O texto foi atualizado às 10h30 de 27 de fevereiro de 2020.
O surto do novo coronavírus, que já infectou mais de 80 mil pessoas e matou 2,7 mil, chegou a uma nova etapa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu que os países adotem todos os esforços possíveis para uma eventual "pandemia", termo adotado para uma doença infecciosa que atinge muitas pessoas de forma simultânea ao redor do mundo.
Nos últimos dias, os casos de infecção fora da China deixaram de estar diretamente ligados a viajantes que em algum momento passaram pela cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto — apesar de não haver dúvidas de que a doença surgiu ali.
Isso acendeu o alerta das autoridades de saúde ao redor do mundo, e o temor de uma perda de controle da doença derrubou Bolsas de Valores para além da Ásia.
Hoje, o vírus se espalha principalmente em três países: Coreia do Sul, Irã e Itália. Este último confirmou nesta terça (25/02) a 11ª morte pela doença, de acordo com o jornal La Repubblica.
Os primeiros casos foram registrados na Croácia, Suíça e Áustria.
Para Tedros Adhanom Ghebeyesus, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação é "profundamente preocupante".
Até agora, foram confirmados 82.168 casos em 50 países e territórios. A China ainda concentra grande parte deles, com 78.497 diagnósticos confirmados, mas a proporção tem diminuído: já foi mais de 99%, e hoje está em 96,8%.
A tendência na China tem sido de queda no número de novos casos e de mortes, segundo autoridades e especialistas. Mas ainda há centenas de pessoas infectadas todos os dias.
Veja abaixo mapas para entender o estado atual do surto.
Como está a situação pelo mundo?
Até agora, 50 países e territórios registraram casos da doença em cinco continentes. A única região sem registro é a África subsaariana.
Para a OMS, isso não se trata ainda de uma pandemia, mas está quase. "No fim das contas, a palavra pandemia é só uma palavra, não liberará mais dinheiro ou poder à OMS. A instituição, aliás, já emitiu seu maior alerta ao declarar o vírus como emergência global", explica James Gallagher, repórter de ciência e saúde da BBC.
Ao todo, há 3.671 casos registrados fora da China. Parte deles está relacionada a cidadãos que foram resgatados da província de Hubei, onde a capital Wuhan e outras cidades estão sob quarentena.
O restante representa casos que foram transmitidos dentro desses países.
Na Ásia, depois da China, os lugares com mais diagnósticos confirmados são Coreia do Sul (1.595), Japão (189) e Cingapura (93).
Na Europa, a Itália tem 453 casos, seguida de Alemanha (27), França (18) e Reino Unido (13).
No Oriente Médio, o Irã registrou 139 casos, o Bahrein tem 33 e os Emirados Árabes Unidos divulgaram 13.
Na América do Norte, os Estados Unidos têm 60 registros e o Canadá aparece com 11 notificações.
Para especialistas, o maior risco está em países com sistemas de saúde que já enfrentam graves gargalos no dia a dia.
Qual é a situação na Itália?
O avanço do surto na Itália ocorreu em poucos dias na região norte do país, onde as autoridades ainda não sabem como o vírus apareceu.
Até o dia 21, não havia registros no país. No dia 22, foram divulgados pouco mais de 10. Dois dias depois, eram 157. Hoje, são 453.
A reação trouxe ecos do que aconteceu na China, com a implementação de medidas, segundo o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.
Cidades foram submetidas a quarentenas que podem durar semanas e eventos públicos foram cancelados.
O Carnaval de Veneza, atrai milhares de turistas, foi encerrado dois dias antes do previsto e jogos de futebol da primeira divisão italiana foram adiados.
Moradores das regiões de Lombardia, Emília-Romanha, Piemonte e Veneto foram orientados a só saírem de suas residências em caso de extrema necessidade. Há quase 50 mil pessoas nas cidades sob quarentena.
Capital da Lombardia, Milão decidiu também suspender aulas em universidades e escolas, mas ainda não fechou suas divisas ou proibiu a circulação de pessoas.
A vizinha Áustria, por outro lado, anunciou que barrará todos aqueles que apresentarem sintomas ligados à doença, como febre, tosse e falta de ar.
Ao todo, sete pessoas morreram na Itália, e pelo menos quatro deles tinham mais de 60 anos.
