'Ouvimos o barulho dos bombardeios durante toda a noite', diz chefe da embaixada brasileira na Síria

Apesar dos ataques, diz o diplomata. o clima é de 'normalidade' na embaixada que voltou a funcionar no ano passado em Damasco

15 abr 2018 - 10h57
(atualizado às 11h50)
Potências ocidentais acusam regime sírio de autoria de ataque químico na semana passada
Potências ocidentais acusam regime sírio de autoria de ataque químico na semana passada
Foto: Pentágono / BBC News Brasil

O chefe da embaixada brasileira na Síria, Achilles Zaluar Neto, disse que a capital do país, Damasco, está funcionando "normalmente", apesar de os bombardeios terem provocado "um susto muito grande" em toda a população.

"Ouvimos o barulho dos bombardeios durante toda a noite", disse ele em entrevista por telefone à BBC Brasil.

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Na noite de sexta-feira (madrugada de sábado na Síria), uma coalizão liderada pelos Estados Unidos lançou um ataque aéreo contra o que afirmam serem locais de produção, armazenamento e distribuição de armas químicas nas cidades de Damasco e Homs. Três alvos foram atingidos.

Segundo o governo americano, a ofensiva foi uma retaliação ao uso de armas químicas pelo governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, contra rebeldes no último sábado em Douma, na região conhecida como Ghouta Oriental, controlada pelos insurgentes.

A embaixada brasileira em Dasmasco voltou a funcionar no ano passado
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

Questionado sobre quais medidas de precaução tomou, Zaluar Neto afirmou que o corpo diplomático brasileiro se desloca em veículos blindados.

No total, além dele, que é encarregado de negócios, mas desempenha as funções de embaixador, seis funcionários brasileiros trabalham na embaixada. Do total, cinco vivem em Damasco e os outros dois em Beirute, no Líbano, a 2h30 de carro da capital síria.

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A maior parte do trabalho é direcionado à assistência da comunidade brasileira na Síria, estimada entre 1 mil e 1,1 mil pessoas.

Retorno à embaixada

Durante o ápice do conflito, em 2015, diplomatas brasileiros que atuavam em Damasco passaram a viver em Beirute, no Líbano, de onde despachavam, por segurança. Desde o ano passado, contudo, voltaram a viver na capital síria.

Atualmente, segundo Zaluar Neto, a situação está "mais calma" e as condições de segurança "melhores".

"A embaixada brasileira em Damasco nunca foi fechada, mas teve suas atividades reduzidas localmente e deslocadas para o Líbano", diz.

Batalha por Ghouta Oriental

Por outro lado, diz Zaluar Neto, em fevereiro e março deste ano, durante a batalha entre forças leais a Assad e rebeldes em Ghouta Oriental, no subúrbio de Damasco, os diplomatas brasileiros tiveram que reforçar a segurança.

Na semana passada, um morteiro, supostamente lançado por insurgentes, caiu no prédio em frente à embaixada.

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"Por causa da quantidade de morteiros que caíam em Damasco, evitávamos sair à noite e ir à cidade antiga", conta.

EUA, França e Reino unido atacam o governo de Assad
Foto: EPA / BBC News Brasil

Desde 2013, o Brasil mantém uma política de concessão de vistos humanitários a refugiados sírios. Entre 2010 e 2017, foram reconhecidos 2.771, segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça.

Nenhum brasileiro foi ferido nos ataques.

Posição do Brasil quando aos ataques

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que está profundamente preocupado com " a escalada do conflito militar na Síria".

"Já é passada a hora de se encontrar soluções duradouras, baseadas no direito internacional. É uma guerra que se estende há tempo demais e com um custo humano elevado também demais", afirmou o chanceler, que está em Lima para a Cúpula das Américas. "Condenamos naturalmente o uso de armas químicas, que é inaceitável. Essa é uma tese pregada e divulgada no nosso país há muito tempo."

O ministro disse ainda que o Itamaraty está monitorando a segurança de brasileiros que vivem na região. "É urgente que todos os envolvidos se engajem em abordagem abrangente e concertada capaz de fazer cessar tanto sofrimento", afirmou.

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*colaborou Mariana Schreiber, enviada especial da BBC Brasil à Lima

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