O petista Jaques Wagner, ex-ministro do governo Dilma e ex-governador da Bahia, afirmou à BBC Brasil que não consegue prever o conteúdo da delação premiada de Antonio Palocci, mas destacou, sem dar detalhes, as 'intensas' relações de Palloci com o sistema financeiro.
Wagner, que cuidou da Casa Civil na gestão de Dilma, participa do Brazil Forum UK na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Questionado sobre de que maneira uma possível delação de Palocci, preso desde setembro do ano passado, como parte da operação Lava Jato, poderia atingir o sistema financeiro, Wagner disse: "Ele foi ministro da Fazenda , então, evidentemente, algumas das relações muito intensas dele eram com o sistema financeiro. Tem toda a questão do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras)", afirmou, sem explicar que tipo de informação Palocci poderia dar sobre o órgão que combate a lavagem de dinheiro.
Palocci foi ministro da Fazenda no governo Lula e da Casa Civil na administração de Dilma. Wagner, contudo, diz não ter receio do que Palocci poderá dizer aos investigadores.
"A mim, não preocupa. Se preocupa alguém, não sei. Evidentemente, quem teve relação com ele deve estar (com receio). Eu tinha uma relação institucional com ele. Não estou preocupado", explicou.
Recentemente, Palocci trocou de advogado e contratou Adriano Brettas, que já negociou outras colaborações em delação premiada no âmbito da Lava Jato.
Os investigadores acreditam que Palocci possa confirmar informações já fornecidas por funcionários e ex-funcionários da construtora Odebrecht e, principalmente, pelo casal João Santana e Monica Moura, ex-marqueteiros do PT, de Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula
Para Wagner, a delação dos marqueteiros "é uma coisa deprimente". Ele reclamou que, em relação ao ex-presidente Lula, "as pessoas estão sempre fazendo ilações".
Ciro Gomes x Lula
Wagner, contudo, diz que Lula não estava disposto disputar mais uma eleição presidencial até o impeachment e os desdobramentos mais recentes da Lava Jato.
"Acho que ele não estava se preparando para ser candidato de novo. Depois de o impeachment, depois dessa coisa toda, depois dessa demonização que fazem em cima dele. Alguém que não tem conta no exterior, não tem joias...".
Questionado sobre a declaração de o ex-governador Ciro Gomes (PDT), dada à BBC Brasil, de que Lula divide o país e é o grande responsável pela atual crise política, Wagner disse discordar.
"Para mim, quem reproduziu a raiva foi a intolerância dos que não conseguem ver filho de pobre chegar à Presidência da República e falar do jeito que ele fala. Eu acho que Lula é um grande conciliador nacional", avaliou.
Haddad de vice
Amigo do ex-presidente há 39 anos, Wagner é evasivo quando questionado se, em caso de Lula não concorrer às eleições, Ciro Gomes seria um bom nome para o PT apoiar com, por exemplo, o petista e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, como vice.
"É muita futurologia por enquanto. Tem tantas variáveis em movimento que é muito difícil pra mim ficar projetando", afirmou.
Além de não descartar a possibilidade de uma chapa Ciro-Haddad, Wagner disse ser suspeito para falar numa candidatura sem o comando do PT porque já defendeu o nome de outro partido historicamente aliado aos petistas como cabeça de chapa.
"Eu já na eleição de 2014, tentei trabalhar o Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco, que morreu durante a campanha presidencial) para não ser candidato e sair em 2018. É difícil manter coalização unida se você não der oportunidades a todos da coligação", salientou Wagner.