Os moradores de Kiev sacaram todo o dinheiro dos caixas eletrônicos e estocaram mantimentos nesta quinta-feira, quando boa parte da população ficou fora das ruas da capital ucraniana depois do pior dia de violência desde que o país emergiu do colapso da União Soviética.
Muitas lojas, bancos e restaurantes no centro de Kiev, normalmente lotado, nem sequer abriram as portas enquanto a Praça Independência era tomada por uma nova onda de confrontos entre a polícia antidistúrbios e manifestantes que exigem a saída do presidente, num conflito que elevou para 67 o número de mortos desde terça-feira.
Até agora o conflito não se espalhou para muito além da praça principal, conhecida como Maidan, e a vida no resto da capital continua como antes, mas os moradores disseram que esta semana as áreas centrais estão estranhamente calmas.
"Quase todo mundo que não está na Maidan ficou em casa. Todo mundo está assustado, você pode notar: as prateleiras dos supermercados estão vazias. Nós não sabemos por quanto tempo isto pode continuar", disse Stanislav Mostovoy, um vendedor de 26 anos.
A violência se intensificou nesta semana. Imagens de vídeo mostram a polícia atirando do teto de edifícios contra participantes dos protestos na praça Maidan, enquanto manifestantes lançavam coquetéis molotov e pedras do calçamento desde barricadas.
Chamas e fumaça se espalhavam por ruas repletas de entulho. Manifestantes agitavam bandeiras com slogans e os feridos eram levados às pressas em macas.
Iryna, uma mãe solteira que andava até a Maidan para doar uma sacola de agulhas hipodérmicas e material para transfusões de sangue para os feridos, disse não ser surpresa que as ruas estivessem vazias.
"Você sairia se houvesse francoatiradores nos tetos da sua cidade? Isto é essencialmente guerra", disse ela.
Todas as escolas e creches no centro de Kiev fecharam nesta semana, e o sistema de metrô da cidade foi interrompido em um determinado ponto, embora tivesse sido reaberto com operações limitadas nesta quinta-feira.
A maioria dos caixas eletrônicos no centro da cidade estava sem dinheiro, enquanto um grande número de pessoas ficava na fila para sacar.
Um executivo de banco disse à Reuters que estava avaliando fatias de pão num comércio para ver se estavam frescas quando a atendente disse: "Não seja tão exigente. Esse pode ser o último pão que você verá por um bom tempo."