A Justiça da Espanha começou a julgar nesta semana o principal caso de pedofilia envolvendo a Igreja Católica no país, no qual o padre Román Martínez, o único réu, é acusado de ter cometido abusos em Granada, na Andaluzia, entre 2004 e 2007.
A primeira sessão do julgamento ocorreu na última segunda-feira (6), quando o sacerdote negou participação em qualquer crime e disse que seu comportamento seguia o "amor cristão". Martínez faria parte um grupo chamado "clã dos Romanones", suspeito de ter abusado de vários menores de idade.
No entanto, o processo diz respeito apenas às denúncias de um jovem contra o padre, já que os crimes dos outros integrantes da organização prescreveram. O caso chegou ao papa Francisco em 2014, quando o líder da Igreja Católica pediu perdão à suposta vítima em nome da Santa Sé e o incentivou a denunciar seu agressor.
Além disso, o Pontífice cobrou da arquidiocese de Granada a abertura de uma investigação, que até o momento afastou apenas três dos 10 sacerdotes suspeitos. Identificado como Daniel R., o denunciante tem hoje 27 anos e contou no tribunal, na última quarta-feira (8), que Martínez era "como um pai".
"Ele me manipulou e me anulou por completo", acusou, citando episódios de "masturbação, penetração e tentativas de felação" quando tinha entre 14 e 17 anos. Segundo Daniel, ele tinha uma relação de "dependência" com o padre, a quem via como o "todo poderoso" e como uma "referência moral e espiritual".
Os abusos teriam acontecido em uma paróquia de Granada e em uma casa de propriedade de Martínez e outros sacerdotes, apontados como o "clã dos Romanones", a quem o denunciante definiu como um "grupo de desequilibrados" e "virulento".
"Nunca dei beijos na boca na minha vida e nunca os recebi", garantiu Martínez em seu depoimento. "Não entra na minha cabeça dormir com outra pessoa", acrescentou. Em uma carta apresentada como prova, o padre diz "te quero muito" (que em espanhol é equivalente a "te amo") a Daniel, mas ele garante que o sentimento estava inserido no "contexto cristão" sobre amor. A Promotoria pede uma pena de nove anos de prisão para Martínez, além da proibição de se aproximar da suposta vítima e do pagamento de uma indenização de 50 mil euros por danos morais.
Já os advogados do jovem querem uma condenação a 26 anos de cadeia. Cerca de 40 testemunhas participarão do processo, incluindo o arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez, que havia desaconselhado o jovem a denunciar o caso.