O papa Francisco cobrou nesta quinta-feira uma ação rápida para salvar o planeta da ruína ambiental, fazendo um apelo aos líderes mundiais para ouvirem "o grito da terra e o grito dos pobres" e colocando a Igreja Católica no meio das controvérsias políticas sobre as mudanças climáticas.
No primeiro documento papal dedicado ao meio ambiente, o papa pede por uma "ação decisiva, aqui e agora" para deter a degradação ambiental e o aquecimento global, diretamente apoiando cientistas que dizem ser provocado principalmente pela ação humana.
Na encíclica "Laudato Si (Seja Louvado), Sobre o Cuidado da Casa Comum", Francisco pede uma mudança do estilo de vida nos países ricos de uma cultura de consumo "descartável" e o fim de "atitudes obstrucionistas" que às vezes colocam o lucro acima do bem comum.
O pronunciamento papal mais controverso em meio século já atraiu a ira dos conservadores, incluindo vários candidatos presidenciais republicanos dos Estados Unidos, que repreenderam Francisco por se aprofundar em ciência e política. Mas o primeiro papa da América Latina, que escolheu seu nome tomando como referência São Francisco de Assis, o patrono da ecologia, diz que proteger o planeta é um “imperativo” moral e ético para os fiéis e não fiéis, que deveria suplantar interesses políticos e econômicos.
No chamado ao rebanho católico, de 1,2 bilhão de pessoas no mundo, o documento papal mais polêmico desde a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo 6º, em 1968, que defendeu a proibição da contracepção, poderia estimular católicos do mundo a pressionarem as autoridades políticas sobre questões de meio ambiente e mudanças climáticas.
O pontífice, de 78 anos, nascido na Argentina, denuncia na encíclica que a "miopia da política de poder" adiou medidas ambientais de longo alcance e diz que "muitos daqueles que possuem mais recursos e poder econômico ou político parecem mais preocupados em mascarar os problemas ou esconder seus sintomas".
Após o papa dizer que deseja influenciar a decisiva cúpula do clima da ONU deste ano, em Paris, a encíclica consolida ainda mais o seu papel como um interlocutor na diplomacia mundial, depois da mediação que levou Cuba e Estados Unidos à mesa de negociações do ano passado.
Francisco contesta aqueles que argumentam que "a tecnologia vai resolver todos os problemas ambientais (e que) a fome e a pobreza serão solucionadas simplesmente com o crescimento do mercado".
O tempo está se esgotando para salvar um planeta que "começa a parecer mais e mais como uma imensa pilha de sujeira" e que podia ver "uma destruição sem precedentes dos ecossistemas" neste século, diz o texto. "Uma vez mais, temos de rejeitar uma concepção mágica do mercado, que poderia sugerir que os problemas podem ser resolvidos simplesmente por um aumento nos lucros de empresas ou indivíduos."