiros de tempos em tempos. A ofensiva israelense está concentrada majoritariamente no leste, na área que faz fronteira com Israel.

À noite, fico com medo porque a eletricidade caiu em muitas áreas e há bombardeios indiscriminados, especialmente perto da fronteira.

O nosso temor é de que uma ofensiva por terra a Gaza resulte em mais mortes e feridos.

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A maioria das lojas e o comércio estão fechados e ninguém sai de casa. Apenas algumas permanecem abertas.

Gaza é um território populoso e não há lugar para evacuar as pessoas na fronteira.

Nós recebemos uma mensagem de caixa postal em nossos celulares das Forças Armadas de Israel acusando o Hamas por tudo isso, o que é ridículo.

Eu me considero secular e não apoio o Hamas, mas os palestinos, de forma geral, vivem em condições sub-humanas e ninguém quer viver sob a mira de uma arma para sempre.

O medo está por toda a parte, mas nós sabemos que os palestinos estão preparados para resistir a uma ofensiva por terra.

Eu sei que haverá uma ocupação temporária no final, mas nós gostaríamos que essa ocupação fosse justa com os palestinos. Precisamos viver com dignidade.

Elisheva Kroman, professora, Beersheva, Israel

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Não tivemos escolha senão entrar em Gaza. Nunca consigo me sentir completamente segura e em paz sabendo que, a qualquer momento do dia ou da noite, o Hamas pode lançar foguetes sobre a minha cidade. Eu tenho um minuto para buscar abrigo.

O Hamas sempre alveja os civis. É verdade que há menos mortes do lado de Israel, mas isso acontece porque o governo cuida de seus cidadãos e nós temos sirenes para nos alertar.

Benjamin Netanyahu, o atual primeiro-ministro de Israel, disse certa vez que se eles não atirarem em nós, nós não atiraremos neles. Paz se faz com paz. Se eles decidirem continuar, é problema deles.

Eu gostaria que meu governo eliminassse a capacidade do Hamas de lançar foguetes sobre nós e destruísse todos os túneis cavados próximo à fronteira. Então a ofensiva deveria terminar e deixaríamos os palestinos viver com suas próprias leis.

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Abdelraziq, desempregado, Gaza

A cidade está vazia. Há muitos aviões sobrevoando a região e eu ouço explosões a todo instante. O ataque aéreo está concentrado nas fronteiras de Gaza e não no centro.

Soldados israelenses se posicionam com armas na cidade de Sderot durante infiltração na Palestina nesta segunda-feira
Foto: Reuters

Eu acho que a invasão terrestre é errada porque matará civis inocentes e não fará bem aos israelenses. Nós não queremos que nenhum civil morra de nenhum lado.

Espero que haja tentativas para alcançar um acordo de paz e que israelenses aceitem as nossas condições uma vez que viver em Gaza é muito ruim. Estamos sitiados e isso cria muitos problemas, porque não há muita eletricidade nem empregos.

Acabei de me formar na universidade sem qualquer esperança de conseguir um trabalho. Aqui em Gaza não há nem o mínimo para as necessidades humanas mais básicas. Não podemos nos mover livremente já que há postos de controle por todo o lado.

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Israel é culpado disso porque eles nos fecharam a porta e isso gera cada vez mais resistência.

Não tenho interesse na política, mas exijo os meus direitos mais básicos como ser humano. Espero que eu possa viver uma vida decente.

Doron Youngerwood, diretor de marketing, Modiin, Israel

A invasão terrestre é um mal necessário. A última coisa que Israel gostaria de fazer é arriscar a vida de seus próprios soldados e as vidas de pessoas inocentes, mas nós temos de colocar um ponto final no lançamento de foguetes pelo Hamas e destruir os túneis. Não podemos fazer isso pelo ar ou pelo mar.

Não podemos nem tentar conversar com o Hamas porque eles não ouvem. Israel saiu de Gaza em 2005 e dez dias depois foguetes continuavam a ser lançados contra cidades israelenses. Não podemos fazer um acordo de paz com o Hamas porque eles continuam a nos atacar.

Não vivo dentro do perímetro de fogo do Hamas, portanto nunca senti na pele o que as famílias que vivem perto de Gaza experimentam, mas eu sei quão difícil é viver ali.

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É muito triste ver fotos de Gaza, mas desde que a invasão por terra começou as Forças de Defesa de Israel (IDF) já descobriram uma grande quantidade de explosivos dentro de uma mesquita.

Isso parece ser consistente com outros depósitos de armas que foram encontrados em hospitais, escolas e residências.

O Hamas decidiu usar a própria população de Gaza como escudos humanos e deliberadamente colocou foguetes em áreas povoadas.

Eu rezo pela paz entre palestinos e os israelenses, mas isso não é possível com o Hamas.

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