Palestinos retidos na Faixa de Gaza aguardam envio dos caminhões com ajuda humanitária anunciado após o fechamento de um acordo entre os Estados Unidos, Egito e Israel, enquanto as Forças de Defesa israelenses enviam sinais de estarem prontas para uma invasão por terra do enclave.
O Egito mantém a passagem fechada, alertando para bombardeios israelenses próximos ao posto de controle. Cairo teme que Israel esteja planejando deslocar intencionalmente os palestinos para o deserto do Sinai.
Do lado de Gaza, um número cada vez maior de pessoas se acumula próximo à fronteira, enquanto situação humanitária se deteriora em meio à uma alarmante escassez de recursos essenciais.
Em sua visita a Tel Aviv, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou o fechamento de um pacto com os governos de Israel e do Egito para permitir o acesso de 20 caminhões com ajuda humanitária à Faixa de Gaza através da fronteira egípcia.
Segundo Biden, a entrega de água, alimentos, medicamentos e combustíveis deve ocorrer no máximo até esta sexta-feira (20/10). "Queremos conseguir o maior número possível de caminhões", disse Biden a jornalistas no avião presidencial Air Force 1, no trajeto de volta a Washington. "Se o Hamas confiscar ou não deixar passar [a ajuda humanitária], isso vai acabar."
Mais tarde, relatos na imprensa egípcia, citando fontes do governo, confirmavam que a fronteira deve ser de fato aberta nesta sexta-feira.
Segundo a emissora CNN, autoridades de segurança do país árabe disseram que uma bandeira da ONU será colocada na travessia de fronteira em Rafah, numa tentativa de evitar bombardeios israelenses.
A distribuição da ajuda será supervisionada pela ONU, juntamente com as ramificações da ONG Crescente Vermelho no Egito e na Palestina, para evitar que os recursos caiam nas mais de membros de organizações terroristas.
Guterres pede "cessar-fogo humanitário imediato"
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em visita ao Egito nesta quinta-feira que Gaza precisa do envio de ajuda humanitária de maneira frequente e em grande escala.
"Precisamos de comida, água, medicamentos e combustíveis já. Precisamos em grande escala, e de modo contínuo. Não necessitamos de somente uma operação pequena", criticou, se referindo ao envio de 20 caminhões anunciado para esta sexta-feira.
Guterres pediu um "cessar-fogo humanitário imediato". "Em termos claros, isso significa que as organizações humanitárias precisam estar aptas a enviar ajuda, que deve ser distribuída de modo seguro", observou.
Ele também pediu a libertação dos reféns que estão sob poder do Hamas desde os ataques terroristas de 7 de outubro.
O secretário-geral viajou ao Egito para se reunir com o presidente Abdel Fattah al-Sissi e com o rei Abdullah da Jordânia. As duas nações árabes, as primeiras a normalizarem relações com Israel na região - em 1979 e 1994, respectivamente - condenaram a "punição coletiva" imposta ao povo palestino pelas ações do Hamas e expressaram preocupação com um possível alastramento do conflito.
"Se essa guerra não cessar", a crise ameaça "mergulhar toda a região em uma catástrofe", afirma uma declaração da Corte Real jordaniana. Al-Sissi e Abdullah são considerados mediadores fundamentais do conflito Israel-Palestina.
"Pior ainda estaria por vir"
A situação é cada vez mais preocupante, enquanto se esgotam os recursos essenciais no enclave onde vivem mais de dois milhões de pessoas. "O ritmo da morte, do sofrimento, da destruição é algo que não tem como ser exagerado" afirmou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.
Muitos temem que o pior ainda estaria por vir, com a iminente invasão da Faixa de Gaza por tropas israelenses.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou a soldados israelenses reunidos na fronteira com o enclave que em breve eles verão o território palestino "de dentro", segundo informou um comunicado de seu gabinete nesta quinta-feira.
"Vocês veem Gaza agora à distância, mas logo a verão de dentro. A ordem virá", disse Gallant, citado na nota. O ministro teria pedido aos soldados que "se organizem e estejam prontos".
OMS alerta para "consequências devastadoras"
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu um fluxo diário do envio de ajuda a Gaza e alertou que a falta de combustíveis no enclave gera consequências devastadoras. A pequena quantidade que resta tem de ser dividida entre usinas de dessalinização para o fornecimento de água, padarias e hospitais que têm de cuidar de um número cada vez maior de pacientes.
"A não ser que o abastecimento seja permitido muito em breve, haverá uma tragédia em Gaza. Esse é o nosso temor", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Michael Ryan, diretor do programa de Emergências da OMS, também criticou a quantidade de 20 caminhões que deverão ter permissão para entrar em Gaza nesta sexta-feira, dizendo que ser uma "gota no oceano". "Nosso caminhões estão carregados e prontos para partir", disse Tedros.
rc (AFP, DPA, AP, DW, ots)