Os argumentos de Trump sobre controle da Groenlândia, do Canal do Panamá e até do Canadá

O presidente eleito disse que não descartaria o uso de força militar para assumir o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia.

8 jan 2025 - 06h52
(atualizado às 07h27)
Trump não descartou o uso de força militar para assumir o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia
Trump não descartou o uso de força militar para assumir o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, não está dando sinais de que vai desistir da ambição de obter o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá, classificando ambos como essenciais para a segurança nacional americana.

Questionado se descartava o uso de força militar ou econômica para assumir o controle do território autônomo dinamarquês ou do canal, ele respondeu: "Não, não posso garantir nada em relação a nenhum dos dois".

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"Mas posso dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica", afirmou Trump a jornalistas na terça-feira (7/1) durante coletiva de imprensa em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida.

Tanto a Dinamarca quanto o Panamá rejeitaram qualquer sugestão de que abririam mão dos respectivos territórios.

'A Groenlândia pertence aos groenlandeses', afirmou a primeira-ministra dinamarquesa
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Trump também prometeu usar a "força econômica" quando perguntado se tentaria anexar o Canadá — e chamou a fronteira compartilhada entre eles de "linha artificialmente traçada".

A fronteira é a mais longa do mundo entre dois países, e foi estabelecida em tratados que remontam à fundação dos Estados Unidos no fim dos anos 1700.

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O presidente eleito afirmou que seu país gasta bilhões de dólares protegendo o Canadá — e criticou as importações de carros, madeira e laticínios canadenses.

"Eles deveriam ser um Estado (americano)", disse ele aos jornalistas.

Mas o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que renunciou nesta semana ao cargo, afirmou que não há "a menor chance" de uma fusão entre os dois países.

A coletiva de imprensa foi inicialmente marcada como um anúncio de desenvolvimento econômico para divulgar o investimento de US$ 20 bilhões da Damac Properties, empresa de desenvolvimento imobiliário de Dubai, para construir data centers nos Estados Unidos.

Mas o presidente eleito passou a criticar as regulamentações ambientais, o sistema eleitoral dos EUA, os vários processos judiciais contra ele e o presidente Joe Biden.

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Entre várias outras coisas, ele sugeriu mudar o nome do Golfo do México para "Golfo da América" — e reafirmou sua oposição à energia eólica, dizendo que as turbinas eólicas estão "enlouquecendo as baleias".

As declarações dele foram feitas enquanto seu filho, Donald Trump Jr., visitava a Groenlândia.

Antes de chegar à capital Nuuk, Trump Jr. disse que estava fazendo uma "viagem pessoal de um dia" para conversar com as pessoas, e que não tinha reuniões marcadas com autoridades do governo.

Quando questionada sobre a visita de Trump Jr. à Groenlândia, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse à TV dinamarquesa que "a Groenlândia pertence aos groenlandeses" — e que somente a população local poderia determinar seu futuro.

Ela afirmou que "a Groenlândia não está à venda", mas enfatizou que a Dinamarca precisava atuar em forte cooperação com os EUA, um aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

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A Groenlândia está localizada na rota mais curta entre a América do Norte e a Europa — e abriga uma grande instalação espacial americana. Também possui alguns dos maiores depósitos de minerais de terras raras, cruciais para a fabricação de baterias e dispositivos de tecnologia de ponta.

Trump sugeriu que a ilha é essencial para os esforços militares de rastreamento de navios chineses e russos, que, segundo ele, estão "por toda parte".

"Estou falando de proteger o mundo livre", disse ele aos jornalistas.

O presidente eleito disse que os EUA precisam da Groenlândia para 'segurança econômica'
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Desde que venceu as eleições em novembro, Trump vem batendo repetidamente na tecla da expansão territorial dos EUA — incluindo a retomada do Canal do Panamá.

Durante a coletiva de imprensa, ele disse que o canal "é vital para o nosso país" — e alegou que "está sendo operado pela China".

Anteriormente, ele acusou o Panamá de cobrar a mais dos navios americanos para usar a hidrovia, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico.

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O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, rejeitou as alegações de Trump, e afirmou que não há "absolutamente nenhuma interferência chinesa" no canal.

Uma empresa com sede em Hong Kong, a CK Hutchison Holdings, administra dois portos nas entradas do canal.

O canal foi construído no início dos anos 1900, e os Estados Unidos mantiveram o controle sobre a Zona do Canal até 1977, quando os tratados negociados pelo então presidente Jimmy Carter devolveram gradualmente o controle do território ao Panamá.

"Dar o Canal do Panamá ao Panamá foi um grande erro", disse Trump. "Veja bem, [Carter] era um homem bom... Mas isso foi um grande erro."

Não está claro o quão sério o presidente eleito está falando sobre aumentar o território dos Estados Unidos, sobretudo quando se trata do Canadá, um país de 41 milhões de habitantes, que é a segunda maior nação em extensão territorial do mundo.

Durante a coletiva de imprensa, Trump também repetiu uma série de informações falsas e teorias conspiratórias, incluindo a sugestão de que o Hezbollah, grupo militante islâmico, estava envolvido na invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 2021.

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