Papa Francisco faz alerta contra a volta do totalitarismo

Pontífice falou sobre o assunto em visita à Lituânia

23 set 2018 - 18h48
(atualizado às 20h43)

O papa Francisco fez um alerta neste domingo (23/09) contra o revisionismo histórico e um possível avanço de ideologias totalitárias. Em viagem à Lituânia, ele lembrou o extermínio dos judeus pelos nazistas no país báltico, advertindo contra o ressurgimento de sentimentos antissemitas.

A visita do pontífice coincide com os 75 anos da destruição do gueto de Vilnius, estabelecido pela Alemanha nazista na capital da Lituânia. Milhares de pessoas morreram de fome, doenças e maus-tratos no local ou foram deportadas dali para campos de concentração.

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"Há 75 anos esta nação presenciava a destruição definitiva do gueto de Vilnius. Assim, tinha fim a aniquilação de milhares de judeus que começara dois anos antes", afirmou o papa a 100 mil fiéis reunidos para uma missa na cidade de Kaunas, a segunda maior do país.

Segundo historiadores, cerca de 195 mil pessoas - o que representa quase toda a população judia da época - morreram nas mãos dos nazistas durante a ocupação alemã na Lituânia, de 1941 a 1944. Hoje vivem cerca de 3 mil judeus no país, que conta com uma população 80% católica.

Francisco rezou uma missa a 100 mil fiéis reunidos em parque na cidade de Kaunas
Francisco rezou uma missa a 100 mil fiéis reunidos em parque na cidade de Kaunas
Foto: DW / Deutsche Welle

Francisco pediu então "o dom do discernimento para detectar a tempo qualquer reaparecimento dessa atitude perniciosa, qualquer sopro daquilo que pode manchar os corações de gerações que não viveram aqueles tempos e podem ser enganados por cantos de sereia".

Após a missa, o papa alertou ainda contra aqueles que querem "submeter os mais frágeis, usar a força em qualquer de suas formas, impor um modo de pensar, uma ideologia, um discurso dominante, usar a violência ou repressão para oprimir".

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"Quantas vezes aconteceu de um povo acreditar ser superior, com mais direitos adquiridos, com mais privilégios a preservar ou conquistar?", questionou.

Ele se despediu dos fiéis em Kaunas clamando por uma "atenção delicada aos excluídos e às minorias" e pedindo para que "se afaste das culturas a possibilidade de aniquilar o outro, de colocar o outro de lado, de continuar descartando quem nos incomoda e ameaça nosso conforto".

Seu alerta vem num momento em que movimentos políticos de extrema direita, xenófobos e neofascistas ganham força em várias partes da Europa, incluindo a Alemanha, a própria Lituânia e, mais perto do papa, a Itália.

Além de lembrar as vítimas do nazismo, o pontífice lamentou também os horrores cometidos durante a ocupação soviética. Estima-se que mais de 50 mil lituanos morreram em campos, prisões e durante deportações promovidas pelo regime entre 1944 e 1953.

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De volta a Vilnius, Francisco visitou o museu que um dia abrigou um prédio do extinto serviço secreto soviético, a KGB, onde opositores do regime foram presos, torturados e mortos. Ele visitou celas e a sala das execuções, enquanto o bispo de Vilnius, Gintaras Linas Grusas, contava algumas das terríveis histórias ali registradas.

"Neste lugar lembramos as pessoas que sofreram como resultado da violência e do ódio e as que sacrificaram suas vidas pelo bem da liberdade e da justiça. Rezei a Deus todo poderoso para dar à Lituânia o dom da paz e da reconciliação", escreveu o papa no livro do museu.

Francisco chegou no sábado à Lituânia para uma viagem que incluirá ainda a Estônia e a Letônia, em homenagem ao aniversário de 100 anos de independência dos países bálticos. As três nações se declararam independentes da Rússia ao fim da Primeira Guerra Mundial, mas acabaram sofrendo com ocupações nazistas e soviéticas nas décadas seguintes.

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