Pablo Grillo: como está o fotógrafo baleado na cabeça durante protesto na Argentina?

Cria de Lanús, na Região Metropolitana de Buenos Aires, jovem luta pela vida e mobiliza vizinhos e ativistas por justiça

26 mar 2025 - 05h00
(atualizado às 08h50)
Resumo
Parentes e amigos contam quem é e como está o fotógrafo que tomou um tiro na cabeça em protesto contra o presidente Javier Milei, na Argentina. Torcedores do Lanús e do Independiente também estão unidos na luta por justiça e pela recuperação de Pablo, que trabalha como jardineiro no hospital onde nasceu Diego Armando Maradona.
Pablo Grillo, 35 anos, morador de Lanús, Região Metropolitana de Buenos Aires, é um “chico de bairro”, um cria.
Pablo Grillo, 35 anos, morador de Lanús, Região Metropolitana de Buenos Aires, é um “chico de bairro”, um cria.
Foto: Diego Lopez

No último dia 12 de março, imagens gravadas durante um protesto chocaram o mundo: Pablo Grillo, 35 anos, morador de Lanús, Região Metropolitana de Buenos Aires, foi atingido na cabeça por um cartucho de bomba de gás, disparado à queima-roupa pela polícia, no centro da capital da Argentina. Ele agora luta pela vida e recebe a solidariedade de amigos, familiares, artistas, defensores de direitos humanos de diversos países e jogadores de futebol do Independiente, seu clube do coração, e do Lanús, o time do bairro.

“Não tenho palavras de agradecimentos. É uma beleza o apoio, a solidariedade e o amor constante, de absolutamente todos. A grande maioria do povo, sem importar ideologias e credos, está nos apoiando, pela saúde do meu filho. É muito emocionante”, declara Fabián Grillo, pai de Pablo, em entrevista gravada no último domingo, 23 de março, no momento em que entrava no hospital para ver o filho.

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Desde o advento do governo de Javier Milei, os movimentos sociais argentinos – a grande maioria, oriundos das periferias – saem às ruas contra os diversos ajustes promovidos pelo mandatário ultradireitista nas mais variadas áreas. Ele promove uma escalada de repressão contra grupos de aposentados que se manifestam semanalmente contra os cortes e o congelamento das suas aposentadorias.

Fabián Grillo, pai de Pablo, fala à imprensa diante do hospital. Surpreendeu-se quando o filho falou com ele, após cirurgias.
Foto: Fátima Carbone

“Desejamos que o mundo inteiro nos acompanhe”, diz amigo

O aumento da repressão contra os idosos gerou grande comoção nacional e diversos setores da juventude começaram a ir para as ruas em solidariedade. Aquela quarta-feira marcou a adesão dos torcedores de futebol e registrou uma forte repressão policial orientada por Patrícia Bullrich, a ministra da segurança pública. Foi nesse contexto que Pablo foi atingido na cabeça e perdeu massa encefálica.

“Estamos muito consternados, muito doídos por tudo o que está acontecendo. Desejamos e rogamos que a Justiça seja feita e que os responsáveis paguem por isso. Não é possível que num Estado democrático o governo massacre pessoas inocentes. Estamos todos unidos por ele, para lhe enviar forças, e desejamos que o mundo inteiro nos acompanhe”, resume Andrés Larroque, amigo e vizinho.

Javier Milei, presidente argentino, reprime protestos de movimentos sociais argentinos, a grande maioria, oriundos das periferias.
Foto: Tomaz Silva/AB

Quem é o fotografo argentino Pablo Grillo?

Pablo é um “chico de bairro” – em bom português, um cria. “Humilde, solidário e comprometido com a sociedade. Sempre foi assim. Durante a pandemia participou de ações nos bairros humildes trabalhando na assistência às pessoas. Isso diz muito do seu caráter. Também é criativo, inteligente, bom desenhista, bom fotógrafo, músico, tem muitos talentos. Ele gosta das plantas, dos animais. Em síntese, é uma boa pessoa”, resume o pai.