Segundo estudo feito sobre milhares de dados do Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China, mais de 80% dos casos são brandos, e grupos de risco envolvem pessoas com doenças pré-existentes e mais velhas — a mais alta taxa de mortalidade atinge quem tem 80 anos ou mais: 14,8%.
Especialistas acreditam que o novo coronavírus possa ser menos letal do que outras doenças que protagonizaram surtos recentes de vírus da mesma família de coronavírus, como a Síndrome Respiratoria Aguda Grave (9,5%), a Sars, e a Síndrome Respiratória do Oriente Média (de 35%), que ficou conhecida como Mers.
Como está a situação na Coreia do Sul?
O país asiático está em alerta máximo neste momento crítico, segundo palavras do presidente, Moon Jae-in, e sofre para conter o avanço do surto.
Até agora, a Coreia do Sul registrou 1.595 casos e 13 mortes — eram 893 casos até o dia 25 de fevereiro.
Segundo autoridades de saúde, a explosão da doença está ligada a um hospital e a uma filial da Igreja Shincheonji na cidade de Daegu, a quarta maior do país, com 2,5 milhões de habitantes.
Essa seita cristã foi fundada em 1984 pelo sul-coreano Lee Man-hee, que se descreve como "o pastor prometido" mencionado na Bíblia.
Não se sabe ainda como a infecção se proliferou ali, mas mais de 200 mil membros da Shincheonji serão submetidos a avaliações médicas.
O avanço da doença no país vinha sendo mais lento do que na Itália, mas nos últimos cinco dias a cifra explodiu. Do dia 19 ao dia 24 deste mês, os registros passaram de quase 50 para mais de 800.
Ainda não há grandes quarentenas impostas no país, mas as ruas parecem como se houvesse.
"As ruas de Daegu, a quarta maior cidade do país, parecem abandonadas. Uma ou duas pessoas, cobertas da cabeça aos pés e de máscaras, passam em frente a lojas fechadas. A maioria está em casa", descreve Laura Bicker, correspondente da BBC na Coreia do Sul.
O que está acontecendo no Irã?
País com mais casos da doença no Oriente Médio, o Irã divulgou ter registrado até agora 139 pessoas infectadas, a grande maioria na cidade sagrada de Qom. Vinte e seis pessoas morreram.
Para especialistas, o número de pessoas infectadas no Irã pode ser muito maior que o divulgado pelo governo, em razão da taxa de mortalidade calculada na China (2 mortos a cada 100 infectados) — ou seja, se a proporção mortos/infectados for a mesma no território iraniano, deve haver centenas de pessoas doentes ali.
A natureza autoritária do regime que comanda o país também alimenta a habitual desconfiança da população em geral em situações do tipo.
Nesta segunda-feira, um político da cidade de Qom acusou o governo central de tentar acobertar a real situação da doença no país. Ahmad Amirabadi Farahani afirmou à agência de notícias semiestatal Ilna que o coronavírus matou mais de 50 pessoas na cidade.
Mas o vice-ministro da Saúde do país refutou a informação. "Eu nego categoricamente essa informação. Não é o momento para disputas políticas. O coronavírus é um problema nacional", afirmou Iraj Harirchi.
Ali Rabiei, porta-voz do governo do Irã, também disse a jornalistas que o governo tem sido transparente na divulgação dos casos.
Nesta segunda-feira, Afeganistão, Bahrein, Kuwait e Iraque registraram seus primeiros casos da doença, todos envolvendo pessoas que estiveram no Irã.
Iraque, Paquistão, Armênia e Turquia decidiram fechar as fronteiras com o Irã, e o Afeganistão suspendeu todo tráfego aéreo e viário com o país vizinho.
O que está acontecendo na China?
A China vive atualmente a "maior emergência de saúde pública" da história recente do país, segundo o presidente Xi Jinping.
Apesar disso, ele e outras autoridades chinesas têm divulgado avanços no combate à doença e sucessivas quedas no número de mortes e de novos casos.
Até agora, o país registrou 78.497 casos e 2.744 mortes, sendo grande parte na província de Hubei, onde morreram 2.641 pessoas.
Milhões de pessoas continuam sob quarentena em diversas cidades. Outras milhões vivem em lugares que estão cada vez mais fechados, como Pequim.
Segundo o governo da China, atualmente quase 100 mil pessoas que tiveram contato com pacientes infectados estão sob monitoramento das equipes de saúde do país.