Por que indiciamento de Trump é má notícia para rivais republicanos

O ex-presidente costuma ficar mais forte quando está sob ataque — e isso é um problema para seus concorrentes republicanos.

16 jun 2023 - 17h57
(atualizado às 18h45)
Donald Trump
Donald Trump
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As novas acusações contra o ex-presidente americano Donald Trump foram apresentadas na terça-feira (13/06) — em uma corte federal em Miami, na Flórida, e no chamado tribunal da opinião pública.

Dentro do tribunal em Miami, Trump e sua equipe jurídica foram avaliados. Um dos seus advogados disse ao juiz que o ex-presidente estava se declarando inocente de todas as 37 acusações relacionadas ao suposto uso indevido de segredos de Estado dos EUA.

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Houve algumas discussões sobre que tipo de contato Trump poderia ter com testemunhas em potencial, antes de ele ser liberado sem quaisquer restrições em matéria de viagens.

Do lado de fora do tribunal e nas redes sociais, o cenário era bem diferente.

Ao longo do dia, o ex-presidente fez postagens em sua plataforma Truth Social — ele insultou o procurador especial Jack Smith e questionou por que ele não estava investigando supostos crimes cometidos pelos democratas.

"Um dos dias mais tristes da história do nosso país", ele escreveu. "Somos uma nação em declínio!!!"

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Essa é a retórica padrão de Trump, que tende a lançar seus ataques mais ferozes quando se sente mais ameaçado.

A outra mensagem que Trump enviou após a audiência foi uma mensagem política mais sutil, embora entregue com o típico exibicionismo trumpiano.

A comitiva dele parou no Versailles Restaurant, uma cafeteria e padaria cubana popular entre turistas e moradores do bairro Little Havana, principal centro político e cultural da comunidade cubana de Miami. Enquanto estava lá, ele apertou as mãos de frequentadores, tirou fotos e fez breves comentários, enquanto clientes cantavam uma versão de Parabéns pra você para o ex-presidente.

Parecia um evento típico de um político em campanha em um Estado-chave. Foi um sinal visível de que, para Trump, sua candidatura para disputar a Casa Branca em 2024 está avançando, e que se danem as acusações.

Republicanos

Essa não é exatamente uma boa notícia para os adversários republicanos de Trump na corrida presidencial, que têm lidado com o desafio de como responder ao indiciamento.

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Alguns, como os ex-governadores Chris Christie e Asa Hutchinson, partiram para o ataque, criticando a conduta do ex-presidente e pedindo que ele encerrasse sua campanha.

Já o governador da Flórida, Ron DeSantis, o candidato mais próximo de Trump nas pesquisas, dirigiu seu ataque aos promotores federais. Talvez isso signifique que DeSantis está sendo particularmente cauteloso no que se refere a irritar os partidários de Trump, que as pesquisas mostram frequentemente vê-lo como sua segunda opção.

O ex-vice-presidente Mike Pence e a embaixadora do então governo Trump na ONU, Nikki Haley, ficaram "em cima do muro", tentando caminhar sobre uma linha tênue entre criticar seu rival republicano e não provocar a ira de seus apoiadores.

Às vezes, pode parecer mais "cambalear" do que "caminhar".

Na semana passada, Haley disse que o indiciamento "não é como a justiça deve ser feita em nosso país". Na segunda-feira (12/6), ela criticou Trump por ser "incrivelmente imprudente" em relação à segurança nacional dos EUA. Na terça (13/6), manteve essa observação, mas seguiu adiante dizendo que estaria "inclinada" a perdoar Trump se ela se tornasse presidente.

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"Seria terrível para o país ter um ex-presidente preso por anos por causa de um caso de documentos", ela afirmou.

Tudo isso se torna mais complicado à medida que muitos políticos republicanos parecem estar entrando em modo de guerra (política).

"Não vamos tolerar isso", declarou o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, sobre o indiciamento. Os republicanos na Casa estão prometendo uma investigação agressiva sobre a forma como o Departamento de Justiça está lidando com o caso.

O senador JD Vance, de Ohio, prometeu retardar a confirmação de três dos indicados do presidente Joe Biden para o Departamento de Justiça, ameaçando "paralisar seu departamento".

Nikki Haley mudou de tom e criticou Trump de forma muito mais direta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Se o indiciamento de Trump for tratado como um "embate" entre Biden e republicanos, os rivais internos do ex-presidente terão dificuldades para atacá-lo.

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Tudo isso pode obscurecer qual é o verdadeiro mistério no cerne deste novo indiciamento e qual poderia ser a maior fraqueza de Trump neste caso.

No primeiro indiciamento de Trump, em Nova York, o motivo parece claro. Quem não gostaria de evitar que uma denúncia constrangedora de um caso de adultério com uma estrela de filme pornô viesse à tona pouco antes do dia da eleição? As acusações de crimes de fraude empresarial, no entanto, envolvem o que especialistas jurídicos veem como uma interpretação incomum da lei estadual.

No caso federal, os crimes são simples. Trump é acusado de manipular informações sigilosas do governo, obstruir uma investigação federal e mentir para investigadores federais. É o motivo que ainda não está claro.

Por que Trump não entregou todos os documentos confidenciais quando o governo pediu? Por que ele lutou contra os investigadores, quando a cooperação poderia ter encerrado a investigação?

Os concorrentes de Trump podem tentar fazer com que ele responda a essas perguntas — e fazer isso de uma forma que convença os eleitores republicanos de que ele não merece ser o indicado do partido para disputar a Casa Branca.

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Para vencer, eles podem ter que fazer o ex-presidente se explicar.

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