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Pablo trabalha como jardineiro no Hospital Policlinico Evita, onde nasceu ninguém menos que Diego Armando Maradona, em Lanús. Andrés Larroque, amigo de toda a vida e baterista da banda Doctor Kein, da qual Pablo é o fotógrafo, detalha seu ofício.

“Ele ama as plantas, as flores, e uma das nossas últimas conversas foi sobre fotografar plantas. Dia 12 de março ele passou por aqui, pegou sua câmera, suas coisas, e saiu muito alegre e enérgico, como sempre. Foi retratar as manifestações. Chegou, começar a tirar algumas fotos e agachou-se para fazer imagens, quando um policial mirou nele e disparou”, conta.

Durante a pandemia, Pablo Grillo participou de ações nos bairros humildes trabalhando na assistência às pessoas.
Foto: @agustinpederneraok

Amigo não poderia imaginar o que aconteceria

Fátima Carbone também mora em Lanús e é amiga desde a adolescência de Pablo. Ela conta que ia para o protesto junto com ele, mas que o amigo parou de responder suas mensagens e, por isso, decidiu ir sozinha e encontrá-lo por lá. Só não podia imaginar o que aconteceria.

Desde a internação de Pablo, ela tem feito visitas quase que diárias ao hospital, ajudado a levar seu caso para fora da Argentina e organizado atos públicos em solidariedade ao amigo. Nas redes sociais é possível ver centenas de pessoas mobilizadas nesses protestos, que demonstram o quanto o jovem é querido.

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Emiliano Grillo, seu irmão, recorre à infância para dar uma definição ainda mais precisa sobre quem é Pablo: “Quando éramos pequenos, brincávamos de esconde-esconde. Na brincadeira, o último escondido tem o poder de salvar todos os outros. Ele sempre esperava para ser o último. Esse é o meu irmão”.

Muros de Lanús, onde nasceu Pablo Grillo, estão cheios de recados de apoio pela recuperação do fotógrafo.
Foto: Fátima Carbone

Luta pela vida de Pablo Grillo

O pai conta que no dia do ocorrido recebeu o telefonema de um amigo que estava com Pablo. Sem dar maiores detalhes, informou que seu filho estava no hospital. “Meu mundo caiu. Havia o risco de que não sobrevivesse à primeira noite. Na primeira operação, naquela tarde, salvaram a sua vida”, revela o pai.

A primeira operação foi feita diretamente sobre a ferida principal. Depois houve uma segunda, para tirar um hematoma num canto da cabeça. Houve ainda uma operação menor, para colocar um sensor para medir a pressão cranial.

Pai narra emocionante encontro em que filho voltou a falar

“Está melhorando assombrosamente. Falei com os médicos e eles usaram exatamente esse termo. Me sinto muito mais aliviado. Mas ele ainda está em estado grave, em terapia intensiva. Não está fora de risco”, explicou o pai, que agora está ansioso para o início da etapa de recuperação.

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Familiares e amigos de Pablo Grillo em frente ao Hospital Ramos Mejía, onde o fotógrafo está internado.
Foto: Reprodução Facebook

“Pablo voltou a falar. Com dificuldades, pois esteve entubado. Responde, entende, raciocina, lê, escreve, move as duas mãos e as duas pernas. Reconhece a tia, a mãe, os amigos. Tudo isso são bons indicadores”, completa o pai.

Fabián também se emocionou ao recordar o momento em que voltou a ouvir a voz do filho: “Esse momento foi fantástico, precioso. Me sentei ao seu lado, agarrei sua mão, apertei, e ele a apertou de volta. Me olhava. Eu tinha uma camiseta sobre justiça e vi que ele a fitava. Veio a enfermeira e lhe disse: ‘fale com o seu pai’. Eu não sabia que ele conseguia falar. Então Pablo me disse ‘hola, viejo’”, o que significa “oi pai”.

Fonte: Visão do Corre
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