Uma criança parou de comer e entrou em depressão. Outra que antes conseguia andar agora pede que a mãe a carregue. E uma terceira começou a morder outras crianças.
Estas são as experiências de crianças que passaram só três semanas no Centro de Detenção de Famílias do Sul do Texas, uma instalação temporária para imigrantes em Dilley, no Estado norte-americano do Texas, disseram advogados e voluntários que trabalham no local à Reuters.
O centro de Dilley é um de somente três dos Estados Unidos criados para receber pais e filhos juntos em uma detenção para imigrantes. Algumas das pessoas que o visitaram disseram que tais casos ilustram os problemas emocionais que podem surgir quando famílias são detidas.
"Nenhuma criança ou unidade familiar com criança jamais deveria ser detida", disse Alan Shapiro, cofundador da Terra Firma, que se ocupa da saúde de crianças imigrantes. Ele disse ter visto crianças em várias instalações desenvolverem retardo no desenvolvimento e se tornarem ansiosas e retraídas.
O centro de Dilley tem salas para brincar, equipamentos de uma academia de ginástica, livros e outras distrações para proporcionar "um ambiente seguro e apropriado" para mães e crianças imigrantes, disse Amanda Gilchrist, porta-voz da empresa particular de prisões CoreCivic.
A Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), que proporciona assistência médica e de saúde mental em Dilley, disse que leva "muito a sério a saúde, segurança e bem-estar daqueles sob nossos cuidados".
Na quarta-feira o presidente dos EUA, Donald Trump, emitiu um decreto que visa acabar com a polêmica diretriz de separar pais e filhos flagrados entrando no país ilegalmente. Segundo o decreto, que deve ser questionado nos tribunais, agora as famílias serão detidas juntas durante os trâmites de seus processos criminais e imigratórios - estes últimos podem demorar meses ou até anos para serem finalizados.
Deter famílias indefinidamente pode criar um pesadelo logístico para o governo Trump. Atualmente as famílias de imigrantes estão abrigadas em instalações na Pensilvânia e no Texas que têm uma lotação total de cerca de 3.300 camas e estão com uma ocupação de 79 por cento, de acordo com a ICE.
Levando em conta o número de famílias cruzando a fronteira ilegalmente, o governo ficará sem leitos rapidamente nestas instalações, as únicas do país em condições de abrigar famílias. No mês passado a Patrulha de Fronteira prendeu mais de 9.400 familiares que atravessavam a divisa sul sem permissão.