Papa pede que líderes condenem violência em nome de Deus

Francisco discursou em Abu Dhabi, em fórum inter-religioso

4 fev 2019 - 14h37
(atualizado às 15h00)

Em um dos momentos mais aguardados da inédita visita aos Emirados Árabes Unidos, o papa Francisco fez um apelo nesta segunda-feira (4) para que as religiões do mundo todo se unam para promover a paz e para acabar com violências em nome de Deus. Diante de mais de 700 líderes religiosos, Jorge Mario Bergoglio discursou em Abu Dhabi no encontro "Fraternidade Humana", promovido pelo Conselho Muçulmano de Anciãos.

Papa Francisco discursou em Abu Dhabi, em fórum inter-religioso
Papa Francisco discursou em Abu Dhabi, em fórum inter-religioso
Foto: ANSA / Ansa

"Com ânimo reconhecido pelo Senhor, no 8º centenário do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão Al-Malik al-Kamil, aceitei a oportunidade de vir aqui como crente sedento de paz, como irmão que procura a paz entre os irmãos. Querer a paz, desejar a paz, ser instrumento de paz: estamos aqui para isso", disse Francisco, explicando sua visita aos Emirados Árabes Unidos. No discurso, o Papa usou a história de Noé para fazer uma comparação com a situação atual do mundo. "Segundo o conto bíblico, para preservar a Humanidade da destruição, Deus pediu a Noé para entrar em uma arca com sua família. Nós, hoje, em nome de Deus, estamos aqui também para proteger a paz. Precisamos entrar juntos, como uma única família, em uma arca que possa navegar pelos mares tempestuosos do mundo: a arma da irmandade".

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De acordo com o líder católico, o "ponto de partida" para a promoção da paz mundial seria reconhecer que Deus é a origem da "única família humana". "Todos têm dignidade igual e ninguém pode ser patrão ou escravo dos outros", ressaltou. "Portanto, em nome de Deus Criador, toda forma de violência deve ser condenada sem hesitação, porque é uma grave profanação do nome de Deus utilizá-lo para justificar o ódio e a violência contra o irmão. Não existe violência que possa ser religiosamente justificada", disse Francisco.

O Papa ainda pediu mais ação dos líderes religiosos e posicionamentos enfáticos diante dos desafios. "Não há alternativa: ou construiremos juntos o futuro ou não haverá futuro. As religiões não podem renunciar à função urgente de construir pontes entre os povos e culturas. Chegou a época em que as religiões devem agir mais ativamente, com coragem e audácia, sem pretensão, para ajudar a família humana a maturar a capacidade de reconciliação, a visão de esperança e os itinerários concretos de paz", disse.

Ao fim do discurso, Francisco assinou o documento conjunto do encontro. A cúpula inter-religiosa era o principal evento da viagem do Papa aos Emirados Árabes Unidos, visita que carrega um simbolismo extra por ser a primeira vez que um Pontífice pisa na península árabe. Pela manhã, o Papa visitou a Grande Mesquita do Sheik Zayed, considerada um dos locais de culto mais importantes dos Emirados Árabes e uma das maiores mesquitas do mundo, com capacidade para 40 mil fiéis.

O complexo ocupa uma área de 12 hectares, com 82 cúpulas, 1.100 colunas e quatro minaretes de 107 metros. A mesquita foi construída durante os anos de 1996 e 2007, a pedido do Sheik Zayed bin Sultan Al Nahyan, fundador e primeiro presidente dos Emirados Árabes Unidos. No local, o Pontífice se encontrou de maneira privada com membros do Conselho Muçulmano de Anciãos.

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Presidido pelo Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed El-Tayyeb, o Conselho é uma organização internacional independente, com sede em Abu Dhabi, e atua na promoção da paz nas comunidades islâmicas. A entidade reúne estudiosos, especialistas, muçulmanos e consultores de justiça e moderação. O Papa chegou ontem (3) a Abu Dhabi e hoje cumpriu sua primeira agenda oficial. Amanhã, Francisco celebrará uma missa para mais de 130 mil pessoas no estádio Zayed Sports City, antes de retornar para Roma.

